O Cigarro e a Cervejinha

Drogas que são aceitas

Assim, no diminutivo, até que esses dois 'personagens' parecem simpáticos, não? Afinal, que mal há num adolescente "marcar presença" rolando nos dedos cinematograficamente um cigarro de Bali, moda do verão carioca? E que mal há em se tomar uma inocente 'loirinha' conversando com a galera? Que mal há?

Por Caco Xavier

Metade dos estudantes de 10 a 12 anos das dez principais capitais brasileiras já provou alguma espécie de bebida alcoólica. Onze por cento deles (em algumas capitais essa porcentagem chega a 16,8) já experimentaram o fumo. Estes números, extraídos do 4o Levantamento sobre o Uso de Drogas entre Estudantes de Primeiro e Segundo Graus, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), de São Paulo, são muito mais elevados que os das outras categorias de drogas pesquisadas, como solventes, cocaína, maconha e ansiolíticos. Mas os olhos da sociedade estão fixos nas chamadas drogas ilícitas.

Um dado importante do levantamento é a revelação de que existe um aumento significativo do uso freqüente (seis vezes ou mais no mês) do álcool e do tabaco entre estudantes: enquanto a soma das porcentagens relativas ao uso de todos os demais tipos de drogas fica na faixa de 7,5%, somente o álcool bate 15%. Isso quer dizer, simplesmente, que 15% dos estudantes de primeiro e segundo grau do País fazem uso freqüente de bebida alcoólica. O tabaco é usado habitualmente por 6,2% dos estudantes.

 

  O que preocupa, mais do que as porcentagens em si, é a constatação de que os índices de uso freqüente e pesado (mais de 20 vezes ao mês) estão crescendo aceleradamente e, por outro lado, crianças e adolescentes estão tendo o primeiro contato com drogas cada vez mais cedo. Por causa disto, o professor José Carlos Galduroz, do Cebrid, afirma que os programas de prevenção devem ser iniciados visando a atingir a faixa etária dos dez anos de idade. Segundo ele, uma grande falha nas campanhas de prevenção, no Brasil, é que nem sempre tratam a bebida e o fumo como drogas, o que ambos são. "Se queremos realmente fazer um trabalho sério, devemos ser bem claros quanto às conseqüências do uso do álcool e do tabaco", diz Galduroz.

Outro estudo sobre o mesmo tema, realizado no Rio de Janeiro, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), apresentou resultados semelhantes: a idade média do primeiro contato ficou em torno dos 12 anos e meio, tanto no que diz respeito ao álcool quanto ao fumo. Segundo a pesquisa, 77,7% dos estudantes já experimentaram bebida pelo menos uma vez na vida, e 34,9% já fizeram uso do tabaco. Para Zélia Caldeira, coordenadora do Nepad, há, em nossa cultura, uma 'banalização' do álcool, agravada pela hipocrisia da sociedade, que é muito prejudicial ao desenvolvimento da consciência crítica nos adolescentes. "De que maneira um adolescente pode levar a sério uma campanha de prevenção se ele vê o mundo inteiro à sua volta bebendo e fumando?", pergunta ela.

Que mal há?
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Entrevista

 

 
Serviço

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e 587-7163