Adolescentes: A Hora Fatídica da Iniciação Sexual

Em 1993, a Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil (BEMFAM), uma das mais importantes organizações não-governamentais na área de prevenção a DSTs/Aids do País, lançou um projeto-piloto em duas escolas de primeiro e segundo graus do Nordeste. O objetivo era contribuir para a redução da incidência de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e da gravidez precoce não-desejada entre adolescentes.

Experiente em ações deste tipo entre adultos, a BEMFAM iniciou o trabalho aplicando questionários nas escolas para aferir conhecimentos, isto é, avaliar o que os estudantes junto aos quais iriam implementar o Programa de Educação Sexual já sabiam sobre o assunto. A análise dos questionários mostrou um desconhecimento quase total a respeito do próprio corpo por parte dos jovens, e também muita dificuldade em falar sobre sexualidade, tanto em casa quanto na escola. A partir daí, os técnicos envolvidos no projeto perceberam que o ideal seria, como se diz, "começar pelo começo".

De lá pra cá, o projeto cresceu muito: segundo Elizabeth Ferraz, demógrafa e coordenadora do Programa, hoje são 13 as escolas participantes, havendo três no Rio de Janeiro (nos bairros do Méier, da Tijuca e do Engenho da Rainha) e o restante em estados do Nordeste. Mais de 600 professores já participaram do projeto, através de treinamentos ou outras atividades, e mais de 400 alunos foram treinados como "multiplicadores". O número total de alunos que participaram das aulas regulares, nestes 6 anos, chega a 13.500.

"O primeiro passo é treinar os professores interessados, de qualquer matéria, para só então começar o trabalho com os adolescentes", diz Inês Quental, socióloga e uma das elaboradoras do Programa. É um treinamento "puxado", de 40 horas, em que os professores, segundo Inês, são levados, inclusive, a repensar seus próprios conceitos acerca da sexualidade. A partir daí, inicia-se o contato com estudantes que se tornarão "multiplicadores". Com o auxílio dos professores e da direção das escolas, são realizadas diversas atividades esportivas e culturais, muitas vezes peças teatrais, jogos e gincanas criados pelos próprios alunos para promover o debate e ampliar os conhecimentos sobre sexualidade e práticas sexuais seguras.

Para instrumentalizar os professores que participam dos treinamentos, a BEMFAM criou o Manual de Apoio a Educadores, sobre prevenção de DSTs/Aids. O manual também apresenta um capítulo sobre "Métodos e Técnicas de Ensino e Aprendizagem", contendo várias "dicas" sobre a difícil tarefa de transmitir os ensinamentos recebidos aos estudantes. Por fim, ainda há outro capítulo indicando uma excelente bibliografia e vídeos para o professor que queira - ou precise - se aprofundar no assunto.

  Segundo Inês, não foram notadas diferenças significativas entre as escolas do Rio e do Nordeste, no que se refere ao conhecimento (melhor seria dizer desconhecimento) do próprio corpo e da sexualidade. A dificuldade de falar no assunto é geral. "O engraçado é que os alunos sempre começam a abordá-lo dizendo que "se preocupam em dar prazer ao parceiro", mas a maioria não conhece nem o próprio aparelho genital", diz a socióloga. À medida que o programa avança e as atividades têm continuidade, as perguntas e dúvidas começam a surgir com a mesma intensidade. Um dos mais valiosos instrumentos de que a BEMFAM dispõe para o trabalho de orientação sexual é uma revista em quadrinhos especialmente criada para este fim, na qual uma turma de meninos e meninas se vê às voltas com a iniciação sexual. O gibi, além de informações sobre prevenção contra Aids e outras DSTs, ainda orienta quem está começando a pensar em se relacionar sexualmente:

 

Os resultados, até agora, revelaram-se muito superiores às expectativas, embora, como acontece em qualquer programa de porte, ainda haja muito a aprender e a ajustar. Inês destaca vários pontos positivos:

"Houve uma assimilação bem satisfatória doa alunos quanto à sexualidade e à prevenção contra DST/Aids. Os estudantes perceberam que havia espaço para falarem e serem ouvidos, e só isso já criou um ambiente propício para a liberação de muitas tensões" - explica ela.

Além destes objetivos cumpridos, o programa trouxe ainda às escolas alguns "ganhos indiretos", segundo a socióloga. Um dos mais inesperados - e festejados - foi a constatação, por parte da direção das escolas, de um significativo aumento da disciplina na escola. "Houve uma diminuição da ansiedade natural do adolescente referente ao sexo, e isto certamente influenciou o seu comportamento, de um modo geral", explica Inês. Outros resultados positivos apontados por ela foram a comunicação entre alunos e professores sensivelmente melhorada, assim como o relacionamento destes jovens com suas famílias. "Mas a mais importante contribuição do programa, sem dúvida alguma, foi outra: "o programa acabou com mitos e preconceitos relativos à sexualidade, capacitando os alunos a encarar o sexo e o próprio corpo com responsabilidade", finaliza Inês.

 

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SERVIÇO

Lílian Guimarães
Grupo Faria Brito - Oficina da Criança
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Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil - BEMFAM
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