Formar alunos para a cidadania é o principal objetivo dos PCNs. Daí a necessidade de se introduzir nas aulas questões como Ética, Pluralidade Cultural, Meio ambiente, Saúde e Orientação Sexual, que compõem os Temas Transversais. A inovação está na maneira como eles devem ser abordados em sala de aula. Os temas não formam uma nova matéria. Não haverá um curso específico sobre o meio ambiente, por exemplo. Estas questões serão incorporadas nas disciplinas já existentes, “atravessando” as aulas de Português, Geografia, Ciências, História, Matemática, Arte e Educação Física. Para formar cidadãos é preciso uma Educação que atinja as atitudes da criança para que ela possa participar da realidade e transformá-la. Por isso, as crianças terão de participar de situações que as levem a ter uma vida saudável, a preservar o meio ambiente e a se relacionar adequadamente com os outros.

O professor terá de ousar na maneira de ensinar e estar sempre bem-informado. Trabalhar com atitudes também requer que os Temas Transversais sejam trabalhados a partir da realidade dos alunos. As atitudes de diretores e professores são fundamentais. É fundamental haver uma correspondência entre o que é ensinado e a realidade vivida na escola. Não adianta falar de ética e não ser democrático com os alunos. Afinal, trata-se de oferecer à criança a visão de que as atitudes previstas nos temas são viáveis, criando possibilidades concretas para que se possa praticá-las.

Ética

A ética – conjunto de princípios e padrões de conduta – é construída ao longo da nossa experiência na vida. A sociedade é que educa moralmente. Por isso a ética pode ser ensinada nas escolas, onde as crianças aprendem valores e regras por meios de professores, livros e formas de avaliação. Até então, esta Educação era feita indiretamente, e com os PCNs tornou-se explícita. A ética, na verdade, está presente nos demais Temas Transversais. O princípio da dignidade humana será a base do aprendizado. A partir deste princípio, os PCNs sugerem que as aulas explorem quatro itens importantes: respeito mútuo, justiça, diálogo e solidariedade.

Meio Ambiente

O trabalho com questões ligadas ao meio ambiente não chega a ser uma novidade. Sua importância foi reconhecida na Eco 92, conferência internacional realizada no Rio de Janeiro, há seis anos. A constituição também prevê a inclusão da Educação Ambiental nas escolas governamentais. A proposta dos PCNs é enfatizar que o homem é a parte integrante da natureza e depende dela. Daí a necessidade de se conhecer, valorizar e preservar o meio ambiente, entendendo os seus mecanismos de transformação e reciclagem e como as ações do homem podem comprometer a vida em nosso planeta.

 

Saúde

A proposta dos PCNs é tratar a saúde como um direito universal. A abordagem deve ser realizada numa perspectiva individual – em que as crianças aprendam o funcionamento do corpo humano, os cuidados com a higiene pessoal e com a alimentação para a promoção da saúde – e na vida coletiva, que remete a assuntos como condições de saneamento da comunidade, doenças transmissíveis e consumo de drogas. Atuar em parceria com profissionais de saúde da comunidade pode proporcionar bons resultados. Existem muitas formas de estimular a criança a ter atitudes saudáveis. Uma forma criativa de tratar a questão é propor uma aula de culinária em que todos participem e aprendam sobre os valores nutritivos dos alimentos.

Pluralidade Cultural

Somos um país com influência das culturas indígena, africana e européia. Nossa realidade apresenta várias faces: a urbana, a caiçara, a ribeirinha, a sertaneja... Mas estas culturas são desconhecidas de boa parte da população e, ao longo da nossa história, existem preconceitos e discriminações nem sempre assumidos e explicitados. Os PCNs propõem que a diversidade de etnias e culturas seja tratada como uma riqueza, já que ela é a base da democracia. Os alunos devem ser levados a ter atitudes que respeitem e valorizem estas diferenças. A própria escola é um reflexo disso, com alunos, professores e diretores que possuem origens distintas.

Orientação Sexual

Quem pensa que sexo não é assunto para ser conversado com crianças está desatualizado. Bombardeadas pelos apelos sexuais dos meios de comunicação, as crianças trocaram as cantigas de roda pelas doenças sexuais de auditório. A escola não pode ficar alheia a esta realidade. O aparecimento da Aids também impõe a necessidade de abordar a sexualidade na sala de aula. Os PCNs orientam que o aluno conheça o corpo humano, não apenas do ponto de vista da anatomia, mas ressalta que ele convive com sentimentos e emoções. O questionamento da relação entre homens e mulheres, a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e o combate à discriminação a portadores do vírus HIV são outros assuntos sugeridos pelos PCNs.

Matéria cedida pela Revista Viver e Aprender – edição especial comemorativa aos 84 anos da Editora Saraiva.

Construindo Cidadãos