Combinar medicamentos entre si ou com certos alimentos pode causar graves efeitos colaterais

Responda com sinceridade: você costuma perguntar ao médico se pode usar outro medicamento além do que lhe foi indicado? Se pode tomar bebidas alcóolicas enquanto estiver em tratamento? Se existem alimentos que você deve evitar? Não? Pois deveria perguntar. Alimentos aparentemente inofensivos, como queijo ou espinafre, e remédios como um simples analgésico podem causar terríveis efeitos colaterais se misturados com certos medicamentos.

A lista de combinações perigosas é extensa (ver quadro). Antiinflamatórios não-esteroidais, como Cataflan e Voltaren, por exemplo, podem provocar hemorragias gastrintestinais e aumentar o risco de irritação estomacal, se ingeridos com álcool ou frutas cítricas. Vasodilatadores como o Nitrostat, indicado para relaxar veias e artérias e reduzir o esforço do coração, podem ter seu efeito neutralizado quando consumidos junto com sal. “Muitos remédios e alimentos têm o poder de potencializar ou bloquear o efeito de alguns medicamentos, e isso quase nunca é bom para o paciente”, explica o farmacêutico Cleber Cunha da Silva, membro do Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de Medicamentos.

Segundo o especialista, qualquer interferência na função do medicamento é grave, mesmo quando a combinação resulta apenas na diminuição de seu efeito. “Um tranqüilizante com a ação reduzida, em vez de acalmar, pode causar nervosismo e hiperatividade no paciente, o que termina por comprometer todo o tratamento”, exemplifica.

Entre as substâncias que costumam interferir na ação de um remédio, o álcool é uma das que representam maior perigo. Dependendo do medicamento com o qual interage, pode provocar aumento ou inibição do efeito esperado e até mesmo uma reação tóxica adversa. Misturado com tranqüilizantes, pode diminuir drasticamente a performance mental e motora. Consumido com alguns antiparasitários ou antifúngicos, é capaz de levar a desmaios e convulsões.

As interações de bebidas alcoólicas com remédios, destes com alimentos ou de medicamentos entre si variam de acordo com as condições específicas de cada um. Constituição genética, estado patológico e estilo de vida estão entre os fatores que fazem diferença. Quem fuma, por exemplo, tem muito mais chance de alterar a resposta terapêutica de certos medicamentos, como a Prometazina (indicada para enjôos), do que aqueles que não cultivam o hábito. A idade também influi. “Crianças e idosos são mais suscetíveis”, garante Cleber Cunha da Silva. “Principalmente os últimos, que costumam tomar vários remédios ao mesmo tempo”.

Na maioria das vezes, é fácil perceber quando uma mistura não cai bem. Em pouco tempo, surgem dores de cabeça, náusea, queda de pressão e dores de estômago – ou mesmo falta de ar e taquicardia, se a pessoa tiver tendência a problemas do coração. Mas, para ter certeza de que essas alterações estão relacionadas com o medicamento indicado, o melhor é procurar um médico. “Todo efeito adverso que ocorrer durante a utilização de um remédio deve ser comunicado ao próprio médico que o receitou”, aconselha Giane Santana Oliveira, coordenadora-executiva da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos. “Ele é a pessoa mais indicada para diagnosticar corretamente o problema e encaminhar a melhor solução”.

Combinações que são um Perigo