Por Andréia Brilhante

Desde a sua fundação, em 1854, o Instituto Benjamin Constant, na Urca, trabalha com milhares de deficientes visuais, através de atividades pedagógicas, propiciando-lhes a realização de tarefas cotidianas e a inserção na sociedade.

No local, há classes de estimulação precoce, curso de reabilitação, do Jardim de Infância à 8a série do Ensino Fundamental, e atividades comunitárias como o serviço de prevenção à cegueira, responsável pela realização de cirurgias de catarata e glaucoma, gratuitamente, no centro cirúrgico avançado do Instituto.

A estimulação precoce atende crianças cegas e de visão reduzida com idade de 0 a 3 anos, e é realizada por uma equipe multidisciplinar que conta com professores especializados em deficiência visual, psicólogos, fonoaudiólogos, assistente social, pediatra e oftalmologista. O objetivo é desenvolver as percepções auditivas, táteis, olfativas e gustativas do deficiente. Ele aprende, por exemplo, a distinguir sons ouvindo o toque de instrumentos musicais ou o barulho de um carro. Já para desenvolver o tato, os educadores utilizam materiais multissensoriais, tais como lixas, objetos plásticos e brinquedos que devem ser apalpados.

Posicionado próximo a alimentos e objetos que exalem perfume ou mau cheiro, o deficiente aprende a reconhecer diversos odores. E, por último, sua percepção gustativa é desenvolvida quando, à medida que mastiga, tem que dizer o que está comendo. Os pais complementam a educação sensorial dos filhos, orientados para tanto, no Instituto.

Jardim de infância

Correndo, pulando, dançando, mexendo com areia, água e argila. É assim que crianças de 4 a 6 anos, do Jardim de Infância, percebem o espaço que lhes rodeia, aprendem a enfrentar suas limitações sensoriais e compreendem as regras de convívio social. Cada atividade é traçada com base na expressão espontânea da criança, de acordo com seu estágio de desenvolvimento.

Classes de alfabetização

No CA, os educadores estimulam, principalmente, a manipulação de material concreto, para a criança aprender a discriminar forma, tamanho, peso e textura. A alfabetização é realizada através da leitura e da escrita pelo Sistema Braille. São utilizadas máquinas Braille (Perkins Brailler) ou reglete e punção. Nesse período escolar, os alunos são divididos em turmas de crianças cegas e de visão reduzida. Um dos trabalhos mais importantes do Instituto é a transcrição de livros para o Sistema Braille, que são distribuídos para todo o Brasil. “Geralmente, são livros adotados na rede pública. Também fazemos textos ampliados para pessoas com visão reduzida”, disse o professor aposentado de História e assessor da Direção-Geral do Instituto Benjamin Constant, João Delduck.

Ensino de 1a à 8a série

As disciplinas da grade curricular do ensino de 1a à 8a série são as mesmas do ensino não-especializado. Mas as turmas realizam atividades específicas nas áreas de orientação e mobilidade, além de aprender datilografia, computação e assinatura do nome.

O atendimento aos alunos do Jardim de Infância à 8a série é em horário integral. Quarenta por cento deles são internos devido a dificuldades econômicas, deixando o Instituto somente nos finais de semana.

Todos os alunos têm direito à prática de esportes no Instituto. Com este fim, utilizam duas piscinas, quadra poliesportiva, instalações para aula de judô, aparelhagem de musculação, salão de ginástica e de goalball (atividade esportiva específica para atletas portadores de deficiência visual, praticada com uma bola sonora), pista de atletismo e campo de futebol.

A música

O ensino musical existe desde o Jardim de Infância. A música faz com que a criança se expresse de acordo com seu esquema corporal e sua relação com o espaço e o tempo. O aprendizado amplia e aperfeiçoa suas experiências sensoriais afetivas e cognitivas.

Curso de especialização para professores

O Instituto Benjamin Constant dispõe de curso de especialização para professores na área de Deficiência Visual. Eles aprendem a lidar com estimulação precoce, Psicomotricidade, Jardim de Infância, Classes de Alfabetização e turmas até a 8a série do Ensino Fundamental. O curso é pago, tem seiscentas horas de duração e é realizado de agosto a dezembro. Geralmente, abrem-se 25 vagas. Para concorrer a uma delas, participando do exame de seleção, o professor deve apresentar um documento do estabelecimento de ensino onde trabalha, em que a instituição se comprometa a aproveitar os serviços do professor depois do curso, na área de deficiência visual, na própria escola por, pelo menos, dois anos. O candidato precisa ter formação na área de Educação, que deve compreender pelo menos o Ensino Médio completo.

Aprendendo a Conviver com a Deficiência Visual