DE VOLTA, COM ALGUMAS IDÉIAS NA MALA...

Rona Hanning

Vou começar informando, aos leitores, que não pude participar do último número deste jornal por estar preparando uma oficina a ser realizada na Paraíba, pelo Proler – Programa de Incentivo à Leitura. Como às vezes costumo fazer, aproveitarei a viagem feita para propor algumas reflexões, pensar sobre as nossas práticas de leitura, e, ainda, os espaços que reservamos para que a leitura de obras literárias esteja em nossa vida e não apenas faça parte de alguns momentos raros de uns poucos privilegiados.

Encontrei, em João Pessoa, um projeto que busca ampliar os espaços de leitura, pela realização, nos estacionamentos da cidade, de uma coleta de livros (doação) a serem entregues nas escolas públicas, para a formação de bibliotecas. A idéia cabe exatamente ao dono dos estacionamentos, que, ao montar novas bibliotecas, dá-lhes o nome de alguém da cidade, ainda vivo, que se disponha a participar do projeto como parceiro. Assim, como num tecer da rede, a cidade vai se envolvendo em uma política de leitura.

Desta forma, amplia-se a importância dos espaços coletivos, atribuindo-se um papel social a eles, que, muitas vezes, não são percebidos como possíveis aglutinadores e propiciadores de mudanças. Mas projetos como este podem nos ajudar a entender o processo de mudanças como algo próximo a todos.

Também observei a busca por mudanças em Campina Grande, na Paraíba, onde pessoas, em diferentes grupos (crianças, jovens e adultos), realizam trabalhos voltados para a conquista da leitura literária. Vi gente que acredita na Literatura como percurso para uma vida mais humana, em que haja maior reflexão sobre o indivíduo e o coletivo, o que resulta em uma participação social mais ativa e transformadora.

Na cidade, encontrei um trabalho de construção de livros de pano que, há tempos, vem sendo realizado, tanto com crianças, nas escolas de Educação Infantil, quanto com adultos, em cursos de Formação de Professores e universidades, sob a coordenação de uma professora. Não se trata de qualquer professora, mas de uma apaixonada pela Literatura que encontrou nesta arte uma forma de dialogar com os pequenos e os grandes. Na formação de professores, a proposta é que eles construam um livro de pano para poderem entender a importância afetiva que tem não só a produção, mas também a criação de um material que tem cheiro, cor, temperatura específica, mas que pode ser moldado e combinado conforme nossa imaginação permite. É um material que, diferentemente do papel e do plástico, impregna-se do sujeito que o manipula.

Com base na experiência, os professores dimensionam a grandeza do trabalho, sensibilizam-se com o material e dão continuidade à proposta em suas turmas, fazendo com que, na cidade, vivencie-se a educação pela arte.

Tanto em Jõao Pessoa quanto em Campina Grande, pude perceber que pessoas movem-se em direção à Literatura e, ainda que sejam algumas, envolvidas em “pequenos” projetos, realizam, numa busca incessante, movimentos de mudança que, como uma rede de pesca, quando jogada ao mar, trazem muitos peixes...

Lancemo-nos então ao mar, porque, nele, o movimento é imprescindível!

Ronahann@uol.com.br

Era uma vez...Uma relação de amor: O livro e eu