Uma relação de amor: O livro e eu

Beatriz Dusi

No mês de outubro, festejamos o dia da criança e o do professor. Por isto, quero apresentar-lhes duas pessoas que estão engajadas no bem-estar das crianças: a professora Anna Claudia Ramos e a psicóloga Simone Sabino.

A profissional Anna Claudia, além de trabalhar com crianças, jovens e adultos, em oficinas de criação literária e histórias infantis e juvenis, dentre outras, na Estação de Letras (RJ), participa, como especialista, dos projetos de incentivo à leitura Leia Brasil, da Petrobrás; Proler, da Casa da Leitura/ Fundação do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ); e Ateliê do Artista, de O Dia/ Empresa de Marketing Cultural/ FNLIJ. É, também, membro da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil e autora laureada da Literatura infanto-juvenil.

Iniciou a carreira de autora sendo finalista do prêmio Autor-Revelação da FNLIJ/92, graças ao livro “Prá onde vão os dias que passam?”, da Editora Ao Livro Técnico, selecionado para o projeto Ateliê do Artista/97. Pela mesma editora, lançou a coleção “Histórias que o povo conta”; “A mula-sem-cabeça” (selecionada para o Catálogo da Feira de Bolonha/99, para o projeto Ateliê do Artista/98 e para o Acervo Básico da FNLIJ/98) e “O caboclinho d’agua”. Ainda pela mesma editora, foram lançados “É hora, é hora!” e “Sempre por perto” (selecionado para o Acervo Básico FNLIJ/99), estando ainda no prelo “Receita para pegar Saci” e “Não é bem assim a história”.

Recebeu, da União Brasileira de Escritores (UBE), o Prêmio Adolfo Aizem de melhor livro, na categoria pré-escolar, devido à Coleção 4 Elementos – “Prá que serve a água?”; “Prá que serve a terra?”; “Prá que serve o fogo?”; “Prá que serve o ar?” e obteve, da FNLIJ, o prêmio Altamente Recomendável Informativo, além de ter sido selecionada para participar do Catálogo da Feira de Bolonha/98, lançado pela Editora Dimensão.

Com “Apenas diferente”, editado pela Formato, recebeu a Menção Especial do Prêmio Luis Jardim, da UBE, sendo o livro selecionado, ainda, para o Catálogo da Feira de Bolonha/2000 e para o Acervo Básico da FNLIJ/99. Lançou, agora em 2000, também pela Formato, a Coleção “Todo mundo tem – Casa/ Medo/ Família/ Amigo”. E é sobre ela o meu comentário.

Todo mundo tem um amigo. Com esta afirmação, a autora nos fala de alguns tipos de amizade. Você acha que tudo já foi dito a respeito? De forma alguma. Anna Claudia consegue falar, com tal habilidade e de modo tão especial, de alguns tipos de amigo – da onça, do peito, etc. – que, ao ler o livro, temos vontade de ser amigos da autora. E, também, de reavaliar o que julgamos ser amizade. Crianças, jovens e adultos vão gostar muito (tenho certeza) do livro, mas cada um fará um tipo de leitura e receberá a mensagem de acordo com seus sentimentos. É um livro com pouco texto, mas diz tudo que é necessário. E, como explica a autora sobre a coleção, “... todos os 4 têm a mesma orientação – apresentar um tema na diversidade, sem tecer juízo de valores...”

As ilustrações de Ana Raquel brincam com o texto, com traços divertidos e cheios de vitalidade, como a autora, e se derramam pelas páginas, invadindo a mancha gráfica num intercâmbio altamente sensorial. O diálogo entre o desenho e a palavra estão presentes de forma bem harmoniosa. Há, ainda, um encarte – “Dominó dos amigos” – que, por certo, fará sucesso entre os leitores.

Os outros livros da coleção seguem a mesma linha e o mesmo padrão de qualidade, prendendo a atenção dos leitores e fornecendo-lhes momentos de lazer, prazer e boa leitura.

A outra profissional cujo trabalho quero mencionar é a psicóloga Simone Coutinho Sabino. Terapeuta corporal de linha reichiana, ela atua na área clínica, atendendo crianças, adolescentes e adultos. Apóia empresas, por meio do trabalho que realiza na TSM Recursos Humanos (especializada em treinamento, seleção e motivação de empresários e colaboradores). Ministra cursos e palestras para profissionais da área de Educação, interessados na missão de educar, que buscam seu próprio aprimoramento e crescimento como pessoas e profissionais.

 

 

Autora de livros para crianças e adolescentes, cria textos que têm como objetivo trabalhar, intensamente, emoções e sentimentos. Esta abordagem é parte integrante do seu universo profissional. Simone, em seus livros e palestras, apresenta uma proposta inovadora na Literatura juvenil – dar voz ativa ao adolescente, fazendo com que ele expresse sua raiva, sua agressividade, sem medos e culpas. Vejamos seus livros.

“Adolescer é aborrecer?” é uma abordagem sobre a raiva e a agressividade que traz ilustrações de Luiz Rodrigues, da Editora Paulistas (Coleção Adolescer). Para quem tem medo de dialogar com adolescentes, sejam eles filhos, irmãos, sobrinhos, alunos, eis a solução. A autora garante um bom suporte aos adultos para que conheçam e entendam melhor o adolescente/ aborrecente, ajudando-o a administrar emoções/ sentimentos e apoiando-o em seu desenvolvimento como ser humano. Raiva e agressividade podem e devem ser bem administradas. Leia e confira.

A coleção Sentimento, que inclui “Tô pê da vida”, “Quando alguém vai” e “Esse bicho-papão do medo”, ilustrada por Andréa Senra e lançada pela Editora Ave-Maria, é outra boa pedida, por várias razões. Quem não sentiu muita raiva, raiva mesmo, que nem dava para disfarçar? E a falta que faz alguém que morreu? A saudade dói demais! E nossos medos internos e externos? Alguém escapou? Parabéns! Mas não é isto que acontece com a maioria das pessoas, principalmente as crianças, que não sabem como lidar com estes “tropeços” na vida. Por tudo isto, com muito jeito, a autora dá apoio ao leitor e lhe ensina como enfrentá-los. É este o objetivo desta coleção: falar às crianças, com toda a franqueza, sobre emoções e sentimentos nem sempre explicados convenientemente pelos adultos.

Em “Esse bicho-papão do medo”, a autora sugere ao leitor o efrentamento do medo – “este sentimento paralisante, que dá falta de ar, aperto na garganta, dá tremedeira, dá dor de barriga” –, estimulando-o, de modo que o “inimigo” seja encarado de frente e que se faça uma avaliação de sua intensidade e seu tamanho e para aprender a lidar com ele, percebendo que vai ficando menos intenso, leve, até desaparecer. Não é nada muito fácil, mas é só saber “ver” e “trabalhar” o perigo.

No livro “Tô pê da vida”, Simone expõe a raiva como “um sentimento como outro qualquer, que precisa ser vivido como qualquer outro” e enumera desde as raivas do bebê, da criança e do adolescente até as dos adultos. Também apóia o leitor em suas manifestações raivosas, procurando entender os motivos que as provocaram.

As perdas são sempre muito dolorosas, ainda mais se envolvem pessoas ligadas a nós afetivamente. Como explicar isto à criança e ao adolescente? É o que a autora faz em “Quando alguém vai”. “A vida é assim. Um vai-e-vem. Um vai, outro vem”. Simples? Nem um pouco. Realmente, estas não são das coisas mais fáceis para se conversar a respeito, pois nós, adultos, também não estamos preparados. Simone, com muita sensibilidade e intuição, consegue nos aliviar de tão pesado fardo, em seu livro. As ilustrações de Andréa Senra são um atestado de bom gosto. Seus traços, em tons suaves sobre páginas em papel cuchê, dão um belíssimo toque de lirismo aos livros.

Para completar a coleção, estão no prelo: “Só, somente Só”; “Inveja de cá, ciúme de lá” e “E viva o prazer de viver”. Serão bem-vindos, pois os três que já lemos são muito bons.

De Volta, com Algumas Idéias na Mala...