Violência nas escolas: Por que ainda nos surpreende?

 



Beatriz, 7 anos, estudante da 1ª série de uma escola pública do subúrbio do Rio, primeira filha de um casal de pais amorosos e dedicados. Bia, como era chamada por seus pais, avós, tios e amiguinhos, foi sepultada dois dias após ter sido atingida por uma bala perdida, de um revólver calibre 38, quando brincava no pátio da escola. Sabe-se que o projétil de origem desconhecida foi impulsionado por mãos homicidas de fora da escola, possivelmente de alguém de um dos prédios vizinhos.

Não é difícil imaginar uma história assim. Pelo contrário, notícias como estas são comuns nos jornais e tornaram-se banais em nosso cotidiano.

Por que estamos sendo surpreendidos com a escalada da violência na escola? Afinal, ela é apenas uma célula do organismo social. A violência está em todo o corpo. Há violência na família, nas ruas, no trânsito, no cinema, na televisão, nos bailes... E por que não haveria na escola? Estaria ela fora do contexto social? De quem é a culpa? Ou seria melhor perguntar quais são as causas? Causas ou culpas apontadas, a verdade é que a nossa cultura foi invadida pela subcultura da violência. A Comunicação, o Marketing, a dramaturgia, a arte em geral e os enlatados hollywoodianos vendem mais os produtos que, subliminarmente, promovem a violência. Vivemos sob massificação cultural impregnada de mortes, chacinas, crimes, estupros, tráfico de drogas. Como pretendemos que as escolas que recebem nossas crianças e jovens, submetidas a este corolário sangrento, não estejam também reproduzindo as síndromes de uma sociedade enferma?

Talvez agora, quando a violência, inexoravelmente, chegou à escola, ameaçando de pertinho os nossos jovens, a sociedade como um todo comece a discutir suas causas e a perceber que da própria escola deve vir a solução para a reversão desta anomalia social. Afinal, na escola está sintetizada a "trilogia da cura". Família, fé e educação. Conjuntamente, tais organismos podem produzir os antígenos contra a violência. A família, resistindo à violência difundida e mantendo-se agregada, cobrindo seus membros com amor, refratário a todo mal. A fé, como difusora dos valores fraternos e altruístas. A Educação, investigando as vocações humanas e exterminan-do ignorância, preconceitos, diferenças e exclusões.

Tais elementos são essenciais no dia-a-dia escolar. A escola que já tivemos um dia, fraterna e humanizada, é a que pretendemos ter novamente. Então, a violência que hoje ali adentra, ou por suas portas, ou pelo projétil que vitimou a pequena Beatriz, deve sair das salas de aulas como objeto de crítica e reflexão, ajudando a formar uma geração gentil e solidária, capaz de transformar a sociedade e curar sua agressividade.

Ednaldo de Carvalho
Editor do Jornal Educar

 

Editorial Appai