![]() Redação Criada Fora de Sala: Alternativa Original de Buscar a Inspiração Por Andreia Brilhante Com papel e caneta nas mãos, alunos sentam-se no chão, de frente para o mar ou num quiosque, observando o surfista que quer domar as ondas, o velhinho que passeia com os cachorros tomando água de coco, a garota que corre no calçadão em busca do corpo ideal ou, ainda, a conversa que dá fim ao relacionamento de um casal. O cenário nem parece o de aula de Língua Portuguesa. Mas foi o encontrado pela professora Maria Queiroz do Valle Larica para facilitar a produção dos textos de alunos que olhavam para a folha em branco e se faziam a famosa pergunta: "Como eu começo?". Fora da sala de aula, a questão foi respondida. As turmas de Maria Larica, que cursam a sétima série do Colégio Isa Prates (Pernalonga), conseguem ali a inspiração e os elementos necessários para escrever. No Arpoador, em Ipanema, pertinho da escola, os alunos constroem histórias com base nos fatos que se passam à sua frente. Fazem um rascunho. O texto pode ser narrativo, dissertativo, descritivo, ou até mesmo um poema. Nota vale também. O importante é que eles escrevam. "A criança é estimulada a imaginar situações que possam estar sendo vividas pelas pessoas dali. Eu pergunto a ela o que deve estar pensando o surfista ou a senhora triste no banco. Fora da sala, é mais fácil criar, sonhar. O aluno vê um cenário em que pode se inserir, o que estimula a imaginação. E imaginar, ler e sonhar são a base da formação integral do ser humano", diz a professora Maria Larica. O objetivo dela é formar escritores competentes, que criem textos coerentes, coesos e eficazes. Mas esta missão não é tão simples. "Se isto não é fácil nem para o adulto, imagine para a criança", avalia a professora. Mas através do método, que tem feito sucesso, muitos alunos que nem gostavam de escrever têm melhorado seu desempenho nas redações e se revelado bastante talentosos. "Beleza única/ tristeza nunca/ mar é alegria/ Mar é minha vida/ Mar sou eu/ Quando me perco de mim/ E saio viajando/ Num oceano sem fim...", diz o trecho do poema O Mar, da aluna Fernanda Araújo de Paula, da sétima série. Já Joana S. Barczinski preferiu fazer um texto descritivo, intitulado A Praia. "... É tão bom ver todos aproveitando aquela beleza: uns caminhando, outros namorando, conversando ou pensando sobre a vida... O que pensam, o que sentem... Que maravilha sentir o brilho do sol amarelo, o som dos pássaros a voar no azul e a brisa que vem do verde mar! Que paz! Só se ouve o som de coisas boas...". |
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As aulas de produção de texto não começam na praia. No primeiro bimestre, a professora leva para a sala uma extensa literatura: autores clássicos, modernos, revistas e jornais, com uma variedade de assuntos, e textos publicitários. A turma lê e discute as idéias, informalmente. "O que precede a escrita é uma leitura. Depois, vem o papo sobre o que foi lido, para, então, acontecer a produção textual. A leitura constitui a matéria-prima do ato de escrever. Escrever é ter lido antes", afirma a professora. A partir do segundo bimestre, é que os alunos começam a ir para a rua, uma vez por mês, observar os fatos e elaborar o texto. A turma adora. "A aula é muito chata lá na sala. Sair um pouco é bom, porque a gente não fica naquele tédio", diz Antonio Cerdeira Pilão, 13 anos. "Se a aula fica só na sala, vira rotina. Ninguém se interessa. Aqui na praia é diferente. Melhora o nosso rendimento", afirma Joana Barczinski, também com 13 anos. As aulas, no entanto, não precisam acontecer necessariamente na praia. Maria Larica sugere ao professor que não pode sair com a turma que use uma quadra de esportes, ou uma capela.
Tecnologia Outra preocupação da professora é estar atualizada em relação a novidades de tecnologia. Caso contrário, afirma, será "tragada" pela criança, principalmente de classe A. "O aluno tem elementos fora da escola atraentes, como computador, TV a cabo e vídeos, que levam o mundo para dentro de casa", lembra. Mas pondera que é necessário descartar a falsa noção de que, por força da tecnologia, a criança não vai mais ler. Segundo Maria Larica, o livro terá sempre o seu lugar. "O século XX nos propõe o convívio entre a imagem e a palavra. O público ainda tem fome de narrativa. O que se pode fazer com o livro não se faz com o computador. O livro é portátil, é carregado embaixo do braço. O computador não. Além disto, existe uma relação emocional entre a pessoa e o livro, e a imagem não exclui a palavra", diz. Para a professora, a aula
de Português ideal não exclui as facilidades que a tecnologia oferece,
mas também desperta no aluno o prazer de ler, oferecendo a ele ingredientes
atraentes para a construção do "bolo do saber". Faz a criança ter vontade
de ir à escola, onde desenvolverá o espírito crítico e a articulação dos
pensamentos, que serão expressos, com desembaraço, em textos escritos
e orais.
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