Semana Nacional da Ciência e Tecnologia homenageia artista

Quem disse que não podemos aprender Física através da arte? Pensando nisso, o Projeto Portinari uniu-se ao FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) na Semana Nacional da Ciência e Tecnologia para levar, de uma forma diferente e divertida, a vida e a obra do artista. Uma oportunidade exclusiva para crianças e adolescentes da rede pública do Rio, que participaram da exposição Portinari Arte e Ciência vivenciando em atividades dinâmicas os conceitos aprendidos em sala de aula.

O Espaço Cultural FINEP abriu suas portas no período de 1 a 5 de outubro para receber réplicas de 15 obras de Portinari. Além do acervo, vários kits explicavam os princípios básicos da Física, da Matemática e da Biologia. Durante a visitação, sob orientação dos monitores do projeto, os alunos foram divididos em pequenos grupos para saberem um pouco mais sobre a vida do mestre e sobre suas obras. As telas do artista foram elaboradas com utilização de processos científicos, e com as atividades práticas os alunos puderam vivenciar os métodos ou conceitos utilizados em sua confecção.

Segundo os organizadores do evento, o objetivo da exposição Portinari Arte e Ciência é descortinar a ciência presente em cada uma de suas obras, expressando de forma clara os fatos e hábitos do dia-a-dia retratados por Candido Portinari ao longo de sua vida. Para eles, ao ser trabalhado o olhar do estudante sobre uma obra de arte cria-se um vínculo criativo e lúdico e, ao ser novamente trabalhado cada acontecimento das telas em forma de experiência, o professor consegue orientá-los para novas descobertas, idéias, conceitos, métodos e tecnologias.

Na Semana Nacional da Ciência e Tecnologia da FINEP, os alunos da rede pública do Rio encontraram obras como Descobrimento, que relacionou os acontecimentos da tela com o magnetismo e as máquinas simples, onde vivenciaram em atividades práticas o princípio da utilização das roldanas como forma de facilitação do esforço em tarefas que exigiam em sua execução um grande número de pessoas.

Outra obra trabalhada foi a Lavadeiras, que levou ao conhecimento dos alunos um pouco sobre a Doença de Chagas, uma enfermidade comum na época vivida pelo artista. Nos quadros Auto-retrato e Vendedor de Passarinho, por exemplo, eles puderam observar os conceitos e aplicações do Reflexo, realizando atividades em espelhos que mostravam na prática a criação de um holograma, da duplicidade de uma imagem e a diferença entre as imagens real e virtual criadas pelos objetos refletidos.

A diretora de arte e educação do Projeto Portinari, Suely Avellar, iniciou a visita falando sobre a vida de Candinho, nome carinhoso recebido por Portinari entre amigos e familiares, fazendo perguntas aos alunos presentes e criando uma relação de interatividade e descontração para o início das atividades. Ela afirmou a importância, para as crianças de hoje, do conhecimento da história de nossos artistas, e completou dizendo que ao aprenderem mais sobre cada um deles a chama da curiosidade sempre ficará acesa. “Em um país conhecido por ter uma memória curta, ver o sorriso e o interesse de uma criança de escola pública, que pouco acesso tem a esse tipo de evento, é o melhor retorno que o Projeto Portinari pode receber. A arte faz parte da vida, e pode aprender com ela outros caminhos; isso só demonstra o quanto é importante a cultura para todos”, relatou emocionada.

Além da mostra das obras, a exposição apresentou aos alunos uma das novas atividades, o Projeto Pinceladas, que testa e realiza novas tecnologias de reconhecimento e autenticidade das obras de artes, a fim de evitar suas falsificações. A monitora Gabriela Rivas explicou as novas técnicas aos alunos, detalhando que cada pincelada é equivalente a uma impressão digital, única e intransferível. “É muito gratificante para mim, como monitora e estudante também, ver os olhinhos encantados das crianças querendo aprender mais e mais”, comentou.

Ao todo 10 escolas públicas da zona sul do Rio que fazem parte do projeto Amigos da Escola foram à exposição. Uma delas, a E. M. Desembargador Oscar Tenório, na Gávea, levou um grupo de 40 alunos e duas professoras, que observaram com atenção a todas as explicações e participaram ativamente das atividades realizadas pelos monitores. A professora Eliane Nunes Lopes salientou a importância dessas experiências extraclasse para os alunos da rede pública. Completou dizendo que, ao falarmos dessas crianças, não podemos afirmar que elas não gostam de arte; isso seria o mesmo que atestar que elas nunca gostarão, pois é algo que nunca vivenciaram. “Se elas não conhecem não podem saber se gostam ou não, e ao realizarem visitas esporádicas em exposições e espaços culturais só demonstram que a paixão pelo desconhecido leva à vontade de novas descobertas e daí a novos interesses, auxiliando mais ainda no aprendizado e motivação diária em sala de aula”, afirmou a professora.

O aluno Vinicius Santos Diniz, 14 anos, sabia na ponta da língua tudo sobre a vida do artista, e seus olhos brilhavam ao se deparar com cada tela e com a descoberta de que elas confirmavam os con­ceitos que ele pensava existir somente nos livros. Encantado com a tela Palhacinhos na Gangorra, que exemplifica o conceito do centro de massa do equilíbrio, Vinicius disse que as telas o impressionaram mais do que as próprias atividades em si. Ele comentou que sua paixão por História o deixou inquieto até o dia da exposição, pois enfim veria de perto as telas de Portinari, artista que ele já admirava tanto através dos livros em sala de aula. “A matéria que mais gosto é História, não via a hora de chegar a exposição. Me encantei com o quadro dos palhacinhos, ele é lindo e mágico”, relata emocionado diante da tela.

Cerca de 400 alunos visitaram a exposição de Portinari no Espaço FINEP na Semana Nacional da Ciência e Tecnologia, que contou também com a presença da equipe da Assessoria da Integração Educacional Municipal (AIE). Katlem de Albuquerque, professora e assessora da AIE, ressaltou a importância para a educação pública do incentivo às atividades artístico-educacionais realizadas por meio de projetos ou pelas próprias diretorias escolares. “Quanto mais incentivo à cultura, mais preparados os alunos estarão para enfrentarem o mundo, pois terão assim uma formação mais criativa e crítica sobre os acontecimentos reais”. Ela completou dizendo que a Secretaria Municipal de Educação do Rio está sempre à procura de novas direções e atividades que estimulem os lados lúdico, criativo e tecnológico de seus alunos. “A participação dos professores nessas atividades é fundamental, não só em acompanhar seus alunos em passeios culturais, bem como realizar atividades complementares em sala de aula, a fim de que exercitem sempre seu raciocínio lógico e artístico”, concluiu.