Projeto de inclusão trabalha valores que ajudam
no desenvolvimento social dos alunos

Por Wellison Magalhães

As brincadeiras podem parecer ingênuas. As matérias de português, ciências e matemática podem dar a ilusão de que são fáceis, e os jogos na quadra podem sugerir alguma limitação. Mas apenas podem. Porque para os alunos portadores de necessidades educativas especiais do Projeto Espaço Candeinha, coordenado pela professora Carmina Freitas Brasil, no CIEP Antonio Candeia Filho, todas essas atividades são o começo de novas e grandes oportunidades para a vida.
No segundo andar da escola funciona, desde janeiro deste ano, um projeto com adolescentes e adultos portadores de necessidades educativas especiais. Os professores juntaram em um só local diversas turmas que funcionavam na 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), do Município do Rio, que estavam espalhadas pelas escolas desta região administrativa.

Segundo a professora Carmina Brasil, o espaço cedido foi um dos fatores preponderantes para que se optasse pela escola: “conseguimos um andar inteiro que comportou todas as turmas que fazem parte do projeto”, afirma, lembrando que o local abriga hoje cerca de 80 alunos, entre adolescentes, jovens e adultos. As atividades são diversas. Os estudantes têm múltiplas tarefas, nos turnos da manhã e da tarde, que vão desde o estudo das disciplinas básicas, como português, ciências e matemática, até atividades físicas e lúdicas de um modo geral.

Engajadas há anos neste tipo de ensino, as professoras sentem-se realizadas com o progresso diário de cada um dos seus alunos.“É simplesmente engrandecedor e muito proveitoso”, diz Patrícia Ramos, que dá aulas de matemática: “muitos alunos avançaram muito em tudo e acho, sem dúvida, que é o melhor momento da minha carreira no magistério”, diz a docente, que aproveita a sala de aula para dar aos alunos noções de números, horas e pequenas contas.

Já a professora Kátia Leite, de ciências, estava prestes a desistir da profissão, pelas dificuldades imensas que a carreira às vezes produz; entretanto, com a chegada da classe tudo mudou, diz Kátia empolgada com o sucesso do projeto. Além da sala de aula, os alunos têm outras aulas importantes para a formação deles como: artesanato, jardinagem, culinária, reciclagem e informática. “Nosso alvo é inseri-los no mercado de trabalho, é socializá-los e torná-los capazes de realizar tarefas e poderem ganhar com isso”, enfatiza a coordenadora, lembrando que as pessoas com necessidades especiais precisam ser vistas com as potencialidades que elas possuem. “Infelizmente muitos querem tratá-los como deficientes e acabam por estragar a possibilidade do crescimento emocional e físico deles”, adverte o professor de Educação Física Antonio Augusto, há 16 anos engajado no trabalho com pessoas portadoras de necessidades especiais.

Com ele faz coro a professora, também de Educação Física, Elaina de Jesus, que aproveita para pôr na quadra sua turma, para dar uma demonstração clara do potencial de cada um. Num animado jogo de basquete, os alunos correm coordenadamente, revelando que a atividade é algo normal. O Projeto Espaço Candeinha, além do engajamento dos docentes, recebe o apoio incondicional dos pais dos alunos. Alguns vão além no trato com a escola, como é o caso da dona de casa Sergina Rosa, 57 anos, que todos os dias ocupa uma das salas para ensinar reciclagem. “O bom é que a gente aprende com todo mundo. Para mim, estar aqui ajudando é uma vitória”, diz emocionada, lembrando que numa das salas estuda o filho Adriano Alves, de 23 anos.

A outra mãe Elizabeth Alves, 44 anos, professora voluntária de artesanato, passa parte do seu tempo na escola. Além de acompanhar a filha Cristiane, de 24 anos, Elizabeth comenta – em meio a garrafas pet e jornais, materiais usados na classe – que os resultados desses trabalhos é que movem o coração e a mente dos profissionais e de todos os que estão ligados a eles.
“Cada avanço emociona a gente”, diz a professora Carmina Agostinha, há mais de 20 anos envolvida no trabalho com alunos especiais, e agora coordenando as aulas na cozinha, ensinando receitas e ajudando no desenvolvimento da língua portuguesa. No quadro negro, o aluno Alexandre de Oliveira, 24 anos, escreveu sozinho a receita que seria servida pouco tempo depois: um delicioso bolo de café. Não dava para esconder a emoção, “escrevi no quadro o que a gente aprende nas aulas de português”, diz ele. Outra aluna, Mariluce Augusto, 22 anos, afirma a importância da escola: “eu gosto muito daqui. A gente aprende muita coisa nesse tempo todo. Eles são muito carinhosos e gosto dos amigos”.

O Projeto Espaço Candeinha está no processo de oficialização. Ele já conta com recursos da Secretaria de Educação, através da 6ª CRE, além de apoios estratégicos, como o do Instituto Helena Antipoff, que é hoje referência em educação especial. O alvo da coordenadora do projeto é transformar o curso no Antonio Candeia Filho, tornando-o capaz de promover os alunos, inclusive na conclusão de seus cursos. “Queremos dar diplomas a eles”, afirma a professora Carmina, garantindo que no Projeto Espaço Candeinha é possível encontrar mais do que salas de aula, com professores e alunos. Lá se encontra a esperança de que a vida vale a pena ser vivida.


CIEP Antonio Candeia Filho
Avenida Brasil s/nº – Acari – Rio de Janeiro/RJ
CEP: 21530-000
Tels.: (21) 3361-2219 / 3371-4494
Coordenadora do Projeto: Carmina Freitas Brasil
Fotos: Marcelo Ávila