Alunos especiais e professores dão lição de esforço, cidadania e dedicação

Por Wellison Magalhães

Para o professor, dar aulas é uma tarefa que se repete todos os dias. Entretanto, para os docentes das classes de crianças com necessidades especiais da Escola Vitor Meirelles, na Taquara, a única palavra que não combina com o dia-a-dia é: repetição.

Isso porque na sala de recursos, para alunos da região, os professores combinam energia, paixão, resignação, criatividade e cuidado, para transformar as aulas em programas de crescimento pessoal de si mesmos e dos alunos de que cuidam.

“Aqui ensinamos de tudo: literatura, português, matemática ou ciências. Tem que ter o perfil para ensinar. Embora não tenhamos todos os recursos que desejamos, tentamos fazer o máximo para aproveitar cada momento”, enfatiza a professora Vânia Maria. A sala de recursos da Vitor Meirelles é utilizada por várias escolas, que possuem alunos com algum tipo de deficiência, seja auditiva, visual ou física. Aqueles que apresentam retardo mental também são acompanhados nos diversos turnos.

Um dos símbolos dessa classe é o aluno Otávio Barbosa, 19 anos, que cursa o 9º ano na Escola Municipal Campos Ribeiro e que usa o espaço da Escola Meirelles. Ele é tetraplégico, e possui uma paralisia cerebral, verificada logo após o nascimento. Otávio estuda todos os dias. Participa das aulas de português, matemática, ciências, história, como qualquer outro aluno. Além de fazer os trabalhos exigidos, ele tem ainda as provas para testar seus conhecimentos.

“No princípio usávamos tabelas para que ele mostrasse o que havia aprendido. Como o movimento com as mãos foi reduzido a zero, tive que usar outra estratégia. Hoje o Otávio usa o computador. Com um mouse apoiado na cabeça ele confirma todos os dados necessários para completar a informação do trabalho de escola”, diz a professora Vânia.

Para Mara Rosana Barbosa, mãe do aluno, cada dia é uma conquista diferente: “senti necessidade de ficar com ele. Primeiro para ajudá-lo, depois para auxiliar o professor. No início foi muito difícil, até vencer todas as dificuldades dos primeiros anos”, conta emocionada Mara, que vai todos os dias para acompanhar o filho. Na sala, a observação dos alunos confirma o valor do trabalho realizado na escola: “É muito bom estudar aqui, porque quando tenho dificuldades os professores me ajudam”, conta Flavia Fagundes, 27 anos, cursando a 3ª série, enviada aos cuidados da professora Vânia por apresentar dificuldades no aprendizado.

Mas a escola Vitor Meirelles não se resume apenas a uma sala de recursos pela manhã. Além dessa, outras salas também abrem suas portas para a vida. São os “Pólos de Bebês Especiais”, que funcionam nos turnos da manhã e da tarde, recebendo crianças de 8 meses a 6 anos, além de um outro ambiente preparado para atender alunos com deficiência auditiva. Devido às necessidades que cada um apresenta e aos tratamentos a que são submetidos, os horários são flexíveis. Na classe de 8 meses a 4 anos, por exemplo, a professora Sonia Lopes Ribeiro, que trabalha com 10 alunos, conta histórias, brinca e de forma lúdica aproxima do mundo crianças portadoras da síndrome de Down ou paralisia cerebral.

Sentada no chão, com os pés descalços, contando com o apoio dos brinquedos, dos livros ilustrados e dos fantoches utiliza-se o tempo necessário para apresentar às crianças a realidade. “Aqui nosso objetivo principal é integração. É no final do período com eles poder conduzi-los a uma sala de aula regular”, explica Sonia. Este objetivo de integração é experimentado sempre que um aluno deixa o pólo para participar de todas as atividades dos colegas.

A professora Vera Lucia, que cuida dos alunos entre 4 e 6 anos, tem história para contar. Uma delas é sobre o aluno Pedro Paulo, de 6 anos, que é autista. Depois de passar o período necessário no “Pólo de Bebês”, Pedro foi encaminhado à turma regular e hoje faz todas as atividades com seus colegas de classe, inclusive as animadas brincadeiras na educação física. A professora Mônica Simões, da classe de educação infantil, confirma que o aluno se acostumou com o ambiente da escola. “Ele está integrado e participando de tudo”, diz lembrando que nada pode ser feito sem a presença e participação das mães dos alunos.

É o caso das mães Alessandra Neves e Valquíria Amaral. Todos os dias elas participam das atividades com os filhos, respectivamente João Marcos, de 2 anos, e Lucas Amaral, de 4, ambos com paralisia cerebral. A limitação, contudo, não impede que vejam desenvolvimento neles: “agora posso ver meu filho fazendo muita coisa sozinho”, afirma Valquíria.

Segundo os professores, o sucesso das salas de recursos e dos “Pólos de Bebês” da Escola Vitor Meirelles é a união de esforço, capacitação e vocação para este trabalho. É a esta soma que a diretora Ana Christina Ferret atribui o bem-sucedido trabalho, que acontece nos três turnos de sua escola. Para Ana, a cada dia há um passo sendo dado em direção à igualdade e aceitação dos alunos com necessidades especiais: “Uma turma da escola aprendeu libras para poder lidar com um aluno que tinha deficiência auditiva”, conta a professora, garantindo que a união quebra os paradigmas e fortalece o respeito mútuo.



Escola Municipal Vitor Meirelles
Rua Joaquim Inácio Filho, 29 – Taquara – Rio de Janeiro/RJ
CEP: 22770-620
Tel.: (21) 2445-2135 / 2445-1811
Diretora: Ana Christina Ferret
Fotos: Tony Carvalho