Luiz Antonio Santini (*)

O número de novos casos anuais de câncer no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, chegará a 15 milhões em 2020. No Brasil, as estimativas para o ano de 2006 apontam, aproximadamente, 472.050 casos novos. A frieza dos números é a tradução de uma dura realidade: nossas ações de combate ao câncer não têm conseguido reduzir nem a incidência nem a mortalidade. Fato é que, hoje, atua-se em fases tardias da doença, quando as possibilidades de cura são menores e o sofrimento do paciente é grande. Priorizar a prevenção e o diagnóstico precoce é fundamental.

Para enfrentar esse desafio, a nova Política de Atenção Oncológica, publicada em dezembro de 2005 pelo Ministério da Saúde, define o câncer como um problema de saúde pública. A política determina ações interligadas, desde a atenção básica à alta complexidade, num trabalho em rede que respeite as diferenças de incidência e mortalidade em cada região brasileira e promova ações em todas as áreas ligadas ao controle do câncer: assistência, pesquisa, educação, prevenção e vigilância.

O papel do educador é fundamental nessa rede de mobilização para o controle e combate da doença. É bom lembrar que cerca de 80% dos casos de câncer estão relacionados à exposição a fatores de risco, tanto de natureza ambiental e ocupacional, como os relacionados a hábitos e comportamentos. Tabagismo, alcoolismo, hábitos alimentares e sexuais, uso de medicamentos e exposição à radiação são os fatores de risco mais freqüentes. O trabalho de informação qualificada junto à população sobre assuntos tão complexos é peça-chave para reverter esse quadro de alta incidência.

É importante disseminar não só as informações que ajudem na prevenção, mas também na mudança de postura em relação ao câncer – nome dado a um conjunto de mais de 200 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos, determinando a formação de tumores ou neoplasias malignas. Isoladas, as ações governamentais não podem dar conta de um problema de dimensão tão grande e de pouca visibilidade. Parcerias com empresas privadas e entidades da sociedade civil, bem como o engajamento de cada um, têm mostrado resultados excelentes.

No Instituto Nacional de Câncer (INCA), temos alguns exemplos eficazes de trabalho em rede. A solidariedade tem

levado aos pacientes conforto e soluções para problemas relacionados à doença, mas que fogem à assistência no sentido restrito do termo. O INCAvoluntário, uma área da Instituição que arrecada recursos e recebe doações de pessoas físicas e empresas, viabiliza uma série de ações de apoio aos pacientes e seus familiares – que vão desde empréstimo de cadeiras de roda, para usar em casa, até fornecimento de vales-transporte para permitir a locomoção até o hospital e garantir a continuidade do tratamento.

Hoje, mais de 700 pessoas oferecem seu trabalho voluntário para apoiar os que se tratam no INCA. O apoio a pacientes idosos, a orientação ao público que vai até a instituição, a recreação infantil e as oficinas de auto-estima para mulheres mastectomizadas são algumas das atividades desenvolvidas pelo voluntariado, que trabalha interativamente com o Serviço Social do hospital. Um paciente submetido ao tratamento de quimioterapia, por exemplo, se não receber alimentação adequada, não resiste aos efeitos colaterais dos medicamentos. Por isso, recebe uma cesta básica, composta por orientação de nutricionistas, com todos os itens necessários.

Esses são apenas alguns dos muitos exemplos de trabalho em parceria para vencer o desafio do controle e combate ao câncer. É preciso que haja uma intensa mobilização social para que as medidas de prevenção e detecção precoce realmente cheguem ao conhecimento de toda a população. Somente com a integração de parceiros governamentais e não-governamentais será possível atuar numa fase mais inicial da doença e aumentar as chances de cura. Por isso, é importante a articulação da Rede de Atenção Oncológica, que estamos começando a consolidar, reunindo esforços de todos os segmentos da sociedade na luta contra o câncer. Os educadores são parte fundamental desse processo.


(*) Luiz Antonio Santini é diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
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