PARA CONTAR BOAS
HISTÓRIAS

LER MUITO
ESCOLHER UMA BOA HISTÓRIA
ESTUDAR O TEXTO E CONHECÊ-LO BEM
INCORPORAR A HISTÓRIA
ARRANJAR UM ESPAÇO SILENCIOSO
ADAPTAR O LOCAL À NARRATIVA
PRESTAR ATENÇÃO À PLATÉIA
OUVIR COMENTÁRIOS DOS ALUNOS
DAR UM FIM À NARRATIVA

ANTES DE CONTAR, LER

ESTA OBRA CLÁSSICA ANALISA OS CONTOS DE FADA SOB O PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA, APONTANDO SÍMBOLOS E INFLUÊNCIAS NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA.

INDICADO PARA EDUCADORES, É DIVIDIDO EM TEORIA (IMPORTÂNCIA EDUCATIVA DAS HISTÓRIAS), TEXTOS SELECIONADOS E RECURSOSO AUXILIARES.

BASEADO NAS EXPERIÊNCIAS EM SALA DE AULA DO AUTOR FRANCÊS, O LIVRO TRABALHA A LEITURA COMO UM ATO DE PRAZER, NÃO DE OBRIGAÇÃO

HISTÓRIA DE UM AVÔ QUE, NO LEITO DE HOSPITAL, RECORDA PARA SEU NETO ALGUNS MOMENTOS DA INFÂNCIA E DA VIDA DURANTE A GUERRA.

O LIVRO FAZ PARTE DA COLEÇÃO CONTOS DA MINHA RUA E CONTÉM SEIS TEXTOS QUE MISTURAM SÁTIRA, TRAGÉDIA, SUSPENSE E MISTÉRIO.

A OBRA TRAZ PEQUENOS POEMAS SOBRE DOENÇAS E LIDA COM O TEMA DE MANEIRA LÚDICA E DIVERTIDA.

Escolas resgatam arte secular de contar histórias e
utilizam recurso para ensinar conceitos interdisciplinares

Causos, contos de fadas, fábulas e histórias encantadas são uma porta de entrada para o mundo da imaginação. Atentas à importância dessas narrativas maravilhosas, escolas públicas e particulares estão se apropriando cada vez mais da prática de contar histórias e se especializando nas técnicas utilizadas pelos contadores.

O Centro de Estudos e Convivência Infantil Arraial das Cores, na Zona Oeste de São Paulo (SP), adota o hábito de contar histórias há 20 anos. “As histórias são contadas todos os dias e para todas as turmas. As crianças gostam e pedem a roda de história”, diz Michele Sasson Salama, diretora da escola. As histórias começam a ser contadas para crianças a partir de 1 ano de idade. “No caso das crianças mais novas, usamos livros de figuras que tenham a ver com a vivência delas.”

Se muitas histórias são retiradas dos livros, por que a escolha pela oralidade, e não pela leitura? Ilan Brenman, psicólogo e contador profissional de histórias há 12 anos, diz que a escrita é uma fabricação cultural artificial, enquanto o ato de contar histórias existe há mais de 100 mil anos. “Quando se conta uma história, muita coisa é deixada com o outro, com quem ouve. Há uma troca. Já quando se lê um livro, você o fecha e vai embora”, explica Brenman. Para o especialista, a narrativa oral é parceira da literatura: “Ela serve para despertar a curiosidade, formar novos leitores. Após ouvir uma história, as pessoas querem saber de onde ela foi retirada. Os ouvintes vão atrás do livro que contém essa história.”

Além do incentivo à leitura e à criatividade, a prática de contar histórias aumenta o repertório verbal, o nível de participação dos alunos em sala de aula e, ainda, melhora a capacidade de escuta e atenção.

A história transmite valores éticos, sedimenta conhecimentos e aconselha. Isso tudo, porém, diz Brenman, só funciona se não for feito de uma maneira impositiva. “Não funciona contar uma história para ensinar que é feio bater no amiguinho, jogar lixo no chão. É preciso fazer a criança pensar, não ditar regras”, alerta o psicólogo.

Para iniciar uma narração oral, não é necessário usar a tão conhecida expressão “Era uma vez”. Cada pessoa começa da maneira que quiser. O importante é que o professor conheça bem a história que está contando, estude e goste de seu conteúdo. Quando o educador entende a narrativa, ele pode escolher melhor para qual faixa etária a história é mais apropriada e até onde pode explorá-la.

 

 

 

 






 



Também não há regras para um local específico, mas é aconselhável que se arranje um espaço confortável, aconchegante e silencioso. Fazer uma roda, segundo Brenman, é mais democrático. “Numa roda não tem, por exemplo, aquela coisa de ‘cadê o bagunceiro do fundo?’. Nela, todos são iguais.”

Quando se fala em contar histórias, a primeira imagem que vem é a de uma pessoa fantasiada, que imita vozes e usa recursos como fantoches e música de fundo. Essa é a imagem estereotipada que ficou do contador de histórias e na qual muitas pessoas acreditam.

Não existe um ritual específico para o contador de histórias. O uso ou não de artifícios fica a critério de cada pessoa. Alessandra Giordano, arte-terapeuta e contadora de histórias há 20 anos, faz uso de um cenário mínimo, com panos coloridos, velas e um sino tibetano. “Toda vez que começo uma história, toco esse sino porque assim as portas do ‘era uma vez’, que é o mundo das possibilidades, se abrem”, conta. Porém, a primazia, diz ela, é da palavra.

A utilização de recursos e técnicas pode funcionar como uma barreira para o educador que pretende dar os primeiros passos no mundo do faz-de-conta. O importante é manter o contato com o ouvinte. Ilan Brenman conta que usava fantasias e imitava vozes. Quando começou a trabalhar com professores e ministrar cursos, percebeu que muitos se intimidavam com o uso desses recursos.

“Comecei a deixar de lado os artifícios, para a história ser protagonista. Assim os educadores perceberam que também podiam contar histórias, que todo mundo pode”, explica.



No entanto, usar acessórios como fantoches, dobraduras, maquetes e marionetes, por exemplo, pode ser uma alternativa para tornar a história mais atraente e prender a atenção dos ouvintes. É o que recomenda Vânia Dohme, no livro Técnicas de Contar Histórias. A publicação é “um guia mastigadinho para os professores que querem entender e aprender mais sobre contação de história”, define a autora, que trabalha há 30 anos com o desenvolvimento da técnica para adultos e professores.

Para fazer com que as crianças entendam a linguagem das fábulas e dos contos, não é preciso simplificá-los ou mudar as palavras para facilitar a compreensão. Os especialistas afirmam que o ideal é deixar as crianças compreenderem o sentido da história pelo seu contexto. “É muito importante manter a história fiel à estrutura do texto. No entanto, é necessário avaliar quais livros são interessantes para cada faixa etária”, defende a diretora Michele.

Outra questão que gera dúvidas é o que fazer após contar uma história. A máxima da “moral da história” deve ser praticada? Deve-se fazer alguma atividade, como, por exemplo, desenhar a história? Para a contadora Alessandra Giordano, é importante que haja um momento de reflexão após a sessão de história, que as crianças tenham liberdade de dizer o que entenderam ou não. É nesse momento, “do compartilhar”, ela explica, que surgem as questões: “As crianças mostrarão o que conseguiram captar. Algumas não têm amadurecimento suficiente para entender o que você está querendo colocar. É nesse hora que o educador tem de fazer seu papel.”

Deixar fluir a imaginação da criança nesse momento é fundamental, mas a diretora Michele ressalta também a necessidade de dar um fim à história: “As crianças interagem, falam de suas experiências. A gente tem de ouvi-las, mas tem também que voltar para a história, para que saibam que ela tem um fim.”


Obs.: Matéria cedida pela Revista Educação.
Colaboração: Lívia Perozim
(Edição nº 83 - Ano 07 - março / 2004)