A decisão de ser cientista foi tomada quando ainda era jovem. Em 1873 matriculou-se na escola de Medi­cina da Universidade de Viena. Devido às limitadas recompensas do trabalho científico e à falta de oportunidade de progresso acadêmico para um judeu, Freud foi “forçado” a clinicar, atividade esta que ele jamais tinha pensado em realizar. Entretanto, mesmo clinicando, pesquisava e escrevia.

Após várias pesquisas e trabalhos desenvolvidos a fim de sustentar a sua teoria psicanalítica, publicou, em 1900, sua primeira grande obra, a qual intitulou de A Interpretação dos Sonhos. Com o passar do tempo, foi circundado por um grupo de discípulos do mundo inteiro, entre eles: Carl Jung, de Zurique; Alfred Adler, de Viena; Sandor Ferencze, de Budapeste; entre outros.

Tempos depois, Adler e Jung afastaram-se e desen­volveram teorias que contradiziam os princípios freudianos. Muitos médicos e cientistas eram contra a teoria de Freud e, a partir do momento em que este começou a expor suas idéias a respeito do inconsciente e da sexualidade infantil, foi alvo de desprezo e discórdias. A sociedade médica não admitia um homem que se intitulava cientista e queria sustentar idéias “estranhas” como o fato de os meninos se interessarem sexual­mente por suas mães e odiarem os próprios pais, e de as mulheres sentirem inveja do órgão sexual masculino.

Freud incomodava os outros cientistas e sabia perfeitamente disso. Devido a esse fato, certa vez escreveu: “Várias indicações me fizeram compreender que minhas teorias não podiam ser recebidas como as demais contribuições à ciência. Dei-me conta de que pertencia, dali por diante, àqueles que perturbam o sono do mundo”.

Ainda em vida, Freud chegou a ter um reconhecimento mundial, porém, nessa época, ele passava por uma fase muito sofrida. Em 1920, morreu sua filha e, logo após, o filho dela. Três anos mais tarde, foi detectado um câncer em seu maxilar, o que resultou em 33 cirurgias e na perda do maxilar superior.

Com o crescimento do Nazismo e a ocupação da Áustria pelo exército alemão, toda a família começou a passar por dificuldades. Sua casa foi invadida, sua filha capturada e, ainda assim, ele continuou publicando seus inúmeros livros.

A situação foi ficando cada vez mais complicada para Freud, até que, um dia, seus livros foram queimados em praça pública sob faixas de protesto que continham os seguintes dizeres: “Contra a exaltação da sexualidade que corrói a alma!”; “Pela nobreza da alma humana, entreguem ao fogo os escritos de Sigmund Freud!”.

Logo após, no período compreendido entre 1933 e 1939, a terminologia freudiana foi extraída do vocabulário da psiquiatria e da psicologia da Alemanha, enquanto a psicanálise passou a ser considerada uma ciência judaica.
Aos 83 anos, em 23 de setembro de 1939, morre, de um câncer de mandíbula, o famoso Sigmund Freud – o pai da Psicanálise, deixando a sua última contribuição para a ciência: a publicação Moisés e Monoteísmo.


Sistema Freudiano

Freud especializou-se, também, no tratamento de doenças nervosas, através da Neurologia – área da medicina que pouco crescia na época. A fim de melhorar a sua forma de trabalho, estudou, no período de um ano, com o famoso psiquiatra francês Jean Charcot. Este usava a hipnose para tratar a histeria. Certa vez, Charcot declarou, com bastante ênfase, que, por trás das histerias, sempre havia um problema sexual.

Freud ficou surpreso tanto com esta declaração que ouviu de Charcot quanto com o fato de ele nunca ter mencionado isso a seus alunos. Mais tarde, quando começou a investigar a sua teoria de origem sexual das neuroses, lembrou-se da afirmação feita por Charcot e isso contribuiu, de uma certa forma, como uma opinião técnica que vinha ao encontro das suas próprias descobertas.

Freud até que tentou trabalhar a hipnose com seus pacientes, mas não percebeu muita eficácia. Foi quando conheceu Joseph Breuer, um médico vianense que tratava de seus pacientes fazendo-os falar sobre seus sintomas. Freud gostou do tratamento e começou a trabalhar no estudo de alguns casos.

Um desses casos pareceu ser bastante importante para Freud. Tratava-se de uma jovem senhora, na qual os sintomas de histeria surgiram em virtude de um incidente ocorrido em sua infância. Esta jovem senhora ficou chocada com o que havia lhe acontecido, porém, esqueceu-se completamente do que realmente tinha ocorrido.

O tratamento desta paciente foi basicamente uma catarse, ou seja, uma liberação da emoção reprimida. Esse método de tratamento faz com que o paciente relembre e reproduza os acontecimentos através da técnica de hipnose.

Em relação a esta experiência, Freud e Breuer tiveram a mesma opinião. Ambos acharam que ocorreu um distúrbio emocional que foi desencadeado pela experiência inicial, e, assim, esse distúrbio foi impedido de se manifestar de forma direta e normal. Chegaram também à conclusão de que a emoção estava bloqueada e, desta forma, Freud procurou uma outra saída, que se caracterizava pelos sintomas. Esse processo foi chamado, por Freud, de conversão. O caso analisado acima é importante no desenvolvimento da psicanálise, pois aponta as funções escondidas das tensões psíquicas.

Segundo Edna Heidbreder, a descoberta de que a fonte de acentuados distúrbios do comportamento pode estar num incidente, que permaneceu esquecido durante muito tempo no inconsciente, não apenas chamou atenção para o papel exercido pelo inconsciente, como também deu a entender que o próprio inconsciente é acentuadamente dinâmico.

Cabe ressaltar que, embora o caso descrito anteriormente tenha sido importante para o desenvolvimento da teoria freudiana, ele deixava a desejar, uma vez que o método utilizado era o da hipnose. Entretanto, mesmo com a suspeita de que não era um procedimento eficaz, Freud continuou usando a hipnose junto com a dinâmica da catarse.

Na verdade, ele achava que o tratamento à base da hipnose não era válido, porque, embora fosse eficaz na retirada dos sintomas, não trazia a cura. Com isso, depois de um certo tempo, o paciente voltava com os sintomas ainda mais agravados. Posteriormente, faziam-se exames mais profundos e detectava-se que a causa verdadeira da perturbação do paciente não havia sido descoberta totalmente. Isso acontecia porque essas causas faziam parte do passado do paciente, que, nos primeiros exames, não era analisado profundamente. Esse foi um dos motivos que levou Freud a julgar o método de hipnose superficial, já que não ia a fundo nos transtornos do paciente.

Nesse meio tempo, Freud e Breuer começaram a melhorar, sem formalidade, o método da conversa, inventado por Breuer, através do qual o paciente era incitado a falar sobre si mesmo para seu médico. Neste método, o paciente não ficava hipnotizado e falava o que quisesse, o que lhe viesse à cabeça. Nesse processo, o paciente acabava dando pistas do que poderiam ser realmente as causas de suas perturbações, já que falava sobre acontecimentos há muito esquecidos. No início, Freud usava esta técnica também, porém, com o passar do tempo, começou a inutilizá-la, excluindo, assim, a hipnose de seus tratamentos.

Posteriormente, Freud começou a desenvolver sua técnica, sozinho, já que ele levava em conta a importância do fator sexual na histeria e Breuer, não. Este último tinha uma visão tradicional e conservadora, enquanto Freud afirmava que o que causava a histeria eram os problemas sexuais.

Assim, deu-se início à técnica da psicanálise, que foi se aperfeiçoando com o tempo, apesar das dificuldades encontradas durante o processo de descoberta. Dificuldades estas que serviram para consolidar ainda mais a sua teoria psicanalítica. Duas destas dificuldades foram bastante importantes para Freud. A menos importante, denominada transferência, acontece quando o paciente – após longas conversações pessoais, através das quais são expostas e, conseqüentemente, estimuladas as suas emoções – cria um elo de ligação emocional com seu analista.

A outra dificuldade encontrada por Freud consiste na resistência que o paciente pode vir a apresentar durante a análise. A partir do momento em que ocorre a resistência, significa que o procedimento analítico está no rumo certo, pois um ponto crítico foi atingido. Através da associação livre, o paciente vai passando de uma lembrança a outra até encontrar a verdadeira causa da doença.

Esse processo, no entanto, pode ser doloroso, pois chega a um ponto em que o paciente não quer mais prosseguir devido à dificuldade de enfrentar os distúrbios e colocá-los frente a frente. Contudo, somente se deparando com os próprios problemas, o paciente será capaz de sair da dor que o consome.

Partindo dessa premissa, uma das finalidades da então psicanálise seria resgatar, para a vida consciente, as rejeições sofridas que desencadeiam o transtorno. Com isso, a psicanálise foi se consolidando cada vez mais, já que o método da associação livre, a catarse através da liberação emocional e a transferência começaram a ser aceitos e compreendidos. A técnica, no entanto, continuou em construção e, após isso, Freud começou a suspeitar de que os sonhos de seus pacientes poderiam ser significativos.

Na Edição n.º 47 do Jornal Educar, você conhecerá o significado dos sonhos para Sigmund Freud – o pai da psicanálise e o homem que movimentou as técnicas formais de mexer com os transtornos dos pacientes.
Até lá!



Fontes:

HALL, Calvim Springer. Teorias da Personalidade. São Paulo: EPU, 1984.
HEIDBREDER, Edna. Psicologias do século XX. São Paulo: Editora Mestre Jou,1981.
Sites: www.pt.wikipedia.org/wiki/freud (extraído em 28 de janeiro de 2006).