Andrea Schoch Marques Pinto & Dilmeire Sant’Anna Ramos Vosgerau *


Stéphanie, 13 anos, queixa-se da atividade proposta em seu material didático impresso. Ela não compreende e não se motiva para realizar os exercícios. Ao analisarmos o material mencionado, percebemos que está elaborado com um vocabulário arcaico e um discurso altamente formal, o que o torna, nas palavras da adolescente, “sem sal”, ou seja, sem sabor, sem sentido e, portanto, sem significação. Significação é o fio condutor para a aprendizagem.

O sujeito aprende o que é mais representativo para ele, ou seja, aquilo que pode ser relacionado ao seu contexto e àquilo que ele já sabe. Portanto, conforme explica Ângela Lopes, em Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos II, se a questão-chave para o processo de aprendizagem é a SIGNIFICAÇÃO, então, para aprender, é necessário que o objeto a ser aprendido (assunto) se relacione com as experiências vividas pelo aprendiz, permitindo-lhe formular questionamentos, ao entrar em contato com temas práticos que lhe sejam interessantes, e tornando-o co-responsável pelo processo de aprendizagem. Tudo isto para que o aprendiz, a partir de modificações do seu comportamento e personalidade, possa transpor o que está aprendendo para situações da vida cotidiana.

A educação é e sempre foi um processo complexo que utiliza a mediação de algum tipo de meio de comunicação como complemento ou apoio à ação do professor em sua interação pessoal e direta com o estudante. O material didático tem um papel importante para a relação educativa, é uma ferramenta pedagógica de primeira ordem e sua elaboração é revestida de intenção.

Essas considerações possibilitam pensar na elaboração de um material que privilegie o desenvolvimento harmonioso do chamado “intelecto”. No entanto, o que significa intelecto? Segundo a neuropsicologia (GRECO, 1994), o cérebro humano (o intelecto) é composto por três grandes módulos: a parte central, cientificamente chamada de “lado motriz-operacional”(agir), que representa o aspecto prático; o lado direito (sentir); e o lado esquerdo (pensar), que trabalha com conceitos abstratos. Conseqüentemente, para desenvolver o intelecto, é preciso disponibilizar ao educando atividades que fomentem o pensar, o sentir e o agir de forma harmoniosa.

Portanto, o material didático deveria comportar elementos que ativassem o intelecto e que permitissem ao mesmo tempo a relação entre os seus componentes, possibilitando assim ao aluno conhecer, compreender, aplicar, analisar, sintetizar e avaliar a sua própria aprendizagem.

Pensando nisto, propomos alguns questionamentos no preparo ou na utilização do material didático:

• Os conteúdos estão logicamente organizados de forma a facilitar a retenção de informação para posterior reutilização?

• Existem indicações de auxílios internos e externos ao material didático? Os auxílios internos são as atividades e os procedimentos relacionados ao próprio material (fazem parte da estrutura, por exemplo: dicas e vocabulário). Os auxílios externos são atividades cuja realização depende de elementos não fornecidos pelo material (Ex: ver um filme / ouvir uma música / consultar a Internet etc.).

• O material apresenta estratégias de entrada, de desenvolvimento e de encerramento para o tema proposto?

• A narrativa, quando utilizada, apresenta mensagem atrativa, com relatos de experiências, fragmentos literários, perguntas, projeções de futuro, imagens etc.?

• O desenvolvimento do conteúdo considera vários horizontes de compreensão, oferece diferentes enfoques (econômico, social, cultural, ecológico...), a fim de enriquecer sua significação, bem como suas perspectivas de aplicação?

Sintetizando, é importante que as atividades propostas e os materiais a serem lidos como ponto de partida se articulem com a realidade que rodeia os sujeitos e que dêem abertura para o entendimento do significado do mundo.


Referências Bibliográficas:

GRECO, Milton. Interdisciplinaridade e Revolução do Cérebro. Ed. Pancast, 1994.

LOPES, Ângela Maria Soares. Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos II. SESI: UNB: Unesco, 1999.

*Andrea Schoch Marques Pinto é mestranda em Educação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR); bolsista da Capes e membro do grupo de pesquisa Educação, Tecnologia e Comunicação.

E-mail: andsesi@bol.com.br.

*Dilmeire Sant’Anna Ramos Vosgerau é Doutora em Educação – Tecnologias Educacionais pela Université de Montréal, no Canadá; Mestre em Educação pela PUC-PR; Especialista em Análise de Sistemas pela PUC-PR; professora e pesquisadora do Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

E-mail: dilmeire.vosgerau@pucpr.br