<%@LANGUAGE="JAVASCRIPT" CODEPAGE="1252"%> Jornal na Sala de Aula

Para entender a linguagem jornalística, é bom conhecer alguns termos usados no dia-a-dia das redações.

Artigo Texto que traz a opinião e a interpretação do autor sobre um fato. Geralmente é assinado e não reflete necessariamente a opinião da publicação.

Editorial É a opinião da empresa que publica o periódico sobre temas relevantes. Não é assinado.

Entrevista Contato pessoal entre o repórter e uma ou mais pessoas (fontes) para coleta de informações. Também designa um tipo de matéria jornalística redigida sob a forma de perguntas e respostas (também conhecida como pingue-pongue).

Legenda Texto breve colocado ao lado, abaixo ou dentro de foto ou ilustração, que acrescenta informações à imagem.

Lide Abertura de um texto jornalístico. Pode apresentar sucintamente o assunto, destacar o fato principal ou criar um clima para atrair o leitor para o texto. O tradicional responde a seis questões básicas: o quê, quem, quando, onde, como e por quê.

Manchete Pode ser tanto o título principal, em letras grandes, no alto da primeira página de um jornal, indicando o fato jornalístico de maior importância entre as notícias contidas na edição, ou o título de maior destaque no alto de cada página.

Nota Pequena notícia.

Notícia Relato de fatos atuais, de interesse e de importância para a comunidade e para o público leitor.

Pauta Agenda ou roteiro dos principais assuntos a serem noticiados numa publicação jornalística.

Reportagem – Conjunto de providências necessárias à confecção de uma notícia jornalística: pesquisa, cobertura de eventos, apuração, seleção dos dados, interpretação e tratamento.

*Verbetes adaptados do Dicionário de Comunicação, de Carlos Alberto Rabaça e Gustavo Barbosa, Ed. Ática.

 


Ao produzir um jornal em sala de aula, procure não valorizar demais o produto final, pois dificilmente ele será parecido com os modelos conhecidos. Dê mais importância ao processo de produção, estimulando o uso de:

Diferentes gêneros textuais de imprensa (artigo, reportagem, fotojornalismo).

Diferentes funções e níveis de lingua­gem presentes nos jornais.

Noções gramaticais diversas.

Recursos de pesquisa, do trabalho coletivo e interdisciplinar.

Estratégias que ajudem a firmar a identidade dos alunos.


O passo-a-passo

Defina com a turma como será o jornal: impresso (e distribuído) ou mural (afixado).

Forme grupos de trabalho com professores, alunos, funcionários e distribua responsabilidades.

Marque reuniões regulares para tomar decisões e avaliar resultados.

Defina o público para o qual se dirige a publicação.

Escolha o nome e o logotipo.

Avalie a necessidade e a disponibilidade de recursos materiais, como papel, máqui­nas fotográficas, gravadores para entrevista, computadores, despesas em geral (fil­mes, revelação, gráfica etc.), além de patrocinadores e publicidade.

Conteúdos e seções

O perfil temático pode ser definido pela turma, sob a sua coordenação. Opções:

Ser porta-voz da direção da escola.

· Ser porta-voz dos alunos.

· Abordar temas gerais, atualidades, temáticas locais ou gerais, assuntos da escola.

· Relacionar a escola à comunidade.

· Debater temas “quentes”.

· Promover entretenimento.

Projeto gráfico

É o que vai definir a cara do jornal. Para isso, a turma deve:

· Analisar o projeto gráfico de outros jornais e elaborar um específico para o jornal da escola.

· Criar uma identidade visual, ou seja, escolher o tipo das letras para os títulos, textos e legendas, o uso ou não de cores – e quais; o uso ou não de ilustrações etc.

· Estabelecer as seções que aparecerão sempre no mesmo espaço.

· Indicar em um quadro a relação dos responsáveis pela produção e pela realização do jornal (o expediente).


Evite

· Transformar o jornal em apostila de aula ou em páginas grampeadas. Jornais devem ter visual e linguagem próprios.

· Utilizar linguagens específicas dos gêneros jornalísticos.

· Usar lugares-comuns, como o excesso de piadas, de textos pessoais de alunos, poesias, em vez de trazer coisas novas.


*Quadro preparado por Maria Alice Faria e Juvenal Zanchetta Jr.

Ao levar jornais para a sala de aula, é preciso envolver seus alunos com a linguagem utilizada por esse meio. Veja como:

· Respeite a integridade do texto publicado, não cortando partes dele para não mudar a informação original.

· Caso não consiga levar o jornal inteiro para a sala, indique sempre o título da publicação, a data, a página e o nome do autor da matéria.

· Preserve as fotos com as legendas originais e o nome do fotógrafo.

· Escolha vários gêneros textuais para leitura e análise.

· Ressalte que a notícia relatada no texto jornalístico não é exatamente o fato, mas sim a versão do jornal sobre esse fato.

· Promova a leitura comparativa entre dois veículos para desenvolver o olhar crítico.

· Estimule a identificação das características dos possíveis leitores de cada jornal, facilitando a percepção do aluno com relação à constituição de um texto informativo.




Apresentar textos cortados, sem referências nem ilustrações – prática comum em livros didáticos –, não é uma maneira eficaz de formar leitores de jornal. Maria Alice Faria, professora aposentada da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis, explica que o contexto da edição e da publicação traz informações importantes, que são ocultadas quando se destaca apenas um pedaço. “O professor deve levar jornais inteiros para a sala de aula, mesmo que antigos, pois nem todos os alunos têm acesso a ele ou intimidade com esse meio de comunicação”, completa.

Juvenal Zanchetta Jr., pro­fessor da Unesp de Marília e parceiro de Maria Alice na elaboração de obras sobre o tema, diz que o trabalho com o jornal deve ser permanente: “Aos poucos, essa atividade se torna mais complexa com a ampliação da capacidade de leitura dos alunos”. Os menores começam identificando a estrutura da mídia e dos textos nela publicados, redigindo pequenas notas. Da 4.ª série em diante, eles já podem fazer um produto semelhante. Depois da 5.ª, é possível chamar a atenção da turma para as opções políticas e ideológicas de cada publicação, comparando o tratamento dado a um mesmo fato em diferentes jornais.

Antes de começar qualquer trabalho, porém, o professor precisa buscar informação sobre os jornais em estudos desenvolvidos na área e conhecer um pouco da linguagem gráfica (veja sugestões de leitura no quadro Quer saber mais?).

É comum ver professores e alunos frustrados com o exercício de fazer jornal na escola, pois a expectativa que se cria em torno desse tipo de atividade é muito grande. “A atividade deve ser um meio, e não um fim”, explica Zanchetta. “Serve para o professor estimular os alunos a escrever, a argumentar, a trabalhar em grupo, entre outras questões". Na produção com turmas de séries iniciais, é preciso levar em conta que a diversidade de gêneros pode confundir os alunos. “Se a edição é feita por uma só turma, produzir um boletim apenas com textos informativos é mais produtivo do que explorar, ao mesmo tempo, os diversos gêneros”, ressalva a professora Celina Bruniera, consultora para o ensino de línguas e selecionadora do Prêmio Victor Civita Professor Nota 10.

Em tempos de interatividade via telefone celular e internet, fazer com que as crianças se interessem pela leitura de jornais não é tarefa das mais fáceis, mas certamente é fundamental para formar leitores habituais e cidadãos bem-informados. Trazendo textos com características distintas, fotografias e recursos gráficos, os jornais são uma fonte respeitada para pesquisa e para a obtenção de informação sobre o mundo atual. Além disso, eles se modernizaram e passaram por reestruturações gráficas e editoriais para proporcionar leitura mais agradável de seu conteúdo.

Para uma criança tomar gosto pelos periódicos, o primeiro pas­so é acabar com a idéia de que jornal é coisa de “gente grande”. Dentro da gama variada de assuntos abordados, certamente são encontradas notícias locais ou de entretenimento que atraem também os pequenos. É importante fazer os alunos se relacionarem com o jornal como se fossem leitores comuns: eles devem manuseá-lo por inteiro (não só textos recortados), aberto sobre uma mesa, no chão ou dobrado; e buscar os cadernos que mais interessam, vendo fotos e lendo títulos, subtítulos e o início de cada reportagem, para saber se vale seguir até o final. “É comum a pessoa iniciar a leitura pela área de que mais gosta, mas isso não significa que ela irá até o fim do texto”, afirma Maria José Nóbrega, consultora de Língua Portuguesa.



Adriana Pastorello, professora da 4.ª série do Colégio Cristo Rei, em Marília, no interior de São Paulo, trabalha há dois anos com jornais em sala de aula. Durante os primeiros meses, ela faz um trabalho de sensibilização com a criançada. “Peço para a bibliotecária guardar exemplares durante as férias e, nas aulas iniciais, distribuo um para cada aluno”, conta. Apesar da resistência dos pequenos dizendo que “jornal é coisa de velho”, que “suja a mão” ou que “tem palavras difíceis”, Adriana apresenta o produto, ensinando-os a manipulá-lo, a dobrá-lo, a diferenciar os cadernos, a ver as fotos, as legendas, as manchetes, os títulos e as colunas.

Em seguida, ela coloca a abertura da reportagem – o lide (leia quadro O Jargão Jornalístico) – em um retroprojetor e explica que ele é formado por seis questões básicas: o quê, quem, quando, onde, como e por quê. Seguindo o texto, a turma encontra nos primeiros parágrafos – se a reportagem estiver bem escrita – as respostas para essas perguntas. O próximo passo é rascunhar, em gru­po, um lide sobre um fato ocorrido na escola.

Na etapa posterior, Adriana pede para os alunos lerem tod­os os dias uma notícia em casa ou na biblioteca da escola, que recebe dois jornais de circulação nacional e dois de interesse local. Em classe, a professora escolhe alguns estudantes para contar aos colegas o que leram. “Normalmente, eles procuram notícias sobre assuntos já estu­dados em sala de aula ou que tenham relação com a cidade”, exemplifica.



Além de discutir os fatos com as crianças, Adriana compara a leitura do jornal com sua versão na internet (as crianças preferem ler no papel, por ser mais fácil de encontrar as notícias), discute a diagramação (o motivo pelo qual uma notícia aparece em cima e outra embaixo da página, em títulos com letras maiores ou menores) e aborda as diferentes maneiras de tratar o mesmo tema – comparando com outras publicações ou com telejornais. Ela aponta ainda as diferenças entre os vários gêneros textuais (artigo, reportagem, classificados, horóscopo etc.). “No início, eu tive dúvida sobre o sucesso dessa atividade”, confessa Adriana. Hoje, ela admite que, no final de cada ano, seus alunos se tornam leitores habituais de jornal e até sentem falta de notícias novas todos os dias.

A experiência de Mônica Gouvêa França Pereira, pro­­fessora da 4.ª série do Colégio Santa Cruz, na capital paulista, avança para a edição de um jornal depois de todo o trabalho de análise, comparação e discussão do texto jornalístico. O “Jornal do Santa” nasce no mural de cortiça da classe, que é di­vidido em seções – como se fossem os cadernos dos jornais comuns. Lá os alu­nos fixam notícias que trazem de casa antes de discuti-las com os colegas. Ao partir para a produção, ela chama a atenção para três aspectos do texto jornalístico: a linguagem direta; os tempos verbais utilizados nos títulos, tex­ tos e legendas; e a estrutura da notícia (aber­ tura, desenvol­vimento e conclusão). Por fim, discute-se o perfil do futuro leitor da publicação, no caso, colegas, pais, professores e funcionários.

Montadas as equipes de reportagem (grupos de quatro), começam as reu­niões para a definição de pautas, geral­mente relacionadas à comunidade e ao comportamento dos alunos. Tabelas e gráficos também entram nas reportagens, utilizando-se aí conhecimentos de Matemática, na área do tratamento da informação. Na aula de Inglês, as crianças elaboram a seção de divertimento, chamada fun pages, com cruzadinhas, caça-palavras e jogos em inglês. Formam-se duplas de redatores (que vão apurar, pesquisar e redigir) e de diretores de arte (responsáveis pelas fotos, ilustrações, gráficos, diagramação, revisão do texto, além de auxiliar na escolha de olho, título e legenda). Cada equipe assina a página que elaborou. Na hora da diagramação, a professora coloca uma folha de papel A3 (29,7cm x 42cm) no quadro-negro. Os alunos colam as fotos e os textos feitos em computador nos lugares onde desejam que o mate­rial seja publicado. Esse rascunho é encaminhado para o departamento de informática da escola. Lá, uma diagramadora monta tudo no Page Maker, um programa de computador específico para esse trabalho. A edição é impressa em uma gráfica contratada para esse fim. O resultado é um jornal com 64 páginas e cinco cadernos (Comportamento, Cotidiano, Santa Cruz, Cultura e Turismo). Detalhe: as crianças da 3.ª série fazem as matérias de Turismo e as da 2.ª, os Classificados.

“Um trabalho como esse desenvolve a autonomia das crianças, tornando-as verdadeiros alunos-repórteres, e as desperta para a importância da leitura periódica de jornal”, comemora Mônica. Os 1.800 exemplares do jornal são enviados em dezembro para a casa de todos os alunos.


Obs.: Matéria cedida pela revista Nova Escola
Colaborador: Agnes Augusto
(Edição n.º 175 – Setembro de 2004)
Ilustração: Luiz Cláudio