Na escola, dispersão, dificuldade em terminar as tarefas, pedidos constantes para sair da sala. Isso sem falar nas manias estranhas. Um aluno com esse perfil talvez não seja necessariamente mal-educado: ele pode ter algum tipo de distúrbio comportamental, que afeta, também, o rendimento escolar. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), a Síndrome de Tourette e a Síndrome do Pânico podem comprometer as funções motoras e psicológicas de crianças e adolescentes e, caso não sejam diagnosticados e tratados da forma correta, podem incapacitar profissionalmente seus portadores.
Muitas vezes, o aluno pode apresentar mais de um transtorno simultaneamente. “Não é incomum que um paciente com TOC apresente também a Síndrome de Tourette ou tenha crises de pânico”, afirma o psiquiatra Fernando Asbahr, coordenador do Ambulatório de Ansiedade na Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas, em São Paulo (SP).
As pessoas que desenvolvem algum tipo de transtorno têm predisposição biológica para tal, explica Maura Carvalho, vice-presidente da Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (Astoc). “São fatores biológicos, aliados a fatores psíquicos e sociais, que desencadeiam os transtornos”, explica. “Com essa predisposição biológica, uma situação de estresse pode fazer com que a criança ou o adolescente comece a desenvolver tiques, por exemplo.” 
Metade das pessoas que sofrem desses transtornos na idade adulta já apresentava sintomas antes dos 18 anos. Estima-se que, no Brasil, 4,5 milhões de pessoas tenham o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, entre crianças e adultos. Nas crianças, o mais comum é que o TOC se manifeste entre 9 e 12 anos, mas ele pode ocorrer em crianças mais jovens.
Nas escolas- Silvana Leporace, coordenadora do serviço de orientação educacional do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo (SP), afirma que cada vez mais adolescentes são
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diagnosticados com Síndrome do Pânico. “Nas escolas, tem aparecido mais, mas atribuo também à melhora dos diagnósticos. Antes, ficávamos sem saber do que o aluno sofria.”
As escolas têm um papel importante no diagnóstico e acompanhamento dos alunos que sofrem de TOC, Síndrome de Tourette ou Síndrome do Pânico. “Muitas famílias esperam a escola se manifestar sobre os filhos”, afirma Silvana. “Como temos uma amostragem maior de crianças, conseguimos identificar quando alguma coisa está errada.” Segundo ela, caso haja mudança de comportamento, o primeiro procedimento é comunicar aos pais. “Quando notamos alguma coisa errada, chamamos a família do aluno”, afirma. “Mas é uma coisa muito pensada, tomamos muito cuidado nessa aproximação, porque é muito difícil para os pais admitir que o filho tem problemas.”
O diagnóstico precoce é fundamental. Leda Nascimento, proprietária da pré-escola Espaço Vivavida, em São Paulo (SP), conta que geralmente são os professores que percebem alguma mudança de comportamento. “Eles passam mais tempo com os alunos e conseguem perceber quando alguma coisa está errada”, afirma. “O trunfo do diagnóstico é o professor”, confirma Maura Carvalho. “Ele pode identificar os sintomas logo no início e possibilitar que essa criança receba o tratamento adequado e tenha uma vida digna.”
Segundo Silvana Leporace, a escola deve acolher o aluno e mostrar que ela estará lá para o que ele precisar. “Nós trabalhamos o aluno, a família e os funcionários da escola para dar todo apoio de que a criança e o adolescente precisam. “O ideal, diz, é que a escola mantenha contato com o aluno mesmo que ele precise se manter afastado por um tempo. “Ligamos, mandamos e-mail, pedimos notícia. Tentamos demonstrar que o mais importante é que ele se recupere.”
É essencial, segundo Maura Carvalho, que as escolas sejam maleáveis no tratamento dos portadores desses distúrbios: “As pessoas precisam saber que os alunos não fazem isso de propósito, para provocar, que é uma doença, e que os portadores precisam da cooperação de todos para melhorar.” |