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Certos professores estão em vias de extinção. Em breve, para o alívio de todos, não serão mais encontrados em instituição de ensino alguma. Veja se você ou alguém que você conhece apresenta esses sintomas e mude enquanto é tempo.

Eles já foram os donos da Terra. Dominavam montanhas, pântanos, cerrados e oceanos. Até que se viu que muito dessa dominação era falta de opção. Dificuldades vieram, os dinossauros sumiram. Eles não sabiam se adaptar, enfrentar o que a natureza oferecia a eles a partir daquele momento. Sobreviveram aqueles que se adaptaram. Esses dinossauros são hoje chamados “pássaros” e dominam os céus, voando cada vez mais alto.

Com a sua carreira, com a sua profissão é a mesma coisa, professor. Muitos tipos de educadores já deveriam estar extintos, permanecem aqui e ali apenas por pura teimosia. E aqueles que percebem o que o ambiente, os alunos, a comunidade e o mercado esperam deles voam cada vez mais alto. Aqueles que continuam a fazer o que sempre fizeram, que se recusam a ver e entender os sinais que aparecem aqui e ali são destinados a uma longa carreira em museus, como parte da exposição.

Vale lembrar que os termos “professauro” e “dinossauro” não têm nada a ver com a idade. Tem muito professor recém-formado já com os sinais que o levarão à extinção. É uma questão de atitude, bom senso, inteligência, paixão, todas características que não dependem da idade física, apenas mental.

Veja a seguir os professores que estão a caminho de se tornarem fósseis:




O titanossauro dominava o que hoje é são Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Um monstrengo de 15 metros de comprimento, cinco de altura e 15 toneladas. Para ele, árvores eram gravetos que eram derrubados sem cerimônia. Rios eram córregos, transpostos em dois passos. E assim iam os titanossauros, devastando tudo em um local para migrar para outras paragens, sucessivamente.

O mais incrível é que, para sustentar essa máquina destruidora, eram necessárias apenas algumas folhas (certo, algumas centenas de quilos de folhas) e samambaias. O titanossauro abria sua enorme boca, engolfava alguns galhos de árvore e puxava o pescoço, ficando com a boca cheia de folhas, que engolia rapidamente (por falta de opção – o bicho não sabia mastigar). Cientistas estimam que tal monstro chegava a viver cem anos – o que não é motivo para você começar uma dieta à base de folhas.

O professor titanossauro, da mesma maneira, é um destruidor. Só que de ambientes. Ele chega, vagaroso, muitas vezes com fala mansa e consegue acabar com o ânimo e moral de qualquer um. Projetos são engavetados, pois ele sempre acha uma falha. Alunos são desmotivados a aprender e experimentar, sobrecarregados com o “decorar”. E o pior é que muitos nem se dão conta do estrago que o professor titanossauro faz.

Ficam olhando para o alto, admirando sua lógica torta e sua sabedoria, e não vêem toda a bagunça que ele faz ao passar. Não raro, ele muda de uma escola para outra, continuando sua trilha de destruição.


Lutando contra o titanossauro Não é fácil. Sua longevidade e experiência o tornam um alvo difícil em qualquer escola. Além disso, ele se torna uma boa desculpa para os outros professores: como costuma destruir os novos projetos, idéias e conceitos, força as pessoas a continuar fazendo o que sempre fizeram, sem se arriscar ao novo. Mas há algumas dicas para diminuir sua influência:

1) Desvie-o para alguma função específica. Enquanto os educadores ocupam-se do dia-a-dia do projeto ou função nova, faça com que o titanossauro fique responsável, por exemplo, pela contabilidade do projeto. Assim, você respeitará seu ego, fará com que ele seja útil para a escola e impedirá que ele atrapalhe demais o andamento das novas práticas a serem implantadas.

2) Para mudá-lo, peça ajuda. Se quiser que o titanossauro abrace, por exemplo, uma nova forma de avaliar os alunos, aproxime-se dele e diga que está tendo dificuldades para avaliar um trabalho da sua turma, pois não sabe se é mais importante levar em cota a característica “x” ou “y”. Ouça a resposta, agradeça, diga que seus alunos estão muito mais estimulados, que seu trabalho é muito mais fácil com aquela nova avaliação e que alguém como o titanossauro não teria dificuldades de trabalhar daquela maneira. Se for necessário, depois de alguns dias, mostre novos resultados. Estimule-os, não critique.



Certo, “corredor dos mares” é apelido. O nome correto desse pterossauro (a rigor, pterossauros são primos dos dinossauros dotados de asas) é Thalassodromeus sethi, um belo exemplo de que, às vezes, falta um pouco de bom senso ao pessoal que batiza as espécies. Enfim, o corredor era um espanto. Era capaz de viajar grandes distâncias, se alimentando dos peixes do oceano. Sua principal característica era a crista que ostentava na cabeça, com mais de um metro de comprimento. Talvez funcionasse como um leme, porém o mais provável é que sua função fosse atrair a atenção de possíveis parceiros para o acasalamento. Assim como as penas do pavão. Muita forma, pouco conteúdo.

E lá ia ele, se “pavoneando” (ou, como queiram, se “thalassodromeando”), exibindo sua crista enorme para lá e para cá. Não que um troço enorme daqueles precisasse de exibição, mas, ainda assim, ele o fazia.

Da mesma forma, o professor thalassodromeus. Ele é visto, aqui e ali, espalhando aos quatro ventos seus feitos na educação. E o pior é que não importa, para ele, se tais façanhas são reais ou imaginárias. O importante é mostrar-se, praticamente colocar um outdoor sobre a cabeça, como fazia nosso Thalassodromeus. Até pode parecer que esse tipo de professor não cause muitos problemas nas escolas, que ele seja inofensivo ao andamento das coisas. Só que ele é um perigo.


É muito fácil o resto da equipe docente achar que o Thalassodromeus irá roubar as glórias para si, além de pouco fazer pelos seus alunos.

Afinal, para ele, suas obras-primas já foram feitas, é hora de se deixar admirar pelos outros.

Lutando contra o thalass... contra o corredor dos mares-
Uma das características desse tipo de educador em extinção é que ele sabe ser simpático, sabe ser querido pelos outros. Assim, disfarça o fato de ele se exibir muito e fazer pouco. Algumas dicas para você:

1) Dê espaço para todos. O educador thalassodromeus adora uma reunião ou outro encontro no qual possa mostrar todo o seu valor auto-imaginado. Por isso, evite que essas estrelas dominem tais eventos. Promova um rodízio ente professores no comando de reuniões e encontros, peça explicitadamente a opinião dos professores mais calados (“Dona Sandra, na sua opinião, como isso deve...”) e outros.

2) Peça fatores que podem ser qualificados. Se a ação desse professor foi tão boa, deve ter deixado algum resultado que pode ser medido. Diminuição de faltas dos alunos, melhor interação em grupo (medida pelo comportamento no intervalo e opinião dos outros educadores ente outros).

3) Estimule a apresentação de idéias novas. Faça com que todos os seus colegas compreendam que o que importa e o que os alunos gostam é de professores que inovam de alguma forma as aulas, de projetos interdisciplinares dinâmicos. Faça o educador corredor dos mares apresentar novas idéias.



O Rondon II foi um dos maiores carnívoros que existiu, comparável ao Tiranossauro rex. Foram encontrados esqueletos do bicho na Chapada dos Guimarães/MT. Tinha sete metros de comprimento por quase três de altura. Seus dentes apresentavam esmalte enrugado, perfeito para abrir o couro das presas. Uma máquina de matar.

Justamente o que não se quer nas escolas. O professor Rondon II chega, dá sua aula, passa conceitos, vai para casa. Cumpre sua tarefa com precisão cirúrgica. Não há espaço para relacionamentos. Importa-se com os alunos? Isso é função dos pais ou do psicólogo da escola. O educador Rondon II faz apenas o necessário para receber seu contracheque no final do mês.

À primeira vista, ninguém pode ter nada contra ele. Afinal, não falta, cumpre o conteúdo programático à risca, tem fama de exigente. Com ele, o ensino é “puxado”. Só que falta alguma coisa. E isso aparece nas avaliações de fim de ano, afinal poucos são os alunos que têm algo de simpático para falar sobre ele. Mas isso é compreensível, pensa a diretoria. Nenhum aluno elogiaria um professor assim, rigoroso. Porém, falta uma diferenciação nessas análises de pesquisa.


Rigor é uma coisa, em certas situações, até bem-vindo. Falta de interesse é outra, extremamente prejudicial.

Lutando contra o Rondon II – Existem dois tipos de Rondon II que podem assombrar sua escola. O primeiro tipo é o educador que começou cheio de expectativas e encanto pela profissão e, aos poucos, foi se desinteressando, desmotivando, até atingir uma eficiência fria ao dar aulas. Esse tipo de dinossauro só precisa de um pouco de incentivo, talvez envolvimento em um novo projeto, talvez a transferência para uma turma mais avançada ou de alunos mais jovens. Ele voltará, em pouco tempo, a ser o profissional entusiasmado e com o brilho no olhar de antes. E, se você se identificar nesse processo, cuidado. Pare um pouco, permita-se ver a sua turma como na primeira vez. Identifique uma área, por menor que seja, que ainda desperte em você aquela paixão antiga, concentre-se nela e permita que o encantamento pelo ensinar flua daí e contamine todos os outros aspectos de sua vida de educador.

O outro tipo é o que já nasceu Rondon II. Aquele que ainda não encontrou o prazer em dar aulas, acha que lecionar é algo burocrático e que deve ser cumprido com eficiência mecânica. Não o é. Sugira a esse professor livros, revistas, cursos que ampliem seus horizontes.

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Aqui começamos a área internacional de dinossauros. O Gastonia era o tanque de guerra dos dinossauros. O tronco era coberto de placas encouraçadas, seus lados guarnecidos de pontas de ossos. A cauda comprida terminava em uma pequena clava de ossos. Até suas pálpebras pareciam blindadas e apresentavam algumas saliências pontudas.

Quando ameaçado, o Gastonia se encolhia todo e sacudia seu corpo, esperando afastar seus inimigos. Os dinossauros maiores o mordiam, sacudiam, derrubavam e nada de romper suas defesas.

Alguns professores agem da mesma maneira. Ao primeiro sinal de mudanças, de alguma crítica ou sugestões de novidades, se encolhem todos em sua carapaça e ficam esperando a onda passar. Aí, sacodem a poeira e continuam a andar, como se nada tivesse acontecido. Quando aparecer outra novidade, repetem o processo.


Não é à toa que o Gastonia era baixinho, de pernas curtas. Esse seu comportamento não o permitia almejar grandes alturas entre os dinossauros. Da mesma maneira, o educador gastonia dificilmente vai longe em sua carreira. Permanece no mesmo cargo, sempre se encolhendo, levando umas sacudidas, mas continuando a fazer o mesmo, a dar aquelas aulinhas de sempre. Com o tempo, esse tipo de dinossauro vai se encolhendo mesmo com perguntas e questionamentos de alunos. Coloca-se na defensiva ao menor questionamento de seu método de ensino. Assim que sua carapaça afasta as perguntas, volta à sua aula. Mas, aí, já perdeu boa parte da confiança dos alunos.

Lutando contra o Gastonia – Trabalhos em grupo, projetos interdisciplinares são ótimos para esse tipo de professor. Envolva-o aos poucos em novas atividades, aumentando sua importância e participação conforme o tempo avança. Façam rodinhas de professores, troque experiências e histórias. Aos poucos, a carapaça vai se abrindo. Esse tipo de educador precisa entender que uma crítica é algo positivo, que as pessoas querem que ele seja um profissional melhor e mais bem-preparado.



Esse pterodátilo foi um dos primeiros grandes aproveitadores da História. Sua forma de caçar consistia em voar, localizar uma manada de dinossauros herbívoros e ficar por ali, circundando-os. Mais hora, menos hora, atraiam a atenção de dinossauros carnívoros, que faziam o serviço. Aí, era só descer e juntar-se ao banquete.

Este tipo de comportamento está longe de ser novidade nas escolas. Quantas vezes você não vê seus alunos fazendo trabalho em equipe, no qual a contribuição de um dos membros é apenas assinar seu nome?

Se tal comportamento é feito por adultos, então, é ainda pior. Certos educadores são mestres na arte de se aproveitar do sucesso alheio. Alguns fazem isso de tal maneira, são tão diplomáticos, que as pessoas de quem eles se aproveitam nem percebem o fato – e, no final, até agradecem os Dáctilos Brancos.

Lutando contra os Dáctilos Brancos – Esse tipo de professauro tem a vantagem de esconder suas pistas muito bem – por estar sempre voando, uma hora aqui, outra ali, confunde a todos na escola. Algumas dicas para identificar e lidar com ele:

1) Acompanhamento constante e variado. O diário de classe e o relatório de um projeto são bons instrumentos de controle, mas não os mais eficazes.


Nessa época de e-mail, teleconferência, a conversa frente a frente ainda é uma das formas mais seguras de identificar quem realmente faz a diferença dentro da escola. Essas pessoas não temem uma conversa e são seguras em suas respostas – até mesmo quando dizem “não sei” quanto a um detalhe, o fazem com certeza de que, bem, todo o resto eles sabem. Já o Dáctilo Branco procura subterfúgio, costuma voltar sempre para um porto seguro qualquer, repetindo as mesmas coisas.


2) Varie. Da mesma forma que é bom misturar sempre seus alunos, criando novos grupos de trabalhos e evitando a formação de panelinhas, estimule seus colegas professores a conversarem uns com os outros, formarem grupos diversos a cada projeto, variarem a companhia. É uma forma rápida de identificar os aproveitadores.



À primeira vista, o cinodonte é um grande exemplo de adaptação – mais ou menos como os carros de hoje que podem andar com gasolina ou com álcool. Mais ou menos do tamanho de um gato, o cinodonte tinha características tanto de mamífero como de réptil, o que o faz ser considerado o elo perdido entre esses dois grupos.

Uma das características desse animal era seu impressionante instinto de sobrevivência. Se a fome apertasse, ele comia qualquer coisa que encontrasse na frente – até mesmo seus próprios filhos. A lógica deveria ser a seguinte: bem, se eu morrer, os filhotes não sobrevivem e, se eu sobreviver, posso ter outra ninhada. Para sorte do cinodonte, ainda não haviam advogados na época.


O professor cinodonte também faz tudo para sobreviver em sua escola. Procura sobreviver em um emprego, em vez de desenvolver a própria competência, especializa-se em sabotar e puxar o tapete de outros.

É triste, pois se ele aplicasse todos esses planos mirabolantes para construir, em vez de sabotar e destruir, seria um grande profissional.

Para a sorte dos verdadeiros profissionais da educação, esse tipo de dinossauro não consegue sobreviver por muito tempo. Mais dia, menos dia, é descoberto e expulso de sua instituição de ensino. Aliás, para o bem de todos, esse tipo de dinossauro provavelmente não conseguirá emprego em nenhuma outra escola, irremediavelmente queimado no mercado. E, para que isso aconteça, esse tipo de pessoa não precisa ser um cinodonte o tempo inteiro. Basta uma ação. Um nome e uma reputação leva-se anos construindo, e podem ser destruídos em questão de minutos. Por isso, os verdadeiros profissionais da educação têm a ética e o amor à profissão acima de tudo, sempre. É o caminho mais seguro para o sucesso.



Certo, não é um dinossauro. O aegialodon era uma espécie de rato, esquisito e feio de doer, pesando menos de 30 gramas em meio a animais que pesavam toneladas. Se alimentando de insetos, minhocas e, se fosse preciso, de grama, esse bichinho, um dos primeiros mamíferos, conseguiu sobreviver e passar seus genes a uma gama incrível de seres. Do aegialodon vieram ratos; pacas; tigres; lobos; orangotangos; leões; cavalos; capivaras; ursos etc.

E olha que esse animalzinho surgiu, assim sem saber muito bem qual era seu lugar no mundo.

O mais famoso dos aegialodon de hoje é a informática. Em seus primórdios, poucos poderiam imaginar que ela fosse tão dominante.


Da mesma maneira, alguns educadores não enxergam a necessidade de fazer determinado curso, de se reciclar, de aprender sobre tal assunto. Os que percebem essas tendências antes são os que têm maior chance de sucesso no futuro próximo. Leia muito, informe-se, descubra o que vem por aí. Faça a sua carreira. Só depende de você.



Obs.: Matéria cedida pela Revista Profissão Mestre
Colaboração de Brasílio Andrade Neto
(Edição n.º 52 – janeiro/2004).