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SALUTE – 3.ª SÉRIE

O jogo desenvolve o cálculo mental. Utiliza-se o baralho tradicional, sem o valete, a dama e o rei. O Ás vale 1. Os jogadores são três. Dois sentam-se frente a frente e ficam, cada um, com um monte, virado para baixo. A cada jogada, os dois tiram a carta de cima de seu monte, ao mesmo tempo, e dizem “salute”, segurando a carta na testa, de modo que possam ver apenas a do adversário. O terceiro jogador (juiz) anuncia a soma dos números das duas cartas. Os outros dois jogadores tentam adivinhar o valor das próprias cartas. Aquele, entre os dois, que primeiro descobrir o valor correto da sua própria carta (cálculo mental) fica com as duas cartas. Ganha quem conseguir um monte maior. O jogo pode ser praticado também com multiplicação.

AVANÇANDO COM O RESTO – 4.ª SÉRIE

A brincadeira desenvolve o cálculo mental e a multiplicação. São necessários um tabuleiro como o mostrado abaixo, um dado e duas fichas de cores diferentes. Jogam duas equipes, com dois alunos cada. O início é a casa 43. Jogando o dado, cada equipe faz a conta de divisão em que o dividendo é o número da casa onde está a ficha e o divisor é o número que saiu no dado. O resto será o número de casas a avançar. Se a equipe errar o cálculo, perde a vez. As equipes devem chegar com suas fichas exatamente à casa marcada com a palavra “fim”. Se o resto obtido der um resultado que levaria a ficha a ultrapassar esse ponto, ela deve continuar no mesmo lugar, pulando a jogada. Vence quem chegar primeiro à casa “fim”.

JOGO DO PRATINHO – PRÉ-ESCOLA

Sua função é introduzir e aprofundar conceitos que comecem com contagem de rotina e evoluam para as operações de soma e subtração. Praticada com certa freqüência, a atividade também permite a memorização. O material necessário para o trabalho de um grupo de quatro alunos se resume a um dado, cinco pratinhos de papelão – um maior e quatro menores – e 20 a 30 tampinhas de garrafa. Cada integrante do grupo fica com um pratinho vazio. No centro é colocado o prato maior com as tampinhas. A criança lança o dado. O número que sai corresponde à quantidade de tampinhas que ela leva para seu prato. O jogo termina quando as tampinhas do prato do centro terminam. Ganha aquele que tiver o pratinho mais cheio. Todos os passos da partida podem ser registrados num papel e as totalizações são pedidas para o grupo a cada rodada. Assim, eles vão treinando o cálculo. Ao mesmo tempo, outras questões são lançadas: Qual a maior quantidade de pontos encontrada no dado? E é a menor? Se você jogou o dado e fez três pontos, quantos faltam para atingir a maior quantidade encontrada no dado?

 

Aprender brincando não é apenas um clichê quando se trata de ensinar operações matemáticas para as primeiras séries do Ensino Fundamental. Jogos de verdade, com baralho ou tabuleiro, são considerados hoje alguns dos melhores métodos para levar as crianças a lidar com números e cálculos. Tudo porque a calculadora de bolso jogou para o esquecimento as contas trabalhosas com lápis e papel. “No mundo atual, se exige das pessoas mais estimativa do que cálculo exato”, diz o professor e autor de livros didáticos Antônio José Lopes Bigode. “Quando se quer cálculo exato, a máquina está sempre presente.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na Escola Centro Social Marista Marcelino Champagnat, de Cascavel (PR), o ensino das operações não é baseado na repetição de “continhas armadas”. Lá, são utilizados três modelos de ábaco – o romano, o de pinos e o soroban –, além do material dourado. Os educadores paranaenses, coordenados pela professora Anna Karina Menegussi, colocam as crianças para fazer cálculos baseadas em histórias de livros de literatura lidos em sala e propõem jogos variados (como os mostrados nos três quadros desta reportagem) feitos de materiais bastante simples.


Raciocínio e calculadora

Goste-se ou não, a calculadora exigiu que as aulas de Matemática para as primeiras séries do Ensino Fundamental passassem a ser encaradas de outra forma. “Saber Matemática é muito mais do que saber fazer conta no papel, de forma mecânica”, diz Bigode. Então, deve-se abolir o ensino do cálculo escrito? Até existe gente séria que defenda isso, mas não é preciso ir tão longe. “As técnicas operatórias ainda fazem parte da cultura da humanidade e não é justo ignorá-las”, diz Kátia Smole, coordenadora-geral do Mathema, grupo de assessoria em educação matemática, de São Paulo.

O que mudou foi a importância da conta armada, que antigamente ocupava o centro do currículo de Matemática da Educação Infantil à 4.ª série. Hoje, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) dizem que o cálculo escrito deve “conviver com outras modalidades de cálculo, como o cálculo mental, as estimativas e o cálculo produzido pelas calculadoras”. São essas as competências que devem ser trabalhadas e desenvolvidas com a turma, todas simultaneamente.


Todas as operações juntas

Pode parecer muita coisa, mas é bom lembrar que, liberadas de exercícios de cálculo, as crianças têm mais tempo para pensar e menos chance de se aborrecer. Além disso, como as operações serão introduzidas de modo menos rígido e programático do que eram, o aprendizado pode (e deve) se estender pelas quatro séries.

 


Um dos vários “dogmas” que passaram por revisão no ensino das operações foi a ordem em que elas são apresentadas à classe. Tradicionalmente, começava-se pela adição, seguida pela subtração, depois pela multiplicação e, finalmente, pela divisão. Em grande parte, essa seqüência foi estabelecida segundo o grau de complexidade técnica de cada algoritmo – o que, como vimos, já não tem tanta importância. Por isso, o ideal é trabalhar as operações conjuntamente, sem que isso impeça a criação de períodos dedicados a apenas uma delas.


O que importa é que os estudantes cheguem, tanto quanto possível, a deduzir as operações apresentadas em situações-problema que estimulem o raciocínio matemático. Atividades apoiadas em materiais didáticos e jogos são fundamentais nessa fase. Segundo Bigode, trata-se de um período em que a calculadora é desnecessária, a não ser para uso lúdico, como mais um jogo, levando os estudantes a perceber regularidades e propriedades matemáticas.


O aluno escolhe o cálculo

“O próprio cálculo mental é, para as crianças, um jogo” – diz Bigode. Estratégias de cálculo mental muitas vezes são “sacadas” pela garotada por conta própria, mas o fundamental é estimular o processo por meio de atividades. Uma estratégia comum é o agrupamento. Ao ser solicitado a somar 25 + 12, o aluno notará que é fácil e lógico somar primeiro as dezenas (20 + 10) e depois as unidades (5 + 2), chegando rapidamente ao resultado: 37. Outro caminho até o mesmo ponto é arredondar 25 para 30, somar a 12 e subtrair os 5 somados a 25 no início.

Quando os estudantes já tiverem adquirido alguma familiaridade mental com as operações, a calculadora será uma grande companheira.

Liberados de se adaptar forçosamente a uma única técnica de realizar operações, eles poderão desenvolver e exercitar outros recursos de cálculo – em especial o cálculo mental. Com isso, mesmo os que teriam dificuldade com as técnicas tradicionais conseguiriam resolver problemas, simplesmente porque a máquina permite que todos possam calcular.

Desse modo, os desafios em sala de aula tendem a mobilizar as crianças integralmente, sem reservas, que é o melhor modo de aprender.

Bigode ilustra a vantagem de o aluno se tornar sujeito da atividade com um antigo provérbio chinês, atribuído a Confúcio: “Se ouço, esqueço; se olho, recordo; se faço, compreendo”.


A vantagem da estimativa

Lado a lado com o cálculo mental, o hábito da estimativa deve ser incentivado, ou mesmo construído, entre a garotada. O costume de estimar (idade, tempo, peso, distância) é muito comum no mundo adulto, mas os pequenos precisam se familiarizar com noções de grandeza para começar a adotá-lo. Por exemplo: ao fazer uma operação do modo tradicional, o aluno corre o risco de errar e não notar. Se for solicitado a somar 27 + 25, ele poderá, ao desmembrar os números, chegar ao resultado 412 (5 +7 = 12 e 2+2 = 4). Sem estimar grandezas, ele não perceberá o erro.

Ao abordar as operações, Bigode ressalta que é preciso evitar a caracterização tradicional que identifica, por exemplo, subtração a “tirar” ou multiplicação a “distribuir grupos”. Uma conta de subtração pode também significar comparação (tenho três bolas e meu amigo tem cinco; quantas ele tem a mais?) ou de complementação (tenho três molduras e cinco fotos; quantas molduras faltam?). A multiplicação pode significar, além de distribuição (grupos de dez bolas para cinco meninos; qual o total de bolas?), combinação (cinco tipos de pão e três tipos de recheio; quantas variedades de sanduíches são possíveis?).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Explorando várias representações, você evita controlar o universo mental das crianças, que, muitas vezes, conhecem informalmente conceitos e procedimentos matemáticos, mas apenas não têm consciência disso. Levar o estudante a descobrir esse saber frente a uma situação-problema é o que Kátia Smole chama de “desenvolver poder de decisão”. “A matemática tem muitos caminhos possíveis”, diz ela.


Obs.: Matéria cedida pela revista Nova Escola
Colaboração: Márcio Ferrari
(Edição n.º 173 – Junho/Julho de 2004)