Por Sandra Martins

Estimular os alunos a vencer as dificuldades em escrever e articular suas idéias, levando-os a pesquisar não só as origens do alfabeto, como a escrita e sua evolução até os dias atuais. Esta é a proposta do projeto interdisciplinar “A Origem da Escrita”, desenvolvido por dez turmas, de 5.ª a 8.ª séries, do Ensino Fundamental da Escola Municipal Monte Castelo, localizada em Coelho Neto. As atividades aconteceram durante o primeiro semestre e envolveram pesquisas, exposições e dramatização.

A viagem no tempo começou em fevereiro, sob o comando da professora de Língua Portuguesa e Espanhola, Rogeria Pereira da Costa, coordenadora do projeto. A professora utilizou o texto “A Destruição da Babilônia” – reportagem do programa Fantástico de abril de 2003, que fazia referências ao legado babilônico, à invenção da roda e da escrita – para dar início ao trabalho de compreensão textual.

Com a crescente complexidade dos vocábulos – cuneiforme, pictográfica, caracteres egípcios, pictogramas maias –, alunos e professora eram levados a pesquisar seus significados em enciclopédias e dicionários, pois a cada palavra específica descortinava-se um mundo de informações de história, geografia e arqueologia lingüística.

“Para dirimir dúvidas, eu consultava alguns professores e os informava sobre cada passo das nossas conquistas, ao mesmo tempo em que conseguia seduzi-los para participar do projeto”, explica Rogeria. Desta forma, a interdisciplinaridade foi garantida com o apoio de professores das áreas de História, Artes Cênicas, Ciências, Geografia, Matemática, Língua Portuguesa e Estrangeira.

Para fazer a linha do tempo, fez-se um levantamento histórico desenvolvido com a parceria da professora de História, Ademilde da Paixão Sant’Anna, também coordenadora. O projeto foi, então, dividido em seis módulos: I – Evolução do Homem (da Pré-História ao Homo Sapiens); II – Cultura Egípcia (Mesopotâmia, Babilônia); III – Alfabetos (Tipos de escritas: escrita cuneiforme, os alfabetos); IV – Origem dos Alfabetos; V – A Escrita na Era Virtual; VI – Bibliografia Utilizada. A apresentação dos estandes ficou a cargo dos alunos e o material bibliográfico produzido por eles ficou à disposição para consulta em arquivos virtuais no Laboratório de Informática da Escola Monte Castelo.

A partir de um vídeo sobre a evolução do homem, Ademilde fez com que os estudantes recuassem no tempo: “Eles saíram da era do Big-Bang e viajaram até o surgimento do Homo Sapiens”, disse, acrescentando que os alunos reproduziram nas pedras de mármore tudo aquilo que estudaram. “Eu tenho o hábito de trabalhar o conteúdo textual em sala de aula e, depois, a parte prática dos projetos. Dessa forma, as aulas ficam mais dinâmicas e consigo manter o interesse do aluno”.

Com o filme norte-americano A Arca de Noé, os alunos de 5.ª série de Rogeria trabalharam o vocabulário, sintetizaram textos em pequenas frases, reconfiguraram em um novo texto, fizeram o diálogo entre textos, confrontando várias versões, e, à medida que iam desconstruindo aquele texto, um novo era criado para cada cena vista no filme.

Para manter o interesse dos estudantes, os educadores possibilitavam que o texto teórico reescrito tomasse a forma de histórias em quadrinhos ou livrinhos de história, principalmente aqueles que faziam referência ao período babilônico.

A cultura maia e o mundo hispânico foram trabalhados pela professora Rogeria nas aulas de Língua Espanhola. Na ocasião, a educadora pode aprofundar temas como registro escrito e a colonização espanhola.

No campo das Ciências, o professor José Miguel dos Santos levou a turma da 6.ª série a fazer um estudo sobre a filogenia do homem (história da evolução do homem primitivo até hoje), sobre a descoberta do fogo e sobre os primeiros registros feitos nas cavernas e nas pedras.

A arte rupestre encontrada na Europa, especificamente na França, foi dinamizada pelo professor de Língua Francesa, Carlos Fragaite. Os alunos de 5.ª, 6.ª.e 7.ª séries retrataram pinturas rupestres utilizando diversas técnicas e materiais – cartolina, pintura, arte na pedra. “A qualidade dos trabalhos foi muito boa”, disse Fragaite animado, ao citar que, dos 46 cartazes e pedras apresentados, 14 selecionados receberam conceito MB (muito bom) e sete, o conceito O (ótimo).

Nos exercícios de dramatização, os alunos da 5.ª série foram induzidos a uma “viagem no tempo”. Para superar o medo, a professora Rogeria, que dramatizou uma “cientista louca”, disse que eles não seriam “vistos” e somente observariam o que ela falasse. “Deve-se ter muito cuidado com este processo de regressão, por mexer com o caráter psicológico”. Para este módulo, os alunos, além de fazerem cópias dos desenhos dos livros, tiveram a liberdade de recriar a pintura rupestre nos dias de hoje.

Eles “observaram” aquilo que a humanidade já viveu, a evolução do homem: mudando a aparência, perdendo pêlos, diminuindo o tamanho do corpo, dos dentes, das unhas. Enfim, todos esses detalhes foram trabalhados e explorados nas conversas, na observação do vídeo e em desenhos. E eles transformaram isso em artes plásticas. “Na medida do possível, procuramos empregar diversas linguagens – dramatização, desenho, pintura, modelagem”, disse a coordenadora.

Para que houvesse integração entre as séries, as coordenadoras do projeto tiveram que usar a seguinte estratégia: os alunos de 5.ª a 8.ª séries foram convidados para se reunirem nos dois sábados anteriores à culminância, a fim de finalizar a confecção dos cartazes, a modelagem das peças do cenário e dos módulos expostos. Os quase 40 estudantes foram divididos de acordo com a série e, conforme os grupos iam recebendo as tarefas, os professores solicitavam que os alunos da 8.ª série atendessem às dúvidas dos mais novos.

A Culminância do Projeto

A culminância aconteceu com a exposição dos seis módulos nos estandes, a exibição do CD-ROM sobre cultura maia e a dramatização de uma cerimônia de chá em uma casa japonesa, cujas personagens eram uma sacerdotisa grega (Liane de Lima Souza, 15 anos, 8.ª série), uma chinesa (Ester Souza da Silva, 11 anos, 5.ª série), uma muçulmana (Caroline Carvalho de Lima, 12 anos, 6.ª série) e a anfitriã japonesa (Karina França Braga, 12 anos, 7.ª série).

Módulos:

I – Evolução do Homem – da Pré-História ao Homo Sapiens

Pedras-mármore com pinturas rupestres, cartazes, meios de comunicação feitos de caixas de papelão.
Apresentação: Breno de Brito Pereira, 13 anos, 6.ª série.

II – Cultura Egípcia – Mesopotâmia, Babilônia

Reprodução da Pedra Roseta (um dos primeiros registros do homem, encontrado em 1799 por cientistas expedicionários de Napoleão Bonaparte), maquetes do período babilônico e da Arca de Noé, reprodução artística da escrita cuneiforme, pedras-mármore com hieróglifos egípcios, objetos feitos de massa representando instrumentos e utensílios domésticos antigos.
Apresentação: Sarah Cristhina A. Moraes, 12 anos, 6.ª série.

III – Alfabetos. Tipos de Escritas: escrita cuneiforme, alfabetos

Cartazes com diversos tipos de escritas – Sumérica, Etrusca, Romana, Grega, Russa, Tcheca, Chinesa, Japonesa – e movimentos da escrita – da direita para esquerda, da esquerda para direita, de cima para baixo.
Apresentação: Joana Cláudia de Souza Soares, 11 anos, 5.ª série.

IV – Origem dos Alfabetos

Mapas com escritas pictográficas, hieroglíficas (caracteres egípcios), semítica (base para formação de várias línguas contemporâneas), fenícia, hebraica, etrusca, greco-romana (utilizada por várias culturas, inclusive a nossa), tcheca, russa, chinesa e japonesa.

V – A Escrita na Era Virtual

Considerando a linha do tempo, do primata até a era virtual, as pessoas são convidadas a pesquisar, estudar e sonhar, através do computador que os espera a navegar, porque navegar é preciso.

VI – Bibliografia Utilizada

Foram expostos diversos livros, entre eles: coleções sobre grandes impérios e civilizações, mundo egípcio, mundo islamita; “Mistérios egípcios”, de Siau Lami, da Editorial Prado; “As Letras Falantes”, de Orígenes Lessa; a Bíblia; o Alcorão (traduzido para o português); a coleção de Ruth Rocha e Otavio Roth sobre o Homem e a Comunicação; e uma apostila montada pelos professores e alunos, com vocabulário básico que serviu para toda a pesquisa.


Escola Municipal Monte Castelo
Coordenadoras: Professoras Rogeria Pereira da Costa e Ademilde da Paixão Sant’Anna
Tel.: (21) 3372-6587