Edição 38 - Xeque-Mate O Xadrez nas Escolas


A frase é da educadora norte-americana Bernice McCarthy: "Não existe apenas uma maneira de aprender, nem apenas uma maneira de ensinar". Isso se percebe em sala de aula. Há dezenas de reações diferentes a um exercício, a uma apresentação. Alguns de seus alunos reagem mais a uma explicação falada, outros preferem debates. Existem aqueles que, ao ouvirem a expressão "trabalho em equipe", já levantam a mão, perguntando: Pode ser individual, professora?

Cabe ao professor identificar e se adaptar a cada estilo de aprendizado do aluno. Até aí, tudo bem, o problema é que esses estilos de aprendizagem tendem a ser diametralmente opostos, ou seja, se você tiver quatro tipos de alunos em sua sala de aula, toda ação que você fizer irá encantar 25% da turma... e provocar bocejos ou apreensão nos outros 75%.

O truque, então, é fazer uma aula mista, em que cada parte agrade uma parcela dos alunos. Com o passar do tempo, a turma irá criar uma identidade média clara, facilitando seu trabalho. Veja como identificar os principais tipos de alunos e o que fazer para prender a atenção de cada um deles:

1 - DIPLOMATA


- Prefere trabalhar com pessoas a lidar com informação escrita.
- Escuta atentamente os outros antes de formar suas próprias idéias.
- Prefere estudar em grupo.
- Gosta de atenção e feedback pessoais do professor.
- Quando se emociona com algo, o aluno diplomata gasta algum tempo pensando sobre o que sentiu.
- Demora para digerir e responder à informação, o que, às vezes, pode ser confundido com desatenção.
- É influenciado pelo grupo, conta muito com a colaboração de todos.
- Esse tipo de estudante precisa da aceitação do resto da classe e de uma certa empatia com o professor.
- Para ele, uma informação só é boa se servir para todos no grupo.

Sugestões para lecionar para o Diplomata:

a) Você não precisa fazer atividades em grupo toda aula, até porque isso toma muito tempo: arrastar carteiras daqui para lá, conversas paralelas, dificuldade em voltar a aula para o ritmo normal etc. Mas você pode fazer enquetes rápidas, perguntando o que os alunos acham da matéria, quem discorda e quem concorda com ela.
b) Pedir que os estudantes resolvam um exercício em pares também estimula o trabalho em grupo de uma forma mais rápida.
c) Não se atenha apenas às notas e conceitos; passe a seus alunos informações sobre como eles estão indo, quais as áreas precisam ser melhoradas (e como fazer isso), entre outras.
d) Passe a seus alunos reportagens de revistas que tenham a ver com sua matéria e peça que seus alunos a analisem em pequenos grupos; assim, você agrada tanto o Diplomata quanto o Burocrata (veja abaixo).

2 - BUROCRATA


- Aprende melhor ao se concentrar em um pequeno tópico até virá-lo do avesso e, só em seguida, passa para os outros;
- Precisa de instruções detalhadas para fazer um exercício ou trabalho.
- Prefere trabalhar sozinho.
- Pensa muito no que vai dizer antes de falar, o que causa uma baixa participação em sala de aula.
- O professor pode contar a melhor piada, que ele não se deixa levar pela emoção e usa apenas a razão para analisar as matérias.
- Sua forma preferida de receber informação é através de leituras e ditados do professor.
- Dá muito valor à informação documentada e "oficial".
- Tende a rejeitar informações subjetivas.
- Precisa ter a sensação de controle de seus estudos.

Sugestões para lecionar para o Burocrata:

a) De vez em quando, comunique algo através de um bilhete escrito e assinado. Pode dar um pouco mais de trabalho do que falar e escrever no quadro o assunto, mas agrada mais a uma boa parcela de sua turma.
b) Sempre que for possível, ancore sua matéria com dados sólidos: Quem fez, quando, onde. Você só precisa falar uma frase a mais, e dá o embasamento teórico que o diplomata precisa.


PRÁTICO

- Gosta de tomar decisões e resolver problemas.
- Prefere que a aula vá direto ao assunto, sem muitas ações paralelas.
- Agarra-se a qualquer oportunidade de aplicar novas soluções a um problema, mesmo sem pensar muito antes.
- Gosta de exercícios alternativos, como preparar aulas ou maquetes, mas prefere trabalhar sozinho.
- Caso não veja nenhuma utilidade pessoal em sua aula, ele descarta a informação assim que entrega a prova.
- Precisa se sentir útil.

Sugestões para lecionar ao prático:

a) Faça exercícios que demandem o uso de lógica para serem resolvidos. Inspire-se nas revistas de palavras cruzadas.
b) Use e abuse de listas. Cinco regras para acentuar bem, três axiomas de probabilidade etc. Essa é uma maneira de agradar tanto o Prático quanto o Burocrata.
c) Reforce a utilidade da matéria que você ensina. Caso ela não possa ser utilizada no mesmo dia, reforce os benefícios futuros.

RADICAL

- Prefere aprender através da interação com o grupo.
- Gosta de riscos e desafios.
- Prefere ligar-se com outras pessoas cheias de energia e entusiasmo. Em outras palavras, é a turma do fundão.
- Reage melhor a novidades: apresentações em Power Point, vídeos, ambientes 3D.
- Tem dificuldades em prestar atenção a um tópico por muito tempo, precisa pular para outro assunto e, então, voltar ao primeiro.
- Precisa estar entusiasmado com a matéria ou seus progressos.
- Gosta de conhecer pontos de vista diferentes sobre os assuntos.

Sugestões para lecionar para o Radical:

a) Apresente novidades. Basta um exercício inédito a cada quinze dias ou mês para agradar os radicais. A chave é variar. Se você passar um filme num mês, espere, ao menos, três meses antes de passar outro.
b) Faça pausas durante sua apresentação, conte uma história pitoresca sobre a matéria (fale algo como "muitos livros não trazem essa informação, mas..." e retome o assunto).
c) Durante os trabalhos de equipe, permita que os grupos demonstrem seu envolvimento de uma maneira um pouco mais expansiva. Você não vai conseguir que todas as equipes conversem em um clima moderado, então permita alguns gritos e pulos na mesa: os radicais precisam exprimir suas idéias dessa maneira.
d) Pureza absoluta - Ao analisar seus alunos, você vai perceber que não existem, em sua sala, nenhum discente completamente Radical ou Diplomata. Mas todos têm um estilo de aprendizagem ligeiramente dominante e que faz toda a diferença na hora de compreender a matéria. Atenha-se a tais preferências de seus alunos.

Colaborador: Raúl Candeloro
Obs.: Matéria cedida pela Revista Profissão Mestre
Site: www.profissaomestre.com.br