As rápidas mudanças no mercado de trabalho, a globalização e a necessidade de formar profissionais capacitados para atuar com eficiência e qualidade fez com que o ensino técnico seguisse por um outro rumo: o ensino por competências.

Por que competência?

Preparar o profissional como um todo para enfrentar os desafios do mercado de trabalho. Esse é o objetivo do ensino por competências, que procura desenvolver no aluno conhecimento em diversas áreas, mas competência em uma área específica. Segundo Marise Ramos, diretora de Ensino Médio da Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec), cuja abrangência é nacional, a utilização do perfil de competências para elaborar os cursos torna mais evidentes os objetivos da formação, de modo que os professores e alunos conheçam onde querem chegar e possam fazer um "acordo" na consecução desses objetivos.

Nessa situação, o aluno é o agente. "Não adianta o estudante somente receber o conteúdo transmitido pelo professor, ele tem de ter habilidades para resolver problemas e enfrentar os desafios do dia-a-dia", explica o professor Pedro de Almeida Souza, coordenador da Escola Técnica de Montes Claros, MG. "Esse todo, na hora que o aluno coloca em ação, melhora a disposição, ele enfrenta a situação proposta", completa.

O papel do professor

No ensino por competências, o docente passa a ser o facilitador. "O foco da aprendizagem é centrado no aluno e ele sente-se mais responsável por isso", afirma Nina Kátia Alexandre Cavalcante, diretora de formação profissional do Senac de Porto Velho, RO. O professor Pedro, da Escola Técnica Montes Claros, acrescenta ainda que o professor deve procurar desenvolver no aluno a visão empreendedora.

E como o professor pode preparar-se para o ensino por competências? Estando disposto a buscar novos desafios. A formação continuada é uma estratégia para o professor manter-se permanentemente atualizado. Para Marise, "ações nesse sentido são obrigações do Estado. Ter qualidade de trabalho, acesso à informação e ao conhecimento sistematizado, bem como às tecnologias e a materiais como jornais, revistas e livros que facilitem esse acesso, é um direito do professor".

Mas tudo isso depende de um fator importante. Segundo ela, a qualidade da formação inicial é fundamental. "Professores bem formados nas áreas específicas e nos assuntos próprios da educação serão capazes de se apropriar de modelos educacionais conforme sua análise crítica e em coerência com os princípios filosóficos e pedagógicos que ordenam sua prática".

Como avaliar

Nesse modelo de ensino, a avaliação torna-se um desafio. "No ensino por competências, exige-se que o aluno seja avaliado em situações concretas ou mais próximas da realidade, visto que os estudantes mobilizam conhecimentos diante de desafios", afirma Marise. Na opinião de Sônia Fontoura Cardoso, coordenadora pedagógica da Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), a avaliação é mais complicada, pois não são avaliadas as disciplinas, e, sim, as competências. "A responsabilidade é muito grande, pois o aluno precisa estar totalmente apto, competente".

Parceria

Um dos pontos mais fortes no ensino por competências é a parceria das escolas com as empresas. Geralmente, essa ligação acontece com as visitas técnicas, orientadas por professores, e através do estágio. "A relação escola-empresa deve ser fértil, respeitando-se as características e o papel que cada uma tem na formação profissional. A experiência em uma não substitui a outra", comenta Marise. Na opinião de Pedro, essa relação é muito importante no processo. "Deslocamos nossos alunos para a indústria, pois assim eles vêem como funciona. A tecnologia avança mais rápido dentro da empresa e, se a escola não fizer essa integração, ficará obsoleta". Ele afirma que a escola precisa estar interligada com a empresa, uma vez que precisa saber que tipo de profissional o mercado espera, para, então, poder formá-lo, "pois de nada adianta formar um técnico que o mercado não procura".

 

Fonte: Escola Técnica de Montes Claros/MG.
Obs.: Matéria extraída da Revista Profissão Mestre
E-mail: www.profissaomestre.com.br

 

 


 

 

Saiba o que mudou com o método de ensino por competências

Como era
Como ficou
Paradigmas
Transmissão e acumulação do conhecimento. Foco no ensino. Formação técnica para o posto de trabalho.

Construção de competências. Foco na aprendizagem. Formação técnica para o processo de produção. Auto-socioconstrutuvista.

O conhecimento
Fragmentado, dividido por disciplinas, de caráter enciclopédico, memorizador e cumulativo.
Intertransdisciplinar, contextualizado, privilegia a construção de conceitos e a criação do sentido.

O currículo (organização da escola)

Fracionado, estático, organizado em disciplinas. Eixo em termos do conhecimento, das matérias.
Em rede, dinâmico, organizado em áreas de conhecimento e temas geradores. Em função das pessoas e de seus projetos (eixo nos projetos, problemas e/ou desafios significativos do contexto produtivo).É um meio para guiar a prática pedagógica.

O conteúdo

Um fim em si mesmo.
Um meio para desenvolver competências, para ampliar a formação dos alunos e sua interação na realidade, de forma crítica e dinâmica.

A sala de aula

Espaço padronizado de transmissão e recepção do saber.
Local multifuncional de reflexão e de situações de aprendizagem (atividade do sujeito).

Toda atividade

Padronizada, rotineira. Caráter transmissivo, elucidativa, explicativa.
Centrada em projetos e resolução de problemas. Caráter desafiador, de pesquisa, de transferência. Situação significante (análises, sínteses, inferências, generalizações, analogias, associações e transferências).

O professor

Transmissor do conhecimento. Depositário da sabedoria.
Facilitador da aprendizagem, mediador do conhecimento. Monitor, orientador e assessor. Estimular o aluno a aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e o aprender a conviver.

Pedagogias

Valoriza os objetivos da educação. Igualdade (buscando eliminar as diferenças).
Valoriza a finalidade da educação. Ativa, diferenciada, construtivista, cooperativa, aberta, crítica. Eqüidade (buscando a igualdade sem eliminar as diferenças).

O aluno

Receptor (aprendiz do conteúdo). Memorista (compreensão limitada). Passivo. Alienado.
Foco. Construtor do conhecimento. Cidadão.Sujeito que aprende. Agente do processo: faz, pergunta, pesquisa, descobre, cria, aprende.
A avaliação
Classificatória e excludente. Lógica seletiva.
Feedback. Busca avaliar as competências adquiridas. Validação. Auto-avaliação. Lógica formativa.
Palavras-chave
Reprodução. Igualdade. Unidade. Eficiência. Racionalidade. Obediência. Submissão. Hegemonia (universalização de uma visão de mundo). Métodos e técnicas. Instrumentos.
Produção. Multifuncionalidade. Competência. Laborabilidade. Flexibilidade. Contextualização. Pragmático. Intersubjetividade. Empreendedorismo. Iniciativa. Inovação. Pluralidade. Visão sistêmica. Transferência. Autonomia. Projetos.