
Por
Wagner Siqueira*
Dentre as
inúmeras abordagens que visam a diagnosticar as deficiências do desempenho
do Sistema Educacional Brasileiro, duas merecem destaque. Uma é a posição
dos que atribuem à atuação dos professores as principais responsabilidades
pelas falhas do Sistema de Ensino. Nessa posição, os diagnósticos sugerem
desde a incompetência até a falência ética. A outra posição, que muitos
professores ainda adotam, é a dos que atribuem aos alunos, embora "perdoando-os"
como vítimas da sociedade moderna, o ensino deficiente que acabaram recebendo
na escola. Também aqui os diagnósticos variam muito, desde o desinteresse
generalizado até a delinqüência.
Outras posições e diagnósticos bem relevantes e pertinentes procuram explicar a insatisfatoriedade do Sistema Educacional. Não é o caso de examiná-las aqui. Apenas se registre que, estranhamente, pouca ênfase se dá ao diagnóstico que destaca uma dimensão decisiva, que exerce profunda influência sobre o desempenho do sistema: a gerência educacional.
. . . Tradicional, mas Equivocada
De fato, a polarização do problema no Corpo Docente ou no Corpo Discente é equivocada, a partir da premissa mesma em que se fundamenta, ou seja, a de que o problema poderia ser solucionado pela reparação da "parte" errada. Isto é falso, porque a causa mais determinante do problema não está no aluno, nem tampouco no professor. Em última análise, tanto um quanto o outro estão ligados por um mesmo vínculo: ambos acham-se, de certa forma, subordinados a uma autoridade superior comum, o diretor da entidade educacional. Á medida que o desempenho deste for ineficaz, o desempenho dos professores será correspondentemente afetado e, por conseqüência, o dos alunos também.
Torna-se fácil, portanto, identificar aí a existência de um círculo vicioso comportamental, que só se poderá retificar mediante uma intervenção em nível de comando superior, de gerência, e não em nível "intermediário" (professores) ou "primário" (alunos). Somente assim os resultados poderão refletir-se por toda a estrutura do Sistema de Ensino.
. . . O Verdadeiro Problema e como Abordá-lo
Na realidade, o estudo e o equacionamento do problema hão que partir da pergunta: sobre quais características da "Gestão Educacional" é preciso Intervir? A análise de determinados indicadores poderá facilitar um diagnóstico preliminar e uma primeira resposta à questão.
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. . A Eterna Discussão (também equivocada): Eficiência ou Eficácia?
Um desses indicadores é a atitude (ainda que não conscientizada) do dirigente
de entidade educacional de que eficiência e eficácia são duas dimensões
distintas e que, portanto, devem ser encaradas separadamente. Este é um
dos pontos capitais a serem considerados, uma vez que a concepção do dirigente
educacional a respeito desses dois conceitos refletir-se-á diretamente
nos comportamentos que ele manifestar.
O que se verifica freqüentemente por parte do dirigente educacional é
um equívoco praticado sobre o que realmente significam eficiência e eficácia
em seu nível de supervisão. O erro mais comum é o dirigente conservar
como chefe, supervisor, diretor, dono da escola, a mesma percepção de
eficiência que tinha como professor. Assim, o professor que preparava
mais aulas e que se preocupava em ministrá-las magistralmente "transfere"
para a função de gestão essa noção de eficiência, enfatizando seu papel
como orientador e supervisor de currículos e programas. O mesmo se verifica
com a sua percepção de eficácia. Esta, antes alcançada pelo professor
que conseguia dos seus alunos exames "brilhantes", passa a se concretizar
na manutenção dos mesmos roteiros de aula "eficazes" pela sua infalibilidade
consagrada ano após ano.
Na verdade, eficácia e eficiência são inseparáveis, são interdependentes.
É o dirigente educacional quem reúne (ou deveria reunir) as melhores condições
para assegurar e tornar frutífera essa interdependência. Para isso, contudo,
ele precisa de competências gerenciais específicas que podem e devem ser
desenvolvidas.
. . . O Dirigente Educacional É um Executivo
Os atuais dirigentes normalmente restringem-se à direção acadêmica de
sua gestão, e não à direção executiva. Grande parte deles é proveniente
do magistério, ou seja, por terem se destacado como professores são "promovidos"
a diretores, o que distorce a maneira de eles mesmos encararem a realidade
de um novo papel para o qual não foram preparados. Por outro lado, é possível
que até mesmo a própria formação acadêmica em Pedagogia não atenda adequadamente
à área de gestão de entidades educacionais, deixando de enfocar aspectos
críticos da gestão para fixar-se em detalhes de mera manutenção de rotinas
de apoio administrativo.
Talvez até mesmo o termo "executivo" pareça-lhes inadequado à sua posição,
função ou papéis. Aí, todavia, é que está centrado o equívoco fundamental:
o da concepção das atividades que um dirigente educacional deva desempenhar.
Antes de tudo, por exemplo, o diretor escolar precisa estar consciente
de que seu cargo é um cargo de gerência. O próprio sistema de seleção
é um dos pontos mais falhos na constituição de um quadro gerencial qualificado
para o Sistema Educacional. O professor mais destacado por sua qualidades
de magistério não é, necessariamente, a pessoa mais adequada para o exercício
de um cargo de direção. Nem o professor mais experiente, mais antigo e
conhecedor das peculiaridades do Sistema Global ou o mais popular ou político
é, apenas por isso, a pessoa ideal para ocupar uma função de direção numa
entidade educacional. Sem dúvida, um dos caminhos mais promissores para
o aperfeiçoamento da educação em nosso país está em capacitar as gerências
educacionais para resolverem problemas de desenvolvimento organizacional
do Sistema como um todo e de suas partes componentes.
(*) Wagner Siqueira é vereador pelo Rio de Janeiro, Presidente
do Conselho Regional de Administração (CRA/RJ) e Conselheiro do Conselho
Estadual de Educação.
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