
Crianças
aprendem desde cedo a falar sobre o desperdício de água potável
Por Tony Carvalho
As discussões
em torno da conscientização do uso adequado da água potável vêm sendo
intensificadas em todas as partes do mundo. Mas o que muitos não sabem
é que esse tema já chegou às creches. É o caso da Creche Municipal Ernani
do Amaral Peixoto, localizada na Vila Jurandi, em São João de Meriti,
no Rio de Janeiro. Lá, a equipe pedagógica está desenvolvendo o projeto
"Água na Boca".
As 120 crianças de dois a cinco anos estão começando a tomar conhecimento
de um assunto que merece a atenção de todos. "Começamos com um trabalho
de pesquisa na Internet, o qual serviu para nos alertar de que a água
é um recurso que está em extinção. Por isso, nada melhor do que trabalhar
com crianças de dois a cinco anos que estão em processo de formação e
que serão os futuros dirigentes do planeta. A partir daí, tivemos de adaptar
o conteúdo à faixa etária", explica a orientadora pedagógica Rosa Maria.
Para a orientadora
educacional Eliana Musse, é importante trabalhar esses conceitos desde
a Educação Infantil. "Algumas crianças contaram às suas professoras que
as mudanças nos hábitos da família já começaram a acontecer. A mangueira
aberta quando se está lavando carros, por exemplo, é um desperdício que
pode ser evitado", lembra.
O projeto está
sendo desenvolvido desde o início do ano letivo e tem como uma das características
a interdisciplinaridade. "Entendemos que a construção pedagógica sobre
práticas de Educação Ambiental não pode ser estanque, determinando períodos
para atividades específicas sobre o tema. Porém, deve permear as diferentes
formas de trabalho no cotidiano escolar, inserida no contexto curricular",
afirma Eliana.
O tema principal
é a questão do desperdício, da poluição e do uso da água de forma coerente.
A proposta é transformar as crianças em multiplicadores. Elas percorreram
a escola para verificar se havia torneiras vazando e, paralelamente, aprenderam
a utilizar a água de maneira correta. Assim, elas poderão levar para casa
este aprendizado e, aos poucos, mudar os hábitos de seus familiares. "O
respeito ao ambiente começa com coisas pequenas que quase ninguém percebe,
como, por exemplo, evitar jogar papel na rua. No entanto, a escola, como
espaço público de resgate da cidadania, precisa discutir essa questão",
garante Rosa.
Na primeira etapa do projeto, a professora Ana Paula da Costa, que trabalha
com crianças de quatro e cinco anos, promoveu uma coleta de papéis jogados
na rua e um debate para saber o que elas pensavam sobre o assunto. "Perguntei
às crianças o que iria acontecer se as pessoas continuassem a jogar o
lixo na rua. Depois, passamos a trabalhar com a música Planeta Azul e,
em seguida, ensaiamos uma coreografia", conta.
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Já
a professora Elaine Perrota trabalhou com maquetes sobre o rio Sarapuí,
que corta o bairro, reproduzindo toda a comunidade. "Meu pai conta que,
no passado, havia muitos peixes. Hoje, o rio está totalmente poluído", relembra.
Mudar a relação entre a comunidade e o rio é um grande desafio. Atualmente,
ele virou depósito de lixo. "Não há, na comunidade, a conscientização de
economizar água e tão pouco de cuidar do rio. Para mudarmos essa realidade,
só mesmo modificando os hábitos da população", acredita Eliana.
A professora Lívia
Cristina promoveu um dia de combate ao desperdício de água. "Cada aluno
trouxe uma pequena amostra de água para compararmos. Realizamos uma caminhada
ecológica em volta à escola, buscando levantar a auto-estima da comunidade.
Montamos uma dramatização representando o mar poluído e um peixinho quase
morrendo, pedindo ajuda aos outros animais, tudo isso de uma forma democrática
e lúdica. E se conseguirmos mudar a atitude de uma pessoa, já valeu o esforço",
diz.
As professoras
Joacirema e Carmem abordaram a poluição dos rios e, numa segunda etapa,
o rio limpo. Elas trabalharam com dobraduras, pinturas, recortes e colagens.
Dez meninas das turmas de quatro a cinco anos apresentaram a Dança das Águas,
todas vestidas em tons de azul e papeis brilhosos, representando as ondas.
Segundo a orientadora educacional Eliana Musse, é necessário ter em mente
o compromisso social da escola e do professor, sem perder de vista o objetivo
de formação, respeitando o momento de cada criança e sua etapa de crescimento.
A orientadora
pedagógica Rosa Maria concorda e acrescenta: "Muitos não acreditam que,
com uma faixa etária tão pequena, as crianças possam entender tanto de meio
ambiente e ecologia. Mas elas conseguem captar perfeitamente. Os relatórios
bimestrais, elaborados pelas professoras de cada turma em cima das narrativas
das crianças, atestam isso. Nós mesmas tínhamos receio de abordar um tema
tão complexo como a água. Mas está valendo a pena. A educação é uma sedução.
O professor tem de seduzir o aluno, além de se encantar com aquilo que ele
vai fazer. Enquanto profissionais, aprendemos também. Como moradores do
planeta, sabemos da importância da água para o ser humano".
Creche Municipal Ernani do Amaral Peixoto
São João de Meriti
Tel.: (21) 2650-4090 |