Por Tony Carvalho

Em plena era digital, falar de preservação das raízes e culturas populares pode parecer obsoleto. No entanto, o folclore não é estático. Ao contrário, ele é essencialmente dinâmico, pois, apesar de basear-se nas tradições, encontra-se em constante renovação. Afinal, o fato folclórico, como expressão da experiência popular, é sempre atual, uma vez que está sempre se moldando à mentalidade e às transformações do presente.

Pensando, assim, o Colégio Vargem Grande, localizado no Rio de Janeiro, não deixou o dia 22 de agosto - data em que se comemora o Dia do Folclore - passar em branco. Os alunos da Educação Infantil à 4.ª série do Ensino Fundamental realizaram uma exposição de trabalhos produzidos em sala de aula, abordando o tema. Personagens como o Saci-pererê, o Curupira e a Mula-sem-cabeça foram explorados durante a construção de trabalhos manuais e na produção de peças textuais.

Os alunos da Educação Infantil utilizaram dobraduras e pinturas com cola colorida para confeccionar utensílios caseiros e adereços de alguns personagens, como o cachimbo do Saci, por exemplo, feito de palito de picolé e rolo de papel higiênico. Contudo, a professora não esqueceu de inserir em cada peça uma mensagem politicamente correta: O Saci adverte: fumar faz mal à saúde. "É importante deixar claro que não se trata de um estímulo negativo, estamos apenas retratando o personagem", esclarece a professora Priscila Mattos.

Nos rabiscos feitos com giz de cera e nas misturas de cores, as crianças retrataram botos e sereias, que foram todos parar no Livro das Lendas, feito pelos próprios alunos. A turma também aprendeu cantigas de roda e, com o auxílio da professora, aproveitaram as letras de músicas folclóricas para realizar novas descobertas. "O folclore, visto pelo lado pedagógico, ainda desperta interesse quando é trabalhado de uma forma prazerosa e interativa. Em cada atividade que realizamos, inserimos o conteúdo previsto para a turma. Assim, o aprendizado é constante", diz.

A Classe de Alfabetização trabalhou com as consoantes dentro do contexto de cada história apresentada pela professora Rose. Ao ouvir lendas e mitos inseridos na nossa cultura, as crianças foram estimuladas a desenvolver a interpretação de texto e a criar suas próprias histórias. Na exposição, elas também apresentaram um dos brinquedos mais populares do interior do Brasil: o salto alto, feito com latas e barbante. "É uma forma de resgatarmos brincadeiras que aos poucos vão caindo no esquecimento", acrescenta.

A turma de 1.ª série pesquisou sobre os ditos populares, usos e costumes de cada região do país. A partir daí, os alunos se dedicaram à construção de brinquedos populares como a pipa, o ioiô e o peão. "A nossa proposta foi a de produzir brinquedos artesanais utilizando materiais recicláveis e, ao mesmo tempo, promover uma pesquisa de brinquedos folclóricos. Estimulamos também a conversa do aluno com os pais e avós sobre o assunto. Assim, propiciamos uma troca de conhecimentos sobre folclore e promovemos uma maior integração entre a criança e seus familiares", afirma a professora Eliane Martins.

Já a 2.ª série deu maior ênfase ao folclore verbal, trabalhando com provérbios, canções, trava-línguas e lendas, que no final originaram a produção de livros. Durante as aulas de Artes, os alunos utilizaram argila para retratar a Iara, o Curupira e outras figuras sempre presentes no imaginário popular do nosso povo. A 3.ª série enfocou as lendas e adivinhações, além de produzir trabalhos artesanais e brinquedos, como o bilboquê (brinquedo que consiste numa bola de madeira com um furo, amarrada por um cordel a um bastonete pontudo, no qual deve ela encaixar, quando impulsionada).

Os alunos da 4.ª série trabalharam os folclores regionais, abordando a culinária, as parlendas e a linguagem extraída da cultura popular. Baseados em informações colhidas em pesquisas, eles produziram novos textos literários. Como atividades manuais, as crianças montaram personagens dos folguedos brasileiros, utilizando cartolina e lantejoulas. Da mistura, surgiu uma série de bumbas-meu-boi, considerado o mais famoso dos folguedos populares.

Para a coordenadora pedagógica Glória Regina, é dever da escola colaborar com a preservação das raízes do nosso povo. "O Dia do Folclore não pode passar em branco. A linguagem, a literatura e os folguedos populares devem estar sempre em pauta, pois dizem respeito à nossa própria história, do passado e do presente", finaliza.

Colégio Vargem Grande
Tel.: (21) 2428-2330