Comecei a minha vida no Judiciário pelo Norte Fluminense, em Porciúncula. De lá para Miracema, Natividade até chegar ao Rio de Janeiro. Sempre que podia, até os tumultuados dias de 1994, quando sentenciei os 14 homens fortes do crime organizado, eu freqüentava, silenciosa, a Livraria Ideal, em Niterói.

Num sábado, correndo os olhos pelos jornais, encontrei, no segundo caderno de O Fluminense, a matéria do Antônio Puga sobre o VIII Prêmio Silvestre Mônaco. Foi um agradável exercício para a memória. Lembrei das muitas vezes em que estive na Ideal e de muitas outras em que tentei voltar. Há vezes em que “a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá...”, como diz Chico Buarque. Mais hoje, mais amanhã, a verdade é que não pude voltar. A matéria de Antônio Puga matou um pouco a saudade, mas não confortou a consciência.

Também terminei a leitura de uma obra de produção independente, A Revolta do Boêmio, de um novel escritor, o Marco Aurélio Barroso. O livro conta a vida do cantor Nelson Gonçalves. Vale a pena ler.

Faltam livros na vida de gente que distribui violência, crime e roubo. Faltam-lhes educação e cultura. A sociedade brasileira precisa investir mais e atentar mais para o trabalho de homens e mulheres que, abrindo mão de oportunidades de maior conforto, dedicam as suas vidas a distribuir cultura e informação.

No curso da matéria do Antônio Puga, o empresário Carlos Mônaco pede um presente de aniversário: a isenção de taxa de alvará para todas as livrarias da cidade. Estou com ele e vou mais longe: esta decisão deveria atingir todos os municípios brasileiros. A isenção de taxa de alvará seria um incentivo importante para a abertura de um número maior de livrarias e, por que não, para a redução nos preços dos livros, tornando-os mais acessíveis para as camadas de renda menor.

Nestes tempos de muita violência, de crime organizado e desorganizado, de corrupção a mãos cheias, o trabalho de pessoas como Silvestre Mônaco, conservado por sua famílias e de escritores de vida muito difícil como Marco Aurélio Barroso, devem ser objeto de atenção.

A criminalidade elevada trouxe a público um sem-número de propostas para reduzi-la. Eu mesma trouxe uma ao debate, centrada em dois pontos: um, no campo da eficiência na investigação para acabar com a percepção de impunidade; outro, no campo da solução das diferenças sociais. Dediquei um capítulo à educação e à cultura.

A matéria do Antonio Puga me trouxe a feliz idéia de inserir no meu trabalho uma atenção especial ao papel que podem desempenhar livrarias e escritores no meio das comunidades de mais baixa renda e com níveis de oportunidades econômicas e sociais lamentáveis.

Parabéns ao jornal O Fluminense, pela matéria. Silvestre Mônaco, Carlos Mônaco, seu filho e sucessor, Marco Aurélio Barroso e esta infinidade de pessoas que incentivam a cultura e a educação são uma esperança e uma oportunidade para a sociedade brasileira, no momento delicado em que ela vive de buscar caminhos para reduzir a criminalidade e a violência.

(*) Denise Frossard é Juíza, fundadora da Transparência
Brasil e Deputada Federal pelo PSDB/RJ.