A Escola e seus Limites


Iniciamos esta reflexão a partir da função social da escola e do direito à educação que é garantido pela Constituição de nosso país. Mas isto, por si só, não garante que todos tenham as mesmas oportunidades previstas pelos que elaboraram esta lei. A problemática que queremos enfocar, neste estudo, é o que esta escola tem oferecido a seus alunos.

A escola deveria ser o "espaço do concreto pensado" no qual os conhecimentos se formam, se concretizam e se movimentam. Na escola, espaço cultural em que os propósitos da sociedade tomam forma, deveriam se desenvolver os interesses e ideologias assumidos na sua regulamentação básica. O aluno se tornar indivíduo crítico e preocupado na implementação da justiça social deveria ser o objetivo primeiro da escola fundamental de qualidade, capaz de ensiná-lo e ajudá-lo em seu posicionamento político.

Desta forma, quando a escola percebe suas falhas, precisa rever seus espaços e funções, refletir sobre que conhecimentos precisa dimensionar e como. Quando conseguir delinear seu projeto pedagógico de forma coerente com suas funções e seus objetivos reais, estará pronta para o diálogo com a comunidade a fim de que seus objetivos e funções tornem-se compatíveis com os interesses das duas partes. Antes de qualquer outra preocupação, a escola precisa ter claro que é a promotora da socialização de seu aluno, da construção do seu conhecimento e também que é a instituição socialmente produtiva a partir da relação que estabelece entre o currículo que implementa e as necessidades da comunidade na qual está inserida. Entendemos que a formação do cidadão está implícita em todo esse processo - cidadão que saiba exercer plenamente essa condição com liberdade e autonomia (não só alunos, mas todos os participantes desta comunidade).

Atualmente, temos uma escola que reflete o tipo de sociedade em que está inserida: sem identidade, sem compromisso com as soluções dos problemas do país, sem a preocupação de tornar seus alunos seres pensantes comprometidos com o bem-estar comum. Está na hora desta escola descobrir suas possibilidades e limites de atuação de forma a se tornar reflexo e cúmplice da comunidade que representa. A escola deve formar "indivíduos completos", "não indivíduos pela metade".

A articulação e a produção do conhecimento escolar conduzidos de forma social e solidária são funções fundamentais da escola, principalmente nos tempos de hoje em que as mudanças, tanto tecnológicas quanto comportamentais, são rápidas demais.

A Escola e a Aprendizagem


De que lado está o aluno? Do lado de lá da experiência do professor.

É exatamente desta forma que o aluno se sente. Em posição contrária ao professor. Quando deveriam estar lado-a-lado. O que espera este aluno? A organização do mundo que vivencia; uma relação que torne a escola um lugar no qual se sinta bem recebido e importante; a ausência de preconceitos culturais, sociais e classistas com que é tratado e os quais prejudicam seu desempenho na aprendizagem; uma educação que o ajude a entender seu papel na mudança da realidade em que vive; estímulo ao desenvolvimento de suas potencialidades de forma real e concreta; respeito à bagagem que traz, tanto cultural quanto social.

Da forma como o aluno é encarado e recebido na escola, muitas vezes, sente-se intruso no processo, quando, na realidade, ele é sujeito e autor de tudo que acontece no projeto educacional de qualquer município, Estado ou país. Principalmente o aluno de comunidades carentes, que é discriminado de forma cruel e desumana.

O único lugar onde as nossas crianças têm acesso ao conhecimento, à socialização e à aprendizagem secular é a escola, que não pode lhes negar este direito. Afinal, é nela que o aluno se enquadra aos valores, normas e ordens da sociedade.

O ensino transmitido de forma que contemple as necessidades básicas do alunado é aquele em que a aprendizagem acontece de forma coerente com a expectativa de quem aprende; é aquele em que o aluno interage com seus pares e outras pessoas do seu meio social, mas que aprende e pensa de forma diferente para que fortaleça sua aprendizagem através da comparação, do conflito, da busca, do estudo e dos avanços necessários à internalização das construções de aprendizagem nas diversas áreas. Desta forma, o indivíduo torna-se competente e autônomo na hora de usar esta aprendizagem. Quando conseguir esta autonomia, poderá, então, se considerar uma pessoa politicamente capaz de avaliar e participar do processo educativo de forma plena e coerente.

O Professor e o Currículo


A peça fundamental para a inter-relação entre o aluno e a escola é o professor. Porém, o despreparo deste para se relacionar com o aluno, principalmente o desprivilegiado, é o que podemos chamar de obstáculo para o desenvolvimento da aprendizagem. Possibilidades de oportunidades não significa apenas o acesso da criança à escola. É necessário que seja recebido de forma a desenvolver seu potencial favorável à expectativa que traz para esta experiência.

O professor não consegue ser crítico em relação ao que deve ou não oferecer a seu aluno, porque não é preparado para isso. A necessidade de reduzir os altos índices de repetência e evasão escolar levam a uma reflexão sobre a formação do professor. A reflexão é com relação ao currículo que é oferecido nos cursos de formação e o currículo que é oferecido aos alunos das escolas a quem vão orientar.

O desconhecimento da cultura popular (universo cultural) é um grande entrave em muitas ocasiões. Cada vez mais o professor deverá estar atento para a vivência de seu aluno a fim de desenvolver seu trabalho com o objetivo de atingir seu aluno de forma produtiva, e não tentar incutir nele uma experiência e postura que não fazem parte de seu universo, mas, sim, do universo da classe dominante.

Uma das sugestões para que permita um tratamento da cultura popular de forma que desapareça este desconhecimento é incluí-lo no currículo de forma que possa se tornar familiar para os dois lados - aluno e professor. Não se pode admitir alfabetizar um aluno que mora em favela usando cartilhas e livros com imagens de famílias bem constituídas, morando em casas grandes e bem mobiliadas, bem-vestidas e alimentadas, ou seja, bem diferentes de sua realidade.

O estímulo ao desenvolvimento das várias possibilidades de sucesso dos alunos é o foco do trabalho da escola através da discussão dos professores, principalmente os que se dedicam ao Ensino Fundamental, sobre o preparo de cidadãos, currículos compatíveis com a experiência de vida dos alunos, reorientação dos cursos de magistério e atualização e treinamento dos professores de forma permanente.

Não se constroem conhecimentos e não se formam educadores sem recursos, sem pessoal treinado, sem boas bibliotecas, sem possibilidades de pesquisa.

Colaboração: Suely Alves Peixoto Mattos
(Professora, Orientadora Educacional, Especialista em Ciência da Educação e Mestranda em Educação a Distância/UFRJ).