O professor moderno não é mais "proprietário" exclusivo do conhecimento! O conhecimento se constrói na relação do sujeito com o objeto! Excelente mestre é o que sabe transformar informações em conhecimentos! Os conteúdos curriculares estão plenos de conhecimentos que para a vida nada valem. A agilidade da cibercultura impõe novos conhecimentos a cada dia! Na perspectiva dialética da educação, o conhecimento a ser trabalhado não possui um fim em si mesmo! Enfim, a palavra "conhecimento" invade o cotidiano escolar e praticamente nada se diz sem que esse substantivo seja, em toda hora ou lugar, usado. Mas, afinal de contas, o que é realmente "conhecimento" ?

Um rápida passagem por um dicionário nos informa que é o mesmo que informação, domínio sobre um tema, um "fato" ou ocorrência. A busca do conceito em filósofos não ajuda muito mais: Empédocles dizia que "conhecemos a terra como a terra, a água como a água" e Heráclito deixava-nos igualmente isolado ao refletir que "o que se move conhece o que se move". Dessa maneira, por exemplo, saber que a girafa tem esse nome é conhecimento como o é saber que Belém é capital do Pará. Mas, em um sentido mais amplo e específico, qual o "bom conhecimento" que deve a escola cultivar, separando-o do conhecimento inútil, descartável, que apenas ocupa espaço na memória sem nada pela pessoa fazer? Qual conhecimento deve o professor ajudar seu aluno a buscar na mídia e na Internet, separando assim o luxo do lixo?

Acreditamos que o "conhecimento válido", aquele que realmente importa ao professor trabalhar, não necessita ser o "conhecimento útil e imediatista" que, se efetivamente essencial, acha-se em qualquer lugar e não necessita esse espaço da escola tomar. Considerando, pois, que o bom conhecimento não é necessariamente aquele associado ao pragmatismo do uso imediato, restaura-se a questão e volta a se indagar quais atributos deve possuir o "conhecimento bom", essencial em toda aula, matéria-prima imprescindível a qualquer professor.

O bom conhecimento, antes de mais nada, necessita:


Ser verdadeiro - Isto é, possuir um lastro de idoneidade, uma correção científica, uma hipótese aceitável ou uma qualidade atribuída pela unanimidade. Ainda que a verdade mude com os tempos e o que é verdadeiro agora não o era necessariamente há décadas atrás, ainda assim, considerando sua contextualização espacial e temporal, é essencial que o conhecimento bom seja diferenciado do conhecimento mítico, da crendice ou tolice que se afirma verdadeira por esconder interesses ilusionistas;

Ser crítico - Ser constituído de uma matéria-prima que se distancie do conformismo e imediatismo, mas que se insurja como forma desafiadora de pensamento, que clama pela coerência e serve de ferramenta para questionar generalizações ou afirmações minimalistas. Nenhum conhecimento escolar pode distanciar-se da criticidade e da busca de lógica, se esta parece lhe faltar ou de seu questionamento, caso sua lógica pareça indiscutível;

Ser significativo
- Que possa permitir a todo aluno a contextualização à realidade de seu corpo, suas emoções e seu entorno. Que possa ser aplicado ou transferido para outras situações, recriando-se ao sabor da realidade na qual se vive e se busca conviver. Não é mal que se aprenda o ontem, desde que sirva para o agora, não existe crítica em se saber o distante, mas não por apenas se saber, mas, para desse saber, fazer a vida ilustrar-se no cotidiano.

Ser globalizante - Globalizante no sentido de não ser restrito a limites provincianos, a estender-se a relações da biosfera, mostrar-se, dessa forma, capaz de incorporar o apreendente a uma visão de mundo que o transforme em pessoa de seu tempo, percebendo, sentindo e acompanhando outros lugares a partir de seu lugar. E finalmente:

Ser sistêmico - Dessa maneira, distanciar-se de uma visão unilateral, prisioneira de limites pontuais e estreitos e assim se insurgir como uma vontade de ver o todo nas partes, o integral no parcial. Um conhecimento sistêmico é um "conhecimento de corpo inteiro" que integra o ontem no agora, o particular no geral. Tal como uma folha viva, pode ser fragmento, mas integra e simboliza uma árvore inteira.

Reunindo todos esses atributos, esse conhecimento será bom, sobretudo se guardar respeito a interdisciplinaridade e dessa forma, conquistado através desta ou daquela disciplina, possa integrar o ecossistema da cultura e o universo do tempo em que se vive. Assim, pois, uma aula de uma disciplina qualquer pode tratar qualquer informação, dela fazendo um mau ou imperfeito conhecimento ou, através do mesmo, buscando pelo que se ensina atribuir insubstituível dignidade à aula.

Celso Antunes é escritor, pesquisador, especialista na área de Inteligência e Cognição e autor de vários títulos na área da Educação.
Contato com o autor: cantunes@santana.br