
Projeto
pedagógico estimula a leitura e a produção de textos
Por Tony Carvalho
"Posso comprar
o chapéu, mas não o céu. Posso ter esperança, não perder a lembrança.
Posso pular o muro, mas não o futuro...". Este é o trecho de um dos muitos
poemas escritos pelos alunos da 4.ª Série da Escola Municipal Sarmiento,
localizada no Bairro do Engenho Novo, no Rio de Janeiro. Oriundos de classes
de progressão, boa parte desses estudantes apresentava dificuldades para
escrever e desenvolver o raciocínio lógico. Mas, graças ao projeto "Dos
Contos de Fadas para o Mundo Real", implantado pelos professores e pela
equipe técnico-pedagógica, a história dessas crianças começa a ser reescrita.
Elas estão descobrindo
o prazer da leitura e adquiriram o gosto para escrever. Mais que isso,
os estudantes elevaram a auto-estima e passaram a acreditar que são capazes
de produzir. Os alunos da turma de progressão são crianças que apresentam
um descompasso em relação aos demais da turma e acabam sendo excluídos.
"Queremos que eles sejam incluídos, integrados aos demais. Afinal, cada
um tem o seu tempo", afirma Jandira Mendes Coelho, coordenadora pedagógica.
Entretanto, não
são apenas as turmas de progressão que se incluem nos bons resultados
do projeto. Todos os mil alunos da escola - da Educação Infantil à 4.ª
Série, incluindo os da Educação Especial - estão tendo sua criatividade
estimulada por bruxas, fadas, reis e princesas.
Desde março, esses
personagens invadiram o imaginário das crianças e também as salas de aula.
A cada bimestre, uma história é trabalhada, abrindo caminho para outras
histórias de interesse dos alunos. Depois da Branca de Neve, Cinderela
foi o conto da vez, com a leitura de livros, projeção de vídeos, dramatizações
e com a apresentação, no final do semestre, de todos os trabalhos confeccionados
pelas crianças.
"Por meio das
histórias, os alunos são estimulados a descobrir valores e as mensagens
que os contos encerram, identificando-as com o nosso mundo real. Cada
conto tem um desfecho. Depois de todo um desenvolvimento em que o mal
prevalece, o bem sai como o grande vencedor. É isso que a gente quer passar
para a criança: a busca de soluções para os conflitos dela, sejam internos
ou externos", explica Jandira.
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A
partir de simples idéias, as crianças deram cor, conteúdo e forma a belos
trabalhos. Os alunos da Educação Infantil expuseram painéis que recontaram
histórias da escritora Ana Maria Machado. Com caixas de leite e sapato,
rolos de papel higiênico, copos descartáveis, garrafas plásticas, latas
de refrigerante, palitos, cordas e parafusos, alunos de 1.ª e 2.ª Séries
construíram personagens como Rapunzel, Pinóquio, a Bela e a Fera, entre
outros.
Os estudantes
da 4.ª Série produziram livros, maquetes e dramatizações musicais. Já
as turmas de progressão I e II e a de alunos especiais realizaram um sarau
no qual declamaram poemas, leram textos e apresentaram números musicais.
"As nossas crianças sempre tiveram dificuldades em demonstrar interesse
pela leitura e, com a magia dos contos de fadas, conseguimos contagiá-las.
Aos poucos, elas estão percebendo que todos nós somos agentes transformadores
e, como tal, podemos superar as dificuldades e construir um futuro melhor",
define Elisabete Ribeiro de Carvalho, diretora adjunta.
No momento em que
trabalham o recorte, a colagem e utilizam massas de modelar, as crianças
desenvolvem a psicomotricidade. Quando constroem maquetes e cartazes,
trabalham a criatividade, a socialização e o trabalho em equipe.
Para a professora
Iara Carvalho, a função do educador é criar uma estrutura para que os
alunos possam crescer. "Uma das minhas turmas é a chamada Classe Especial.
São crianças que apresentam várias habilidades. São ótimas em matemática,
por exemplo, mas, quando chegam no convencional, apresentam uma certa
dificuldade que as outras crianças não têm. Isso faz com que nós até entendamos
o aluno que chega sem problema algum, mas que não quer aprender. É obrigação
da escola e do profissional de educação suscitar nessas crianças a parte
cognitiva", diz.
Wagner Rocha, estudante
de Letras da UFRJ, participou do evento como contador de história e garante
ter sido uma experiência inesquecível. "A gente sabe que essas crianças
têm poucas opções, sobretudo as de escolas públicas. É gratificante poder
fazê-las viajar pelo mundo da fantasia", garante.
Pablo, aluno da
4.ª série, aproveitou o projeto para explorar as suas aptidões para o
desenho. Ele expôs vários quadros que chamaram a atenção dos visitantes
pela beleza plástica e pelas técnicas empregadas. No entanto, foram os
livros de desejos, produzidos pelos alunos da 2.ª Série, que mais emocionaram
os pais e professores. Em cada mensagem, ficção e realidade pareciam fazer
parte de um mesmo mundo.
No livro de Larissa
Barbosa, por exemplo, é possível encontrar fragmentos de um cotidiano
que todos nós conhecemos. Ela queria ser uma fada para poder transformar
as armas em flores, os barracos das favelas em belas casas e fazer com
que a paz predominasse no mundo. "Os alunos souberam assimilar a proposta
levando os desejos para a realidade que eles vivenciam nas suas comunidades.
São depoimentos que chegam a surpreender pela idade deles e pela profundidade
do conteúdo. É uma turma que gosta de escrever e que está bem antenada
com a realidade", declara a professora Olga Maria.
A julgar pelos resultados obtidos em tão pouco tempo, fica claro que o
projeto não é um faz-de-conta. Os alunos apresentaram crescimento na estrutura,
na compreensão e na interpretação de textos. E, tendo os professores como
um farol nessa longa jornada que ainda há de vir, a história dessas crianças,
assim como nos contos de fadas, certamente terá um final feliz.
Escola Municipal Sarmiento
Tel.: (21) 2581-9969
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