Projeto desperta o interesse dos alunos pela conservação da natureza e pela história do Brasil

Por Luciana Jacques

Que tal começar o dia com um passeio pela Quinta da Boa Vista na companhia dos professores e colegas de turma? E se este programa contar também com a companhia de pessoas que saibam explicar detalhes sobre as árvores e os pássaros que fazem parte daquele cenário, além de histórias sobre a casa em que morou a família imperial e onde funciona hoje o Museu Nacional? Melhor ainda, não? Pois esta é a proposta do projeto Manhãs no Parque: História e Educação Ambiental na Antiga Quinta Imperial.

Direcionado a alunos de 3.ª e 4.ª séries do primeiro segmento do Ensino Fundamental de escolas da rede municipal, o projeto tem como objetivo despertar o interesse dos alunos pela conservação da natureza através de práticas educativas extraclasse realizadas de forma dinâmica e prazerosa. Outra meta é explorar o rico patrimônio histórico e cultural do Brasil, fazendo com que os estudantes possam valorizar e preservar estes bens.

Tudo começa com um passeio pelo Parque. Acompanhados por um biólogo, os alunos conhecem as características de dez árvores. O roteiro inclui a Figueira, a Sapucaia, o Pau-Brasil, o Juazeiro, a Palmeira Imperial, a Paineira, a Baobá, o Eucalipto, a Carnaúba e o Pau-Ferro. Lançando mão de elementos bastante conhecidos das crianças, como o sol, a terra, o oceano e o continente, o biólogo Alexandre Soares faz o papel de narrador da história.

“É como uma peça de teatro em que os personagens, no caso as árvores, vão sendo apresentados e cada uma delas oferece uma ligação com a matéria que eles estão aprendendo na escola ou ainda vão estudar”, explica Alexandre. Após a caminhada, os alunos recebem um lanche e partem para a segunda etapa: uma visita guiada em duas salas do Museu Nacional – a de etnografia indígena e a de protozoários e vermes.

Colares, tangas, bacias, máscaras, brinquedos, artigos usados na agricultura e estátuas como a do índio Zeferino, da tribo Xavante ou Xerente do Rio Tocantins, que foi moldada em gesso e papel machê ao vivo sobre o índio que se encontrava no Museu Nacional, são algumas das peças que podem ser apreciadas pelos estudantes. Já na outra sala, os alunos recebem orientações quanto aos hábitos saudáveis de higiene e prevenção contra algumas doenças causadas por protozoários e vermes.

Nesta etapa, as monitoras ressaltam a importância de eles fazerem exames de fezes e urina, pelo menos, uma vez por ano, além de evitar andar descalço e colocar a mão suja na boca, uma vez que esta também é uma forma de contrair determinados tipos de vermes. O espaço conta ainda com aracnídeos e crustáceos. Um dos destaques é o caranguejo conhecido como aranha do mar.

A maratona termina com o concurso de desenho Pintando a Natureza. De acordo com a chefe da Seção de Assistência ao Ensino (SAE), Mara Regina Leite, os dois melhores trabalhos recebem como prêmio um livro. Também é sorteada mais uma obra para os outros alunos e a escola ainda recebe três publicações para sua biblioteca, além de uma muda de árvore como lembrança por sua participação no projeto.

“Normalmente, eles desenham o que mais gostaram de ver durante o passeio. A atividade visa também a explorar a questão da cidadania, já que são os próprios alunos que votam nos melhores trabalhos. Sempre alertamos para que eles não escolham um desenho apenas porque foi feito pelo melhor amigo, mas, sim, aquele que, na opinião deles, realmente merece ganhar”, afirma Mara, ressaltando que depois os desenhos são entregues para serem expostos no colégio.

O Projeto em Números

O projeto Manhãs no Parque: História e Educação Ambiental na Antiga Quinta Imperial começou em 2000 e já recebeu 1.094 alunos de 40 escolas municipais. “As atividades começam sempre na segunda quinzena de março e seguem até novembro. Mas é preciso agendar a visita”, enfatiza Mara. “A iniciativa tem obtido resultados tão positivos que alguns colégios já repetiram a dose”, acrescenta.

A chefe da SAE destaca que, ao fim da visita, as professoras que acompanham o grupo fazem uma avaliação contando o que acharam do projeto. No dia 17 de junho, foi a vez da escola municipal São Sebastião, de Vargem Grande, participar da visitação, levando 34 crianças. As professoras Cristina Rodrigues Alves e Sandra Monteiro Carnieleto ressaltaram a importância de iniciativas como esta para o desenvolvimento dos alunos.

“Como o colégio fica em Vargem Grande, local um pouco afastado do Centro da cidade, torna-se mais difícil o acesso dessas crianças a passeios como este. Além disso, muitas delas moram em regiões que ainda não dispõem de saneamento básico e a atividade ajuda a reforçar o que é ensinado na sala de aula, como aos hábitos de higiene e a educação ambiental”, avalia Cristina.

Outra característica fundamental, segundo Cristina, é despertar ainda mais o interesse dos jovens para temas como estes, com atividades que ultrapassam os muros da escola. “Eles acabam desempenhando o papel de sementes, uma vez que passam para os pais, irmãos, parentes e mesmo aos outros alunos o que aprenderam aqui”, completa a professora.

Para fechar com chave de ouro a visita a este templo, as crianças recebem um kit com textos sobre brinquedos indígenas, caça-palavras, palavra-cruzada, além da cartilha que traz uma entrevista com o imperador D. Pedro II e a história do Museu Nacional. “Isso nada mais é do que a tentativa de buscar uma integração maior entre o museu e a unidade de ensino”, conclui Mara.

O Parque da Quinta da Boa Vista

A Quinta Imperial, onde se encontrava a residência do Imperador D. Pedro II, foi transformada em parque no ano de 1866. Nesta época, o imperador contratou um famoso paisagista francês, chamado Auguste François Marie Galziou, que, junto com o major brasileiro Manuel Gomes Archer – o mesmo que replantou a Floresta da Tijuca, também a pedido de D. Pedro II –, remodelou a área ao redor do palácio, surgindo, assim, a base para a paisagem que vemos atualmente.

O Parque da Quinta integra o grupo de Áreas de Proteção Ambiental (APAs) do município do Rio de Janeiro. As APAs são locais de preservação ambiental. As plantas que integram a flora da Quinta podem ser divididas em dois grupos: as espécies nativas (brasileiras), como o Pau-Brasil e o Juazeiro, e as exóticas (estrangeiras), como o Eucalipto e a Palmeira Imperial.

Junto com as plantas, os animais que integram a fauna do Parque participam da cadeia alimentar como herbívoros e carnívoros. Os principais grupos existentes são os mamíferos, as aves e os insetos. Entre eles estão o mico-estrela, o gavião, o sabiá, a borboleta, a abelha, o cupim, a cigarra e o besouro.

Serviço: As escolas municipais que quiserem se inscrever para participar do projeto devem agendar a visita pelo telefone: (21) 2568-1149, ramais 210 ou 236.