Edição 35 - A Gente Não Quer Só Comida


Na escola, fala-se todo dia que os alunos devem aprender a aprender. Mas quantos professores têm bons hábitos de estudo, um dos principais requisitos para aprender com autonomia? Será que é possível ensinar isso aos estudantes sem dominar os procedimentos? Diferentemente do que muitos imaginam, estudar é uma técnica que pode ser aprendida. De preferência, logo nas séries iniciais. Pesquisas apontam que poucas pessoas têm uma rotina bem desenvolvida nessa área. Provavelmente porque não aprenderam, ao longo da própria vida escolar, a criar esse costume. Conheça agora algumas regras básicas para fazer dessa atividade uma grande e prazerosa descoberta. As sugestões são dos professores Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, psicólogo da Universidade Estadual do Vale do Acaraú, em Fortaleza, e Frater Henrique Cristiano José Matos, do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e do Instituto São Tomás de Aquino.


Quase sempre estudar exige ler. Uma leitura de qualidade é meio caminho andado. Para chegar lá é preciso:

Reconhecer a fonte – Tenha uma visão geral da obra. Leia o título, a orelha, o sumário e a introdução. Saber quem é o autor e obter alguns dados sobre ele indicam o estilo do texto. Uma rápida folheada permite visualizar as ilustrações. Por fim, anote algumas perguntas que surgirem espontaneamente antes de iniciar a leitura. Isso provoca a busca das respostas.

Detectar idéias-chave
– Assinale a lápis as principais idéias. Se sentir necessidade, faça uma segunda leitura. Quando o texto é bem estruturado, elas estão logo no início do parágrafo. O autor abre com o pensamento principal e depois o desenvolve.

Armazenar dados – Durante a leitura, anote as palavras desconhecidas e pesquise seu significado. O ideal é documentar o que foi lido, para que não se perca. Pesquisas mostram que, após uma semana, nos esquecemos de cerca de 75% e, após um mês, de 98%.

Construir significados – Um bom exercício é dar sentido ao que se está lendo, procurando entender o contexto em que foi produzido e relacionando-o com conteúdos que você já domina. Pergunte-se: Para que serve isso? Como funciona? A quem interessa? Assim você estará exercitando sua capacidade de analisar, criticar e ir além do que foi lido.

Memorizar os conceitos
– Mas atenção! Só faça isso depois de compreender totalmente o sentido. Do contrário é pura decoreba.

Registrar idéias
– Desenvolva um código para destacar os conceitos (uma interrogação, uma exclamação, um asterisco). Sempre que possível, escreva fichas ou resumos de leitura.



Uma forma eficiente de recapitular o estudo é fazer resumos e esquemas. Apesar de terem estruturas diferentes, ambos identificam temas centrais, definem os principais conceitos e resgatam exemplos. Não existe uma fórmula. Cada pessoa desenvolve a própria técnica de anotação e registro. Os dois modelos mais comuns são:

Resumo – É uma pequena redação e contém a essência do texto.

Esquema – É um retrato sintético do assunto representado por meio de setas, chaves e colchetes.



A pesquisa é uma forma de complementar informações sobre o tema. Para uma boa compreensão do assunto, o ideal é fazer um estudo em várias fontes, seja na Internet, seja numa biblioteca. Não dá para fazer uma boa investigação com base numa só fonte. Informações diferentes permitem dominar linguagens especializadas, compreender fatos e teorias, formular novas idéias e, assim, construir a própria opinião sobre o tema.



Após a leitura e a pesquisa, os especialistas recomendam que você escreva fichas sobre o que leu e estudou. Elas organizam as informações obtidas, além de auxiliar na fixação dos conhecimentos. A seguir, dois modelos:

Ficha bibliográfica
Serve para colocar e organizar os dados da fonte utilizada (seja ela um livro, uma revista, um jornal, um artigo ou um texto de qualquer outro estilo literário).

Ficha de conteúdo
Tem a função de registrar a idéia principal do texto lido por meio de citações, transcrições literais, resumos e esquemas, para facilitar a memorização.



Conclusão

Após o trabalho de fichamento, escolha um lugar para colocar os cartões de maneira organizada. É interessante deixar as fichas de conteúdo junto com os livros. É claro que essas etapas não precisam, necessariamente, ser cumpridas nessa ordem. O importante é que elas façam parte do seu planejamento, pois são essenciais para garantir um bom resultado na hora de estudar. Só assim você vai criar o hábito e ensinar os estudantes a fazer o mesmo.



Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, da Universidade Estadual do Vale do Acaraú, em Fortaleza, e Frater Henrique Cristiano José Matos, professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e do Instituto São Tomás de Aquino, dão algumas dicas para potencializar o aprendizado:

Ambiente — O ideal é que você tenha um lugar para estudar. Se possível longe de qualquer distração, para garantir a concentração. Descubra uma música que se adapte ao seu jeito. Em geral, o clássico é o mais indicado. A luz é também importante. De preferência natural e sem sombras. Se der, evite as lâmpadas fluorescentes. Caso não tenha como criar essas condições em casa, procure uma biblioteca ou um parque.

Saúde — O estudo só é eficiente quando estamos bem, tanto física quanto mentalmente. Uma simples dor de cabeça prejudica a concentração. Problemas psicológicos (questões familiares, dificuldades econômicas, estresse) também influenciam muito.

Plano de estudo — Pegue uma grade horária e liste todas as atividades da semana, inclusive os momentos de lazer. O tempo que sobra deve ser dedicado aos estudos. Os especialistas recomendam: leia sempre revistas, jornais e livros (técnicos e de literatura).

Troca de idéias — Estudar em grupo é bom porque permite trocar informações com os colegas sobre o que cada um entendeu de determinado assunto.

Anotações — Os registros feitos durante uma palestra ou em sala de aula são fundamentais para o estudo. O certo é tomar notas, ainda que de forma desorganizada, e depois transcrevê-las, revendo os conceitos para elaborar melhor as idéias.

Obs.: Matéria cedida pela Revista Nova Escola
Site: www.novaescola.com.br