Edição 35 - A Gente Não Quer Só Comida

Projeto estimula alunos a identificar a presença de conceitos matemáticos no dia-a-dia

O que têm em comum a orquídea e a geometria? Por que o pato, ao nadar, gera círculos concêntricos? Você sabia que a couve-flor é um belo exemplo de fractal? Munidos de máquinas fotográficas, os alunos de 5.ª série do Ensino Fundamental da Escola Parque, localizada na Gávea, saíram em busca de imagens que confirmassem a presença da matemática em tudo o que está à sua volta. Observando a natureza e os objetos criados pelo homem, eles descobriram que os conceitos matemáticos vistos em sala de aula estão mais presentes no nosso cotidiano do que se poderia imaginar.

Lustres, escadas em caracol, velocímetro de automóvel, violão e raquete de tênis foram alguns dos objetos registrados pelas lentes fotográficas dos alunos. Eles identificaram figuras geométricas perfeitas, até mesmo em trabalhos feitos por pessoas que não tiveram a oportunidade de estudar. Mesmo sem o conhecimento teórico, estes profissionais aplicam a matemática em suas atividades. Um bom exemplo disso são os trabalhos artesanais confeccionados por rendeiras, que exibem figuras geométricas perfeitas na confecção de seus trabalhos de rendas e bordados. A simetria na aplicação de figuras geométricas é fundamental para o resultado final.

A pesquisa de campo faz parte do projeto “Aqui Tem Matemática” e as fotografias serão exibidas em agosto durante a Semana de Matemática. Lygia e Isadora, alunas da 5.ª série, decidiram mostrar as simetrias presentes na natureza. Elas fotografaram uma mariposa e têm uma justificativa na ponta da língua: “numa mariposa, a simetria deve se fazer presente, caso contrário ela não conseguiria voar com desenvoltura. Se uma das asas for maior que a outra, ela terá dificuldades para realizar o seu vôo”, constata Isadora.

A estudante Lygia, com auxílio do computador, também conseguiu reproduzir uma simetria com sua própria foto. Como se fosse um espelho, o efeito produziu um exemplo da harmonia resultante de certas combinações e proporções regulares. Alessandro é outro aluno entusiasmado com essa “nova matemática”. Ele fotografou uma couve-flor porque encontrou na planta um exemplo perfeito de fractal, uma forma geométrica, de aspecto irregular ou fragmentado, que pode ser subdividida indefinidamente em partes, as quais, de certo modo, são cópias reduzidas do todo. “É muito bom trabalhar com a geometria e o estudo dos fractais é interessante”, diz.

Dentro do mesmo projeto, os alunos da 6.ª série foram estimulados a identificar a presença da matemática nas mais variadas profissões. “É comum imaginar que a matemática só está presente na área de Ciências Exatas. Por isso, os alunos foram ouvir profissionais de diferentes áreas como odontologia, dança, cenografia, oceanografia, entre outros”, conta o professor Luiz Rogério Bianco.

A proposta é observar o mundo, aguçar os sentidos e também valorizar mais a natureza, como explica a orientadora pedagógica Paula Cavalcanti de Castro. “A escola trabalha por projetos. Um deles, neste primeiro semestre, foi o projeto ECO. Desde a realização da Eco 92, a gente vem desenvolvendo o tema e enfocando a questão da cidadania. O objetivo é pensar um mundo novo e quais soluções podemos dar a ele”, argumenta.

Paralelamente, os alunos de Ensino Médio e Fundamental estão participando da Olimpíada Brasileira de Matemática. Aliás, a escola tradicionalmente coleciona bons resultados na competição, que não envolve apenas cálculos, mas exige dos participantes um raciocínio lógico apurado. “Os alunos que resolvem encarar o desafio nem sempre são os ‘feras’ da matemática, mas aqueles que têm um prazer pela matéria. A Olimpíada coloca os alunos para pensar, raciocinar e utilizar suas hipóteses, mesmo que eles não saibam de todo o conteúdo. Aqueles que atingem um determinado percentual de acertos vão para a segunda e terceira fase da competição”, explica Rogério.

O colégio já teve um aluno que conquistou medalha de ouro na competição nacional. “As pessoas acham que matemática é fazer conta. No entanto, para muitos, esta é a pior parte. O bom é você desvendar o exercício, solucioná-lo mentalmente, para, em seguida, lançar mão dos conhecimentos adquiridos. Por isso, às vezes, você pode encontrar um aluno com notas baixas na disciplina – pois esta envolve uma matemática pesada –, mas que, na hora de pôr em ação o raciocínio, consegue solucionar o problema com excelente desenvoltura”, esclarece.

As questões, quase todas ligadas à realidade, cobram raciocínio, visualização e construção mental. Paula explica que uma das propostas da escola, desde o pré-escolar, é o desenvolvimento do raciocínio lógico, além de proporcionar uma autonomia de conhecimento. “O aluno, movido pelo desejo de obter novos conhecimentos, toma a iniciativa de avançar. Não há uma imposição da escola, mas ele se sente desafiado pelo conhecimento. É isso o que ocorre com os estudantes que decidem, por iniciativa própria, participar da Olimpíada de Matemática”, afirma.

Gincana de Robótica


O interesse pela Matemática e a Física está deixando os alunos e a própria escola em processo de ebulição constante. A prova disso está na Sala de Robótica. Lá, os alunos do Ensino Médio estão participando de uma concorrida gincana. Cada grupo de alunos recebe um desafio e tem um prazo de oito aulas para concluir o trabalho. No final, é feito o julgamento. Os critérios são estabelecidos previamente. O desafio dessa vez é a construção de um brinquedo de parque de diversões. A maioria está fazendo o “Cabhum”, um brinquedo que sobe sob controle e desce em queda livre. Os critérios para desempate são a velocidade de descida, o funcionamento, a construção do modelo e outros itens. “A cada novo critério que eles conseguem atingir, ganham mais uma pontuação. Ao participar desta gincana, os alunos estão trabalhando com noções de Física, Matemática, Eletricidade e Mecânica”, diz a professora Adriana Torres.

Educação Infantil e Ensino Fundamental

A Escola vem trabalhando numa perspectiva construtivista, acreditando na construção do conhecimento e baseando-se na teoria psicogenética de Piaget. Em função disso, os professores de Educação Infantil e de Ensino Fundamental I estão participando de um curso de formação, no qual se trabalha a didática construtivista – a teoria ligada à prática. Um dos itens do curso é o trabalho com jogos, bem como todas as suas implicações, como o material pedagógico.

Foi proposto aos alunos deste segmento trabalhar com vários jogos e descobrir em cada um deles as proposições matemáticas. Em seguida, cada grupo foi motivado a criar um jogo, pensando nessas questões. Os alunos da 3.ª série, por exemplo, produziram um jogo da memória, relacionando algarismos romanos e números decimais. “Atividades como essa são importantes não apenas no sentido de valorizar as questões das possibilidades e de vivenciar o cotidiano, mas também de trabalhar com as regras necessárias para permitir a jogabilidade, ou seja, com a lógica do jogo. É preciso pensar em todas as possibilidades para não deixar brechas. Caso contrário, o jogo não funciona. Esse, para o aluno, é o ponto mais interessante”, garante a orientadora pedagógica Paula Cavalcanti.