Edição 35 - A Gente Não Quer Só Comida


Howard Gardner é professor de Educação e Psicologia da Harvard University e professor de Neurologia da Boston University School of Medicine. Desde 1972 é co-diretor do Projeto Zero – um grupo de pesquisa sobre cognição humana, fundado em 1967 pelo filósofo Nelson Goldman, que desenvolve estudos sobre criatividade, especialmente na área de Artes, com crianças talentosas. Recebeu várias honrarias, incluindo a MacArthur Prize Fellowship em 1981 e, em 1990, foi o primeiro americano a receber o Prêmio Grawemeyer da Universidade de Louisville em Educação.

Considerado um dos mais importantes pesquisadores da criatividade deste final de século, Gardner é conhecido como o pai das Inteligências Múltiplas e critica a idéia de existir um único tipo de inteligência, que pode ser “medida” através de testes e instrumentos psicométricos.

Gardner entende por inteligência a capacidade para resolver problemas ou elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários, pois todos os indivíduos têm, em princípio, habilidade de questionar e buscar respostas usando as inteligências.

A linha de desenvolvimento de cada inteligência, no entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e neurobiológicos, quanto por condições ambientais. E cada uma dessas inteligências tem sua forma própria de pensamento ou de processamento de informações, além de seu sistema simbólico, que estabelece os aspectos básicos da cognição e a variedade de papéis culturais, pois, segundo Gardner, alguns talentos se desenvolvem porque são valorizados pelo ambiente.

Avaliação, Sistema e Ambiente Educacional

Segundo o educador, a avaliação fornece métodos de levantamento de informações durante as atividades do dia-a-dia, tirando sempre o maior proveito das habilidades individuais e auxiliando os estudantes a desenvolver suas capacidades intelectuais. Para tanto, em vez de usar a avaliação apenas como uma maneira de classificar, aprovar ou reprovar os alunos, esta deve ser usada para informar o aluno sobre a sua capacidade e colocar o professor a par do que está acontecendo.

Gardner é a favor do ensino individualizado, uma vez que cada criança tem perfis cognitivos diferentes. Portanto, na sua opinião, as escolas, em vez de oferecerem uma educação padronizada, deveriam oferecer uma educação que favorecesse o potencial individual de cada aluno.

O teórico também dá ênfase ao ambiente educacional, porque mesmo que as escolas digam que preparam seus alunos para a vida, nunca é insuficiente, pois a vida não se limita a pensamentos lógicos e verbais. Por isso, ele propõe que as escolas favoreçam o conhecimento de diversas disciplinas básicas que encorajem seus alunos a utilizar esse conhecimento para resolver os problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a qual pertencem, favorecendo, assim, o desenvolvimento de combinações intelectuais individuais a partir da avaliação regular do potencial de cada um.

As Inteligências Múltiplas


Em 1983, Gardner introduziu a Teoria das Inteligências Múltiplas, que considera a capacidade intelectual como um conjunto de habilidades e vias de aprendizado independentes umas das outras. Os indivíduos apresentam, naturalmente, habilidades em determinadas atividades, sem treinamento prévio. Na ausência de determinada habilidade, o indivíduo pode ser treinado e desenvolver uma aptidão que não lhe é natural.

Todos nós temos capacidades diferentes, porém, cada um nasce com capacidade para desenvolver todas as inteligências e isso acontece naturalmente. Enquanto o indivíduo não ficar senil, ele pode continuar a desenvolver qualquer tipo de inteligência. É preciso praticar, enfrentar novos desafios, refletir sobre aquilo que aprendemos. Provavelmente, algumas inteligências, como as pessoais, continuam a se desenvolver muito naturalmente durante toda a vida; outras, como a lógico-matemática, habitualmente se atrofiam com o passar dos anos, a menos que a pessoa tenha um foco específico.

As modalidades de inteligências defendidas por Gardner são:

Inteligência Lógico-Matemática
– É a capacidade para raciocinar problemas matemáticos. Essa inteligência envolve a capacidade de reconhecer padrões, de trabalhar com símbolos abstratos como números e formas geométricas, bem como discernir relacionamentos ou perceber conexões entre peças separadas ou distintas. Relaciona-se também à capacidade de manejar habilmente longas cadeias de raciocínio, elaborar perguntas que ninguém faz, conhecer problemas e levá-los a diante, explorar padrões, categorias e relações, resolver problemas aritméticos rapidamente, usar computadores, solucionar problemas através da lógica, gostar de jogos de estratégias e enigmas, como xadrez e damas, fazer experimentos para testar o que não entende facilmente etc.

Essa inteligência possui uma natureza não-verbal, de tal modo que a solução de um problema pode ser construída antes mesmo de ser articulada. Geralmente encontramos esse tipo de inteligência em programadores de computador, matemáticos, banqueiros, contadores, advogados e cientistas.

Inteligência Lingüística ou Verbal – Esta é manifestada através da linguagem – seja ela escrita ou falada – pois o indivíduo gosta de ler, escrever, ouvir, tem boa memória para nomes, lugares, datas e trivialidades. Geralmente, é um bom contador de histórias e piadas, gosta de ler livros e escrever histórias, tem vocabulário rico e se expressa com fluência, gosta de fazer palavras-cruzadas e jogos com palavras.

Geralmente, o indivíduo tem capacidade de seguir regras gramaticais e usa a linguagem para convencer, estimular, transmitir informações ou simplesmente agradar. Podemos encontrar essa inteligência bem desenvolvida em redatores, contadores de história, poetas, novelistas, teatrólogos, escritores e oradores.

Inteligência Musical
– É a habilidade de reproduzir, compor e apreciar a musicalidade com discriminação de sons e percepção de variações. Essa é a forma de inteligência que se manifesta primeiro. Cada indivíduo tem uma habilidade musical diferente e há pessoas que são totalmente “amusicais”, mas, ainda assim, continuam a ter uma vida normal e bem-sucedida. A inteligência musical trabalha independentemente das outras formas de inteligência.

As pessoas que possuem essa habilidade normalmente são sensíveis a ritmos e batidas dos sons do ambiente, tocam instrumentos ou gostam bastante de música, lembram facilmente das melodias das canções, percebem uma nota musical desafinada, preferem estudar e trabalhar ouvindo música, colecionam discos, gostam de cantar e dedicam tempo à música. Podemos encontrar essa inteligência em cantores, músicos, compositores e maestros.

Inteligência Corporal-Cinestésica – Esta inteligência está relacionada ao movimento físico e ao conhecimento do corpo. É a habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção ou praticar um esporte, por exemplo. O indivíduo aprende melhor movimentando-se, tocando ou mexendo nas coisas, processa conhecimentos através de sensações corporais, envolve-se em atividades esportivas, desempenha atividades motoras, gosta de tocar ou ser tocado quando fala com as pessoas, gosta de aprender usando manipulações e outras práticas.

Geralmente essas pessoas têm habilidade de coordenação motora refinada e harmônica, controle e consciência dos movimentos e de como o corpo reage frente a determinada situação de exigência física. Também está incluída a destreza na manipulação de objetos. As pessoas dotadas deste tipo de inteligência têm um senso e controle natural do seu corpo, mesmo sem um treinamento prévio.

A inteligência corporal-cinestésica pode ser melhor observada em atletas, atores, mímicos, artistas circenses e dançarinos profissionais.

Inteligência Espacial – É a capacidade de criar mapas mentais, pensar com imagens e fotos, visualizar imagens claras quando pensa sobre algo, ler facilmente mapas e diagramas, desenhar representações precisas de pessoas ou coisas etc. Geralmente, o indivíduo gosta de participar de atividades artísticas, ver filmes, slides ou fotos e montar quebra-cabeças.

Encontramos essa inteligência em arquitetos, artistas gráficos, cartógrafos, desenhistas de produtos industriais, pintores e escultores.

Inteligência Interpessoal – É a habilidade de interagir com pessoas, entendê-las e interpretar seus comportamentos. Normalmente, o indivíduo tem vários amigos, gosta de se comunicar e, às vezes, manipula as pessoas, gosta de atividades em grupos, serve como mediador em discussões e tem capacidade de ler situações com precisão.

Esse tipo de inteligência não depende da linguagem, portanto, um indivíduo pode possuí-la mesmo sem demonstrar qualquer habilidade lingüística apurada. A inteligência interpessoal pode ser melhor observada em líderes religiosos, políticos, professores e terapeutas.

Inteligência Intrapessoal – O perfil indica concentração total da mente, preocupação, percepção e expressão de diferentes sentimentos, senso de autoconhecimento, capacidade de abstração e de raciocínio. O indivíduo mostra independência, força de vontade e autodireção, reage em discussões controvertidas com opiniões fortes, prefere seu mundo particular, gosta de isolar-se para produzir um projeto ou hobby pessoal e tem um certo grau de autoconfiança.

Encontramos esse tipo de inteligência em filósofos, psiquiatras, aconselhadores e pesquisadores.

Inteligência Naturalista
– Esta inteligência foi recentemente adicionada à lista das sete inteligências múltiplas e consiste na habilidade de identificar e classificar padrões da natureza. É também conhecida como inteligência biológica ou ecológica.

A pessoa tem capacidade para perceber a natureza de maneira integral e sentir processos de acentuada empatia com animais e com as plantas – uma afinidade que pode estender-se a um sentimento ecológico, uma percepção de ecossistemas e habitats. Manifesta-se geralmente em biólogos, jardineiros, paisagistas, ecologistas e amantes da natureza.

Inteligência Existencialista – Essa nona inteligência que ainda está em estudo relaciona-se à capacidade de considerar questões mais profundas da existência, de fazer reflexões sobre quem somos, de onde viemos e por que morremos.

Gardner ainda não aceita por inteiro esta inteligência, porque os cientistas ainda não provaram que ela requer áreas específicas do cérebro. Por isso ele costuma dizer que existem oito inteligências e meia.

“As inteligências múltiplas não devem ser o objetivo de uma escola. O papel delas é funcionar como instrumentos para alcançar objetivos educacionais. Se alguém quiser educar crianças que saibam, por exemplo, se relacionar bem, precisa desenvolver as inteligências pessoais dessas crianças.” (Howard Gardner)

Fonte:


• ANTUNES, Celso. Jogos para a Estimulação das Múltiplas Inteligências. Editora Vozes, 2002.
• ANTUNES, Celso. Como Desenvolver Conteúdos Explorando as Inteligências Múltiplas – Editora Vozes, 2002.
• http://www.if.sc.usp.br/~aguida/2000/tania/
• http://ars.com.br/antecipa/MAI97/pagina3.htm
• http://www.edicoesgil.com.br/educador/multiplas.html
• http://www.geocities.com/bernardorieux/a16.htm
• http://www.sj.univali.br/agenda21/contribuicoes-internas/as-multiplas-inteligencias-e-a-razao-aberta.html
• http://novaescola.abril.com.br/
• http://www.homemdemello.com.br/psicologia/intelmult.html

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