Edição 35 - A Gente Não Quer Só Comida


Projeto pedagógico leva alunos da Educação Infantil e do primeiro segmento do Ensino Fundamental a reproduzir obras do pintor

Por Jaciara Moreira

Pesquisar e reproduzir obras de Cândido Portinari parece tarefa exclusiva para gente grande. No entanto, professores do Colégio Itapuca III, localizado em Itaipu, Niterói, decidiram estimular alunos do maternal a 4.ª série do Ensino Fundamental a conhecer melhor o artista, considerado o mais brasileiro dos pintores, apesar de sua origem italiana. O resultado foi uma exposição que contou a vida e a obra de Portinari através de textos, poesias, maquetes e desenhos produzidos pelas próprias crianças.

A incitava faz parte do conteúdo curricular da escola, que, este ano, passou a trabalhar mais intensamente com projetos. E, conforme explica a coordenadora pedagógica, Fárida Gatti Monteiro, a escolha do tema Portinari não foi casual. Além de possuir um acervo que retrata bem a cultura brasileira, o pintor comemoraria o centenário este ano.

“A obra de Portinari mostra muito de nossa cultua e reproduz bastante o universo infantil. E, aproveitando que este é o ano do seu centenário, decidimos estimular as crianças a buscar informações sobre ele em livros, na Internet e a fazer releituras e recriações das obras. O resultado foi surpreendente”, avalia Fárida.

Todos os alunos da escola participaram do projeto. A primeira preocupação dos professores foi saber até onde as turmas conheciam o artista. A partir daí, foram criadas tarefas para serem executadas em casa, com a ajuda dos pais. Segundo Fárida, a participação da família foi fundamental para o sucesso da proposta pedagógica, já que a idéia era desenvolver o projeto com material pesquisado pelas próprias crianças. “Foi tudo produzido dentro da realidade dos alunos. Eles aceitaram muito bem o projeto e a cada dia traziam para a escola novidades sobre o autor que encontravam nos sites ou nos livros dos pais”, acrescenta a coordenadora.

O envolvimento da família não se limitou a ajudar os filhos nas tarefas de casa. A convite dos professores, o pai de um dos alunos do Jardim III passou uma manhã na escola pintando um quadro – que também foi incluído na exposição – e conversando com as crianças sobre a arte de pintar.

“O projeto também foi uma ótima oportunidade para falarmos da profissão de pintor, e a presença do pai aqui na escola foi bastante elucidativa”, afirma Silvana de Almeida Souza, professora do Jardim III.

Embora o tema esteja relacionado à Arte, o projeto foi interdisciplinar e envolveu até a Geometria, levando as crianças a trabalhar com dobraduras, formas e dimensões na reprodução de quadros e na confecção de maquetes. Por incluir ainda poesias e muitos textos sobre as várias fases do pintor, o projeto também solicitou conhecimentos de Língua Portuguesa.

Mais do que uma ponte para o enriquecimento cultural das crianças, o projeto deu suporte aos professores para discutirem os conteúdos programáticos das séries, como, por exemplo, os ciclos da cana-de-açúcar e do café. “Nós aproveitamos o momento para fazer as crianças entenderem melhor alguns períodos da nossa história, bem marcados nas telas de Portinari”, ressalta Rosângela Carvalho Moreira, que dá aula para a 2.ª série do Ensino Fundamental.

Algumas brincadeiras infantis também foram relembradas com as obras do pintor, entre elas o jogo de pião e a roda. “Com a ajuda da professora de Artes, as turmas de 1.ª a 4.ª séries reproduziram a obra Roda Infantil através de maquetes e pinturas. Aproveitando o gancho, os alunos da alfabetização fizeram desenhos mostrando brincadeiras antigas, dos tempos de infância dos seus pais”, conta Farida. A Educação Infantil reproduziu, entre outras obras, o Café, tela em que Portinari retrata o trabalho nas fazendas cafeeiras. O envolvimento dos alunos nessa tarefa levou os professores a criar um subprojeto sobre plantação.

Para as crianças, a experiência de reproduzir obras de um pintor famoso parece ter sido marcante. “Já tinha ouvido falar de Portinari, mas não sabia muita coisa sobre ele. Descobri que foi um grande pintor brasileiro e isso vai me ajudar quando estiver maior e tiver que fazer outros trabalhos”, disse Thiago dos Santos, 10 anos, aluno da 4.ª série, que fez desenhos baseados nas obras O Espantalho e Menino no Balanço.

“Não conhecia Portinari e gostei muito das obras dele, principalmente do quadro Guerra e Paz, no qual ele mostra as coisas ruins que acontecem na guerra e as coisas boas da paz”, completa Bruna Barreto, 8 anos, aluna da 2.ª série.
Apesar de envolver várias etapas, o projeto foi realizado em cerca de 20 dias – tempo considerado recorde, se for levado em conta o período médio de duração dos projetos pedagógicos.

“Este ano, resolvemos intensificar mais a utilização dos projetos. Por isso, não estamos investindo em propostas longas. Nossa meta é trabalhar um tema, no máximo, entre 15 e 20 dias”, justifica Fárida.

Somente neste primeiro semestre, já foram realizados três projetos e o tempo foi mais que suficiente para a produção de todo o material e para a culminância que, no acaso de Portinari, foi uma exposição aberta a todos os familiares.

Para o próximo semestre, o primeiro projeto já está escolhido: Ecologia. O Colégio Itapuca fica na Região Oceânica de Niterói, local que reúne as principais praias e lagoas da cidade e, conseqüentemente, vários problemas ambientais. A proposta dos professores é fazer um trabalho de campo com os alunos a fim de que eles conheçam de perto a realidade da região e depois, na sala de aula, possam desenvolver trabalhos que apontem soluções para a poluição das lagoas, o desmatamento, o lixo nas ruas, as valas negras etc.

“Com os projetos, queremos trabalhar ao máximo a criatividade dos alunos e estimulá-los a ler e a pesquisar cada vez mais” finaliza a coordenadora pedagógica.

Colégio Itapuca III
Tel.: (21) 2609-5777