Geografia da Educação Brasileira
Comentários de Simão Sessim*
Em recente análise
de dados resultantes de Censos Escolares e Demográficos, o Instituto Brasileiro
de Estudos e Pesquisas (INEP), do Ministério da Educação, publicou um
importante documento denominado Geografia da Educação Brasileira 2001.
O estudo mostra que 41% dos alunos que ingressam na primeira série da
Educação Fundamental não conseguem chegar ao final, isto é, não conseguem
concluir a 8.ª série. Em outras palavras, de cada cem alunos que iniciam
na 1.ª série, temos apenas 59 concluintes. Trata-se de um processo injusto
de exclusão social de crianças que sequer têm condições de compreender
a gravidade das conseqüências futuras desta exclusão.
Desta situação resulta uma nova figura produzida pelo sistema educacional
excludente: os analfabetos ou semi-analfabetos escolarizados. São aqueles
cidadãos que passam algum tempo de suas vidas freqüentando a escola, mas
não são beneficiados por ela e não adquirem as habilidades mínimas de
leitura e escrita que lhes permitam compreender e intervir, de modo consistente,
em suas próprias vidas e na sociedade. São cidadãos duplamente prejudicados:
primeiro, por não terem desenvolvido as habilidades de ler e escrever,
uma das condições básicas para o exercício de sua cidadania; segundo,
porque pagaram, através de impostos, por um benefício que lhes foi negado.
Outra informação assustadora diz respeito ao tempo que os alunos – isto
é, aqueles que conseguem completar as oito séries – levaram para concluir
a Educação Fundamental. Pasmem os senhores e as senhoras, eles levam,
em média, mais de dez anos para cursar oito séries! Portanto, um grave
prejuízo humano pelo atraso na vida dos alunos e um grave prejuízo social
e financeiro, causado pela repetência – esta chaga da educação brasileira,
responsável também pelos graves índices de evasão escolar.
Na Educação Fundamental, as crianças brasileiras ficam apenas quatro horas
por dia na escola, incluído, neste tempo, o período reservado para a merenda
e o recreio, atividades importantes que consomem, pelo menos, meia hora.
Em outros países, o horário escolar é de seis a sete horas diárias. No
Brasil, a Educação de Nível Médio, infelizmente, enfrenta situação similar
com menos de cinco horas diárias de atividades. A classe média busca completar
a educação de seus filhos com atividades escolares, enquanto as crianças
das famílias mais pobres ficam nas ruas, muitas vezes sem supervisão e
cuidado dos adultos, que estão buscando o sustento familiar.
O tamanho das turmas é outro fator que está associado ao bom desempenho
dos alunos. O estudo citado nos mostra claramente que a superlotação não
favorece a aprendizagem. Observem, senhoras e senhores, que os estados
e regiões que apresentam o melhor desempenho escolar, a menor evasão e
a menor repetência são exatamente aqueles que têm, em média, as classes
menores, isto é, salas de aula que não estão superlotadas de alunos e,
portanto, permitem que o professor dê mais atenção ao desempenho de cada
um dos alunos.
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Outro fator muito importante associado à aprendizagem e ao bom desempenho
escolar é a qualificação profissional dos educadores. No Brasil, apenas
metade dos professores da Educação Fundamental tem formação em nível superior.
Isto significa que temos professores com formação de escola normal, ou
equivalente, ministrando disciplinas como física, química ou história
para turmas de 5.ª a 8.ª série, sem ter tido a formação adequada.
A situação dos salários é de amplo conhecimento dos senhores e senhoras,
mas é indispensável reiterá-la. Vejam que um professor de 1.ª a 4.ª série
ganhava, em 1997, o equivalente a dois salários mínimos no setor público,
enquanto o setor particular pagava, pelo menos, três vezes mais que isso.
Assim como o tamanho da turma e o salário, é importante assinalar que
existe uma associação positiva entre rendimento escolar dos alunos e salários
de professores.
Os estados e regiões que traduzem seu respeito e reconhecimento aos professores,
atribuindo-lhes melhores salários, são aqueles que apresentam as melhores
taxas de rendimento escolar. Estas e outras informações disponíveis no
estudo sobre a realidade da educação brasileira são cruciais: não teremos
educação de qualidade e cidadãos bem formados se este país continuar a
desprezar a escola e seus professores!
Diante deste quadro doloroso e preocupante, não podemos ter um olhar pessimista
e desencorajador. É nossa obrigação olhar para o futuro e começar a desenhar
alternativas para a superação desta situação, construída ao longo de muitos
anos de desconsideração e irresponsabilidade civil e política de nossos
governos, em plano federal, estadual e municipal.
Por esta razão, conclamo ao novo governo, ao Presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e ao Ministro Cristovam Buarque que olhem, com muito carinho
e atenção, para a Educação brasileira! Investir em educação é investir
no futuro, com altas taxas de retorno, não apenas econômico, mas principalmente
social e humano, que se traduz em uma sociedade menos violenta e excludente
e mais justa e solidária!
(*) Simão Sessim é Professor e Deputado Federal (PPB-RJ).
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