
Alunos
montam peça teatral que conta a vida e obra de Chiquinha Gonzaga
Por Cláudia Sanches
Música, dança,
teatro, grafismos, textos e artes plásticas. Todas as formas de manifestação
artística foram utilizadas para a montagem da peça teatral Chiquinha Gonzaga
em Sete Tempos, exibida pelos alunos da 8.ª série do Colégio Equipe I,
que fica no bairro Fonseca, em Niterói.
A peça conta a vida e a obra da maestrina que desafiou uma época com sua
música e atitudes. Além da apresentação, o cenário contou com uma mostra
de produções dos alunos, com frases da artista, grafismos e charges. Segundo
o coordenador do trabalho, o professor de Artes Roberto Motta, resgatar
a grandeza dessa mulher foi um dos objetivos do projeto Através dos Tempos,
Chiquinha Gonzaga Conta sua História.
A maioria dos brasileiros não sabe, mas a autora da famosa marchinha “Ó
Abre Alas”, eternizada na memória do povo, abriu caminhos não só para
as mulheres, mas lutou pelos direitos autorais dos músicos e até militou
em movimentos pela Abolição da Escravatura. Francisca Edwiges Neves Gonzaga
foi condenada pela sociedade por ter lutado pelo direito das mulheres
e ter questionado valores sociais vigentes. Numa das cenas, a aluna recita
uma frase da artista: “Estando contra tudo e contra todos, fui humilhada
e desprezada”.
Muito cedo, Chiquinha começou a mostrar sua forte personalidade e paixão
pela música. Aos onze anos compôs a Canção dos Pastores. Aos 16, casou-se
obrigada com o oficial de Marinha Mercante Jacinto Ribeiro do Amaral,
que não gostava de música, e foi obrigada a levar seu piano para casa
do pai, onde continuou a compor até que o marido lhe impôs a escolha:
ele ou a música. Chiquinha decidiu, então, sair de casa carregando seu
piano e um dos seus três filhos, João Gualberto.
Assim, ela passou a viver em acampamentos onde conheceu o engenheiro ferroviário
João Batista, com quem se casou e viveu, até descobrir que estava sendo
traída. Num dos momentos mais marcantes da peça, interpretada pela aluna
Taisa Bittencourt, Chiquinha resolve deixá-lo junto com a filha Alice,
e, com a ajuda dos amigos músicos, começa a dar aulas de piano para se
manter. A partir daí, ela começa a compor sem parar, a editar e a fazer
sucesso.
Em 1899, compôs a primeira marcha carnavalesca, que a levou ao gosto do
povo. Aos 52 anos, conheceu João Batista Fernandes Lage, um rapaz de 16
anos, por quem se apaixonou e com quem começou um relacionamento que durou
até a sua morte. Depois de viajar pela Europa com João Batista, Chiquinha
voltou e fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), lutando
pelos seus direitos autorais.
Chiquinha foi uma musicista completa e deixou uma obra volumosa e variada,
com composições de diversos gêneros como maxixe, tango, lundu, valsa,
fado, serenata, choro e quadrilha. “Ela é a cara do Brasil. Guerreira,
fez tudo por amor à música. Além de sua arte, deixa a Sbat, uma herança
para Gilberto Gil, Chico Buarque e todos os músicos que estão aí hoje.
A experiência de ter lido sua biografia é maior do que qualquer superprodução
de TV. Numa época em que os espaços sociais eram rigidamente definidos,
ela não hesitou em trazer para o salão a cultura da rua, levando, pela
primeira vez, o carnaval e a música do povo para a ribalta.”, relata Roberto.
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Etapas
do Projeto
A
elaboração do projeto levou pouco mais de um mês. O pontapé inicial foi
a leitura da biografia da artista e pesquisa em outras mídias como revistas
e Internet. Num segundo momento, em discussões dentro e fora de sala de
aula, os alunos fizeram a comparação do seriado da Rede Globo com as informações
lidas.
“Assim eles puderam compreender as diversas formas de linguagens e perceber
a reconstituição dos fatos como versões, e não como verdades absolutas”,
conta a coordenadora da escola, Selma Muniz.
O segundo passo foi escolher o que cada um iria fazer de acordo com suas
aptidões. Os alunos mais tímidos escolheram fazer redações, acompanhados
pela professora de Língua Portuguesa Renata Osório. Outros preferiram
retratar Chiquinha com grafismos, charges e caricaturas. “O projeto é
de toda a escola, até o professor de Matemática ajudou no cálculo das
datas, e o de História também não parou de trabalhar, já que esbarramos
o tempo todo em fatos históricos ao ler a biografia de Chiquinha”, brinca
Roberto.
Através do estudo da vida e obra de Chiquinha Gonzaga, os alunos reviveram
não só a sua história, que é muito intensa e rica, mas a história da música
e do Brasil. Revolucionária para sua época, ela se envolveu nas militâncias
políticas, como revela a cena na famosa Confeitaria Colonial, ponto de
encontro dos intelectuais, onde ela brinda com os amigos a Abolição da
Escravatura.
Montagem
da Peça
Montar
a peça, segundo Roberto, foi um grande desafio proposto pela escola, projeto
que os estudantes abraçaram com carinho e convicção. Para encenar os diálogos,
redigidos por eles, a vida da artista foi dividida em sete períodos, cada
um interpretado por uma aluna. “Chiquinha Gonzaga em Sete Tempos” acabou
revelando a vocação artística de alguns estudantes.
Durante a sua apresentação, a estudante Taissa Garcez, que faz curso de
teatro, não conseguiu esconder a honra de representar a maestrina, no
auge da sua carreira, cantando Ó Abre Alas para o povo. Segundo Roberto,
uma das metas do projeto é sensibilizar os alunos para as artes e também
inseri-los no processo cultural: “Conhecimento não se dá somente dentro
da sala de aula, nas aulas de Língua Portuguesa e Geografia, mas também
através da troca de experiências entre as pessoas. Concretizar nossa proposta
foi uma maneira de mostrar aos alunos que os sonhos são viáveis se acreditarmos
neles e lutarmos por eles, como fez Chiquinha”, enfatiza.
Colégio Equipe I
Tel.: (21) 9371-2844
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