Por Lídia Freire

Lembranças do passado? Todo mundo tem as suas. Umas, porém, costumam ser mais fortes que outras. Um exemplo são os primeiros contatos com os livros, quando somos apresentados ao reino mágico da leitura. Letra a letra, palavra por palavra, de degrau em degrau, vamos construindo o nosso mundo do conhecimento. No entanto, apenas com a chegada à vida adulta é que nos damos conta da importância de todo o acervo conquistado ao longo dos anos. Afinal, é a partir do que se lê e da informação adquirida que se pode transformar o mundo.

“Um povo culto adoece menos e tem melhores oportunidades de trabalho. Você deixa de ter determinadas despesas e passa a gerar alguns recursos com a educação e com a cultura. É fundamental que um povo seja educado e culto. Essa é a cadeia do sucesso” – avalia Paulo Rocco, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a quem coube, junto com a Fagga, promover a XI Bienal Internacional do Livro, maior evento cultural literário do país.

Crescimento do Mercado Editorial

De 15 a 25 de maio, a edição 2003 da Bienal vai ocupar três pavilhões – a de 2001 foi realizada apenas em dois –, o que serve de termômetro para medir o crescimento do setor. “Nós temos notado que houve uma expansão do mercado editorial no Brasil. O livro, cada vez mais, é utilizado com duas finalidades: aperfeiçoamento e lazer. Com isso, abre-se a possibilidade para o surgimento de novos autores e para a difusão de novas idéias e conceitos”, analisa Paulo Rocco.

A variedade de títulos realmente estimula o leitor ao consumo. Mas, o que dizer do preço do livro, considerado alto para muita gente? O presidente do SNEL argumenta: “O problema da distribuição de renda é muito maior do que o preço do livro. Hoje em dia, nos Estados Unidos, o livro chamado pocket (de bolso) está em torno de nove dólares, cerca de trinta reais. Se você comparar o preço do livro brasileiro com o de outros países, verá que não é mais caro, mas igual ou menor, nunca superior.”

“Um país se faz com homens e livros”

Se existem injeções para combater doenças, também existe um antídoto contra os males que um país desestruturado pode adotar para banir de vez as desigualdades sociais: a distribuição de livros didáticos. “Todos os programas realizados com a finalidade de se colocar as crianças na escola e dar livros para que elas estudem é meritório. É um programa vencedor em qualquer nível” – defende Paulo Rocco. O editor vai mais longe na busca de soluções. “A democratização cultural só vem através da biblioteca. Você não pode pensar num país desenvolvido sem uma larga escala de bibliotecas. Você não pode pensar que vai democratizar o acesso da população à cultura sem dar oportunidades. É absolutamente fundamental haver mais bibliotecas”.

Porém, na opinião do presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, tem havido um incentivo, ainda modesto, por parte dos governos municipal, estadual e federal, no que diz respeito à questão da abertura e manutenção de bibliotecas públicas, atitude esta que, se modificada, traria grandes benefícios. Essa opinião também é compartilhada pela diretora do Departamento Geral de Bibliotecas do Estado do Rio de Janeiro, Lúcia Fidalgo. Segundo ela, apesar do aumento do número de bibliotecas públicas cadastradas em todo o país ser animador (passando de 3.800 para cerca de 5.000), ainda falta muito. Há quem calcule que um país das dimensões e com a população do Brasil precisaria de algo em torno de 15.000 bibliotecas públicas para implantar o hábito da leitura e atender minimamente às diferentes demandas.

Criança: um investimento seguro

A Bienal é uma festa para as crianças, literalmente. E, para elas, convidadas muito especiais, a Bienal 2003 foi planejada com muito carinho. “Estamos procurando melhorar a visitação escolar. A gente quer que a criança aproveite totalmente o evento. Antes de ela entrar, vai passar por um auditório onde terá mais informações sobre o que significa a Bienal e sobre o que pode visitar”, diz Rocco.

O presidente do SNEL emociona-se quando pensa na invasão mirim aos pavilhões. “A coisa que mais me encanta é exatamente a visitação escolar. As crianças ficam na maior felicidade. Ninguém sai com as mãos abanando. Todo mundo tem direito a um livro. E, depois, a emoção que transmitem, a alegria que sentem! Essa é a melhor recompensa que se tem ao fazer a Bienal, a melhor coisa do mundo”, garante Paulo. Ele lembra que muitas crianças voltam no final de semana, com os pais, alegando que não tiveram tempo para ver tudo.

Os organizadores da Bienal Internacional do Livro se dão por satisfeitos quando analisam o número de visitantes da edição de 2001: foram 560 mil pessoas transitando entre dois pavilhões – este ano haverá mais um. Mas aumentar esta cifra não é a meta do presidente do SNEL. “Nós estamos cada vez mais querendo qualificar a Bienal, dar mais conforto ao público”, diz Paulo Rocco, garantindo que as pessoas ficarão maravilhadas com o que irão encontrar. Portanto, preparem-se.

XI Bienal Internacional do Livro: O Verdadeiro Programa Legal

De dois em dois anos, um verdadeiro batalhão invade o Riocentro. Um batalhão “do bem”, diga-se de passagem. São homens e mulheres envolvidos na organização do maior evento do setor literário e cultural do Rio de Janeiro, a Bienal Internacional do Livro, que, em 2003, entra em sua décima primeira edição. De 15 a 25 de maio, cerca de 10 mil pessoas, somando-se o contingente de contratados e de empresas terceirizadas, deverão estar trabalhando para mostrar à população os últimos lançamentos editoriais e transformar o livro no centro das atenções. Comandar este exército é missão para poucos, que o diga Arthur Repsold, diretor da Fagga, empresa responsável pela montagem e logística da Bienal carioca, desde o início, e pela versão paulista a partir de 2000.

Como sempre acontece, um país é homenageado, e o escolhido para marcar os 20 anos da Bienal do Rio foi a Itália. Haverá um estande de 300m2 para receber a comitiva italiana, que conta com 12 autores, autoridades e empresários do mercado editorial. A programação que vai oferecer ao público um panorama da cultura e da literatura italianas foi batizada de Descobrindo a Itália. Vários escritores já confirmaram presença, entre eles Domenico De Masi, autor do badalado Ócio Criativo.

Aumento da qualidade

A primeira edição da Bienal foi modesta, ocupando 1.000m2 dos salões do Copacabana Palace. Passadas duas décadas, houve uma evolução digna de entrar para a história. Será a primeira vez que a Bienal irá ocupar três pavilhões no Riocentro, uma área 15% maior que a de 2001. Se isto acontece é porque vem crescendo o número de público e de empresas interessadas em mostrar o que produzem. Deve ser de 850 o número aproximado de expositores, entre editores, livreiros, distribuidores de livros, agentes literários, importadores e exportadores do setor, jornais e revistas, entidades e órgãos ligados ao livro, empresas de software, fabricantes de papel e gráficas, além de empresas de materiais e serviços associados à produção do livro. Os organizadores estimam que chegue a 560 mil o número de visitantes.

Crescer, no entanto, não é mais a maior preocupação do empresário Arthur Repsold. Seu foco está voltado, antes de mais nada, para a qualidade. “Nós estamos numa etapa em que não procuramos mais um crescimento da feira, embora isto acabe sendo inevitável. Nós estamos, sim, aumentando a qualificação, a quantidade de eventos paralelos e atividades culturais” – explica ele, que trabalha em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), sob a presidência de Paulo Rocco, responsável pela programação cultural.

Engana-se quem pensa que a XI Bienal será uma cópia fiel da anterior. Uma das expectativas do diretor da Fagga é, justamente, ver de perto as novidades. “O que está acontecendo é uma evolução, e nós estamos com vários projetos novos. Um deles é o Fórum de Debates, espaço reservado para o público universitário. Será uma arquibancada em forma de arena, onde haverá programação durante todos os dias, além do Café Literário e das palestras.

Professor: um convidado muito especial

Repsold lembra que a Bienal é um programa para ser feito com calma, portanto, é bom que se retire o relógio do pulso e se esqueça das horas. Mas, o que fazer com as crianças, que, dependendo da idade, não acompanham os adultos? Até nisso a equipe da Fagga pensou. “Às vezes, os pais vêm com crianças pequenas e elas se cansam. Então, nós criamos uma biblioteca, na qual elas poderão ficar por um tempo limitado. Nesse espaço, as crianças terão contato com os livros, uma vez que recreadores lerão histórias e vários monitores irão desenvolver atividades”, explica. Portadores de deficiência física também terão mais conforto: haverá rampas de acesso em todos os estandes e será possível alugar cadeira de rodas e escooter elétrica (carro com rodinha).

Arthur Repsold nota que a busca pela qualidade não é uma preocupação exclusiva dele.

“O que nós estamos vendo este ano é que os expositores também estão investindo muito na área cultural, ou seja, promovendo debates, apresentações, encontro com autores e seminários”. E um público especial vai lucrar com tantos atrativos: o professor. “Primeiro, porque os professores não pagam, eles são credenciados e entram em qualquer dia. A credencial dá acesso livre a todos os espaços da Bienal. Segundo, porque haverá uma programação exclusiva para professores, que acontecerá durante quatro dias, à noite. São debates sobre diversos temas”, adianta o diretor da Fagga, empresa fundada há 38 anos.

Consciente da importância da educação para o desenvolvimento do país, o empresário Arthur Repsold manda um recado especial àqueles que se dedicam à área pedagógica. “O professor é muito bem-vindo à Bienal. Aliás, não é só bem-vindo, mas um dos personagens principais do evento.”