É comum ouvirmos comentários sobre como é difícil ser professor hoje em dia. “Os alunos já não nos ouvem ou respeitam e não querem nada com os estudos”. Esta é a tônica das conversas em qualquer sala de professores. Ela parece ser justa, legítima e... inconseqüente. No entanto, não é nenhuma dessas coisas.

Precisamos refletir sobre a situação. Qual é a parcela de responsabilidade do professor. Devemos analisar que imagem de identidade profissional, papel social e comprometimento no trabalho passamos a nossos alunos, pois esta, certamente, influencia o modo como eles atuam em nossas aulas.

É a situação observada por Cavett Robert: “O mundo é um espelho e devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos, crenças e entusiasmo”. É hora, professor, de ver o que se está colocando na frente desse espelho. Atitudes podem passar mensagens negativas, que produzem e reforçam tudo aquilo que reclamamos.

É preciso crer


Mais do que em qualquer outra profissão, nós, educadores, precisamos acreditar no que fazemos. Isso porque trabalhamos para orientar pessoas, para motivá-las a aprender, a utilizar o seu talento e a desenvolvê-lo. O professor não é apenas um passador de informações. Seu trabalho principal é com pessoas. Seus instrumentos são as informações e conhecimentos produzidos. Um bom programa de computador pode passar informações e conhecimentos de maneira clara, correta e até mesmo estimulante. Mas inspirar pessoas, ajudá-las a acreditar em si mesmas, a ter um objetivo na vida, a superar suas limitações e vislumbrar perspectivas de aplicação das informações e conhecimentos, isso é trabalho de seres humanos comprometidos com seus semelhantes.

Como professores, queremos que nossos alunos estejam convencidos de que é bom estudar, que o que ensinamos é importante.

Será? Ou, lá no fundo, desejamos apenas que assumam essa atitude para que prestem mais atenção em nossas aulas e tenhamos menos dificuldade em nosso trabalho? À medida que damos aula sem entusiasmo, sem convicção, sem alma, sem base, sem nenhum sentido aplicativo, provocamos nos nossos alunos a rebeldia. Isso é mais notado naqueles alunos mais autênticos, que protestam – com toda a causa e razão do mundo – e testam nossa dimensão humana, a autenticidade com que assumimos nosso papel. É como se eles nos desafiassem para acabar com essa história de ser professor da boca para fora. Podemos, sim, fazer a diferença em nossas aulas, desde que comecemos a fazer a diferença em nós mesmos.

Há que se mudar o modo como encaramos nossa profissão e nosso trabalho com nossos alunos. O magistério é uma ocupação com uma particularidade extraordinária: nenhuma outra exige tanto que o profissional seja bem-sucedido pessoalmente. Como professor, você é o exemplo de sucesso que deve inspirar seus alunos a trilhar o caminho dos vencedores.

Começando do começo – Toda profissão exige o cumprimento de certos princípios, e o magistério não é exceção.

O bom magistério baseia-se em três princípios básicos:

Conheça o que faz


Para o professor, isso significa compreender os desdobramentos do foco do seu trabalho, que é a formação dos seus alunos. Para isso, o professor deve conhecer e compreender a dinâmica do comportamento humano. Como funciona o relacionamento interpessoal, a comunicação social e, num sentido mais amplo, o desenvolvimento humano e a dinâmica de grupo. Também necessita compreender o funcionamento da mente humana, como ocorrem os pensamentos e como os pensamentos são transformados em aprendizagem. Todo esse conhecimento específico é fundamental ao nosso ofício e, portanto, devemos dominá-lo bem, para termos segurança profissional. Mas isso não é tudo.

É necessário experimentar diferentes estratégias de ensino, criar oportunidades novas de participação dos discípulos, gerar novos desafios. Enfim, desenvolver conhecimentos objetivos e concretos inéditos, a partir de nossa experiência. Nossa prática profissional constitui-se em uma extraordinária oportunidade de construir esse conhecimento, desde que estejamos orientados para isso e que desenvolvamos algumas atitudes, habilidades e medidas sistemáticas de observação. Analise e interprete objetivamente seu dia-a-dia. A reação e o desempenho dos educandos a cada mudança no modo de lecionar. Sua própria reação perante à novidade – você se sente confortável? A sistematização desse processo de análise e reflexão em registros é fundamental para o seu aprimoramento profissional.

Ame o que faz

Dê sua aula com alma, e não apenas com a cabeça. Tenha consciência do compromisso que você tem com os alunos e seu desenvolvimento, e não com o conteúdo e a necessidade de estar em dia com a matéria.

Alguém já disse que “as pessoas são convencidas mais pela profundidade, pela convicção e pelo seu entusiasmo, do que pela intensidade de sua lógica.” Tal observação me faz lembrar de um professor de Matemática que tive no segundo ano do curso científico: ele nos ensinava com tanto entusiasmo e vibração que não podíamos deixar de nos envolver no seu raciocínio, querendo ver o que ele via naquela seqüência de fórmulas e números. Assim, nós, suas alunas, éramos levadas a raciocinar com ele.

Entusiasmo é uma demonstração de amor, de apreço. É um indicativo de que valorizamos o que fazemos, como também o momento que vivemos e o espaço em que atuamos. Não importa se nossas condições de trabalho não sejam as ideais. Amar o ato de lecionar, amar o que fazemos representa, em última instância, amar a vida e aproveitá-la ao máximo.

Acredite no que faz


Você influencia a vida de seus alunos. Lembre-se de seus próprios dias nos bancos escolares, quantos educadores o marcaram positivamente. Procure lembrar-se de características de seu desempenho que eram mais marcantes. Com certeza, eles demonstravam, em sua atuação, a convicção de que seu trabalho era importante, que eles tinham um sentido de missão. O fundamental para eles não era fazer com que vocês tirassem boas notas ou passassem de ano, mas que aprendessem. Que desenvolvessem habilidades e atitudes importantes para a vida, que empregassem e desenvolvessem o seu talento.

Agora, pense nos outros professores. Aqueles dos quais você mal se lembra, que parecem ter passado em branco na sua vida.

Mas não. Eles não passaram em branco. O que eles fizeram – ou pior, o que deixaram de fazer – ainda marca, como um peso morto em sua vida, pelo mau aproveitamento do tempo e do seu potencial. Tantas mensagens negativas sobre a vida, educação e trabalho foram acumuladas por você e seus colegas graças a este tipo de educador. Melhor dizendo, “deseducador”. Você certamente não quer ser um desses na vida e na lembrança de seus discípulos.

Acredite no que faz


Seu trabalho, sua presença diante de seus educandos é importantíssima para a formação de cada um deles. Se você escolheu a carreira do magistério, é porque se propõe a construir um perfil profissional diferenciado, que, por sinal, é analisado e absorvido pelos alunos a cada dia.

Acredite no que faz


Crer em si é um elemento fundamental de estimulação e orientação ao corpo discente. Ensina-o a trabalhar melhor entre si e com o professor, desbravando o mundo de idéias, de conhecimento e de si próprio.

Como agir segundo essa orientação? Dia a dia, passo a passo, mantendo firmes os nossos propósitos de praticar continuamente os três princípios acima. É um aperfeiçoamento que não tem fim, mas cujo início pode ser neste exato momento. Depende de você. Conheça, ame, acredite. Faça a diferença em nossa sociedade.



Heloísa Luck é Doutora em Educação, consultora e promotora de programas e cursos de desenvolvimento humano em Educação.

Para contactá-la, utilize o e-mail cedhap@terra.com.br

Matéria cedida pela Revista Profissão Mestre
www.profissaomestre.com.br