Cotas para Negros

Cristovam Buarque*

Como educador e pensador, fui um dos defensores das cotas para negros. Como ministro, não proponho como política pública. A adoção das cotas para negros não pode ser uma coisa imposta que crie antagonismo racial em vez de uma superação de preconceito. As cotas devem ser definidas depois de um amplo debate da sociedade em busca de consenso, com uma base de apoio ampla.

A elite brasileira é branca. Temos que mudar a cor da pele dos alunos da universidade, mas não se pode impor, nem aos negros nem aos brancos. No entanto, quero chamar a atenção para uma coisa: as cotas para negros são para os negros que terminam o ensino médio, que em geral não são pobres. Os pobres só terminam a quarta série do primeiro grau. As cotas ajudam a mudar a cor da Universidade, mas não a classe.

No Brasil, o preconceito mais forte não é de raça, e sim de classe, embora exista um preconceito racial também. Sendo assim, é preciso que haja escola pública de qualidade. Quando todas as crianças tiverem escola pública de qualidade, não necessitaremos mais de cotas, seja para negros, seja para alunos de escolas públicas. As cotas para negros podem ser benéficas do ponto de vista de quebrar a vergonha de sermos um país meio africano com uma elite branca. A Uerj prestou um grande serviço ao abrir a discussão do tema.

(*) Cristovam Buarque é Ministro da Educação.