Professores dão exemplo de como o brincar pode ser o principal instrumento de trabalho na Pré-escola

Por Cláudia Sanches

Logo na entrada da Creche Municipal Maria Alves Lavouras, localizada em São João de Meriti, avista-se a frase: Brincadeira é Coisa Séria. Foi baseada nessa filosofia que a comunidade escolar inaugurou a Brinquedoteca que faz parte do projeto Brincar, idealizado pela gestora Raquel Maciel e pela coordenadora pedagógica Merçulan de Mendonça.

A proposta de oficializar o projeto surgiu da necessidade de sistematizar o trabalho que já vinha sendo realizado com sucesso. “No momento em que a idéia passa para o papel, você vê a teoria se transformar em ação e vice-versa. O professor se compromete mais com sua função”, acredita Raquel.

O objetivo central do projeto foi reconhecer a brincadeira como forma criativa de promover atividades visando ao desenvolvimento cognitivo, físico, psicológico e emocional da criança. “Já se descartou a idéia de que brincar é um mero passatempo ou distração sem importância. Brincando, a criança, cria, recria e interpreta. E, dentro desse processo, ela estimula suas estruturas mentais”, explica Merçulan.

Baseando-se nos PCNs, nas experiências vividas dentro e fora da sala, nas matérias divulgadas em revistas e jornais de Educação, inclusive do Educar, a equipe da Creche Maria Alves Lavouras elaborou e redigiu o projeto da Brinquedoteca, evidenciando que, muitas vezes, brincar de casinha ou de cozinheiro não é mera diversão, uma vez que pode significar, entre outras coisas, a representação de um papel social e o desenvolvimento de relações interpessoais.

De acordo com a coordenadora pedagógica da creche, as brincadeiras não devem ser encaradas de maneira aleatória na Educação Infantil. Vestir uma fantasia de adulto na Brinquedoteca, por exemplo, é estimular a criatividade do aluno e dar a oportunidade de ele vivenciar a realidade e entender o contexto social no qual está inserido.

Ao representar os papéis, a criança aprende a lidar com os conflitos. Mas a função das atividades lúdicas não pára por aí. É através dos brinquedos que a criança se socializa, aprende e aprimora a linguagem, desenvolve a sua parte psicomotora e emocional, além de assimilar informações.

Por isso, o educador tem um papel fundamental na orientação das tarefas. Ele deve oferecer condições para que o trabalho se realize em uma atmosfera de prazer. Todas as atividades são dirigidas a partir de seus objetivos específicos e devem sempre promover desafios e estimular o raciocínio. “Mesmo as chamadas “brincadeiras livres”, como pique-esconde ou jogar bola, nas quais as crianças ficam mais soltas, também devem ser acompanhadas e avaliadas pelo educador. Ele não está isento de sua responsabilidade”, acrescenta a coordenadora.

O projeto pautou as várias possibilidades de brincar a partir dos espaços físicos da creche. Nas salas de aula, os alunos trabalham mais os jogos e aprendem as regras, desenvolvendo a parte cognitiva, a socialização e a cooperação entre eles.

No pátio interno, eles praticam Educação Física e apresentam danças folclóricas e cantigas de roda. No pátio externo, que inclui um parque, amarelinha e a simulação de uma cidade com estradas e sinais de trânsito, trabalham coordenação motora e assimilam conteúdos (na amarelinha vêem os numerais e as operações).

Na Brinquedoteca – que conta com um armário cheio de fantasias, bonecas, carrinhos, casinha e uma cozinha –, os professores procuram trabalhar as habilidades mais específicas de cada criança.

Nesse espaço, elas dispõem de um espelho que serve para reconhecer suas identidades. Ali, eles brincam de adulto, usam maquiagem, imitam profissionais (médicos, professores, atores...) entre outras atividades. “O agrupamento favorece a autonomia, além de o professor ter oportunidade de dar asas à imaginação dos pequenos”, relata Merçulan.

O Brincar acaba por promover os valores de conservação, já que as professoras e agentes transmitem a importância de se cuidar dos brinquedos para que estes não quebrem, e também conscientizam as crianças de que é necessário guardá-los ao final de cada brincadeira.

É através dessas atividades que a equipe detecta, dentre outras coisas, se existe algum problema psicológico no aluno ou conflito familiar que prejudique o seu desenvolvimento. “Diagnosticado algum comportamento estranho, chamamos a família e a encaminhamos para a ajuda psicológica, caso necessário. Da brincadeira, o professor obtém subsídios para seu trabalho”, afirma Raquel, que considera o Brincar uma obra aberta.

Além da Brinquedoteca, o projeto já incorporou outros trabalhos. É o caso das atividades da aula de artes. O lixo ganha vida e é transformado em brinquedos que decoram a escola e são utilizados nas datas comemorativas do ano letivo.

Raquel lembra que a ludicidade nunca deveria ser dissociada da realidade, não só na pré-escola, mas em qualquer área profissional: “Quando se trabalha de forma lúdica, a pessoa aprende melhor porque relaxa mais. Até para a formação do educador o projeto foi bom, pois ele próprio começa a ter mais prazer na sua prática. Afinal, resgata o brincar para ele também – o que muitas pessoas, infelizmente, desaprendem no decorrer de suas vidas”.

Creche Municipal Maria Alves Lavouras
Tel.: (21) 2650-2213