
Sistema
Montessori estimula o raciocínio lógico dos alunos e elimina
a decoreba
Por Jaciara Moreira
Para
boa parte dos estudantes, a Matemática ainda é o terror das salas de aula,
um bicho-de-sete-cabeças, ou, como preferem os adolescentes, “uma matéria
sinistra”. Mas há quem consiga ver um certo encantamento na disciplina
e até perceber que ela tem um lado dourado. Não, não são os professores.
Alunos de escolas montessorianas, como o Colégio Ágora, no bairro do Ingá,
em Niterói, lidam com a Matemática de uma maneira diferente.
De acordo com a diretora do colégio, Maria de Fátima Cortez, as barreiras
criadas em relação à Matemática estão ligadas à forma como os conceitos
da disciplina são apresentados nas escolas. “Normalmente, isso é feito
através da memorização, sem dar ao aluno a menor chance de compreender
as relações existentes entre a formação dos números e a sua utilidade
na vida prática”, critica.
A proposta da Matemática Montessoriana, segundo Fátima, é estimular o
raciocínio, e não a decoreba. O método é dividido em dois níveis, conhecidos
como Planos de Desenvolvimento. O primeiro é o da dezena, ou seja, trabalha-se
a formação das quantidades até 10 e a escrita dos numerais correspondentes.
O segundo é o das hierarquias, que trata da formação das quantidades superiores
à dezena. Nesse plano, os alunos aprendem a formar as ordens e as classes
do sistema decimal, com materiais de desenvolvimento apropriados tanto
para a compreensão das quantidades como para a escrita dos numerais. Esse
material, que dá início ao estudo das hierarquias, é chamado de Material
Dourado. Trata-se de cubos, barrinhas e quadrados em madeira com marcações
que representam as dezenas (caso da barrinha do 10) e os milhares (caso
do quadrado do mil). Originalmente, esse material era produzido em um
colar de contas amarelas, daí o nome Material Dourado.
“Estudando os planos de desenvolvimento da Matemática, percebemos que
eles possuem fundamentalmente três objetivos: conscientizar a criança
sobre o conceito de quantidade, permitir que ela conheça os símbolos que
vão representar essa idéia de quantidade e levá-la a tomar conhecimento
das leis que governam os símbolos das quantidades”, explica a diretora.
Fátima chama de símbolos os numerais. Já a lei, segundo ela, representa
as regras estabelecidas para as grandes operações. “Uma divisão, por exemplo,
precisa ser justa. Todos devem receber as mesmas quantidades. Então, com
o material, o professor estimula o aluno a desenvolver tarefas nas quais
ele possa pôr em prática esse conceito”, completa.
Assim, além de ajudar os estudantes a entender a formação dos números
e as trocas hierárquicas que ocorrem na Matemática, o Material Dourado
prepara a criança para trabalhar as operações básicas: adição, multiplicação,
subtração e divisão por 1, 2 ou mais algarismos. Ainda segundo a educadora,
esses conhecimentos vão oferecer aos alunos a chave do mundo da Matemática
com suas representações e possibilidades infinitas. Da mesma maneira,
a aprendizagem das letras e dos sons permitirá que eles descubram os caminhos
da leitura e da escrita.
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Raciocínio
Rápido
Embora, segundo
Fátima, muitos professores de escolas convencionais critiquem o método
pedagógico, ela vê o Material Dourado como um grande aliado: “Alguns educadores
acreditam que a metodologia da Escola Montessoriana para ensinar a Matemática
cria uma dependência da criança pelo material, uma certa preguiça mental.
Muito pelo contrário, a experiência dos profissionais que aplicam o método
em várias partes do mundo demonstra que, longe de simplificar as operações,
o material auxilia o desenvolvimento do raciocínio”, destaca a diretora.
Para reforçar sua argumentação, a educadora cita um caso apresentado no
Livro Pedagogia Científica, de Maria Montessori, pesquisadora educacional
italiana que deu origem ao Sistema Montessori de Educação: “...Certo dia,
em Londres, um menino, saindo do ônibus com a mãe, exclamou – Se todos
os passageiros cuspissem, poder-se-iam recolher 34 libras...”. O garoto,
conta o livro, leu em um cartaz a seguinte frase: É proibido cuspir dentro
do ônibus, sob multa de X libras. Durante todo o trajeto, o menino fez
mentalmente os cálculos, mostrando o resultado em libras esterlinas. Segundo
a diretora, a criança que utiliza o Material Dourado pode até demorar
mais a solucionar certas operações matemáticas, mas, no momento em que
se sente segura dentro de uma determinada etapa do desenvolvimento, ela
abandona o material e é capaz de resolver operações, muitas vezes complexas,
com facilidade.
Em geral, o material acaba perdendo o encanto por volta da terceira série,
quando é substituído por outros. “A mente humana necessita de material
sobre o qual trabalha em busca de seu desenvolvimento, dentro de um processo
natural”, afirma Fátima. “Assim, para Montessori, crianças e jovens devem
encontrar um ambiente rico em materiais que lhes permitam realizar experiências
sensoriais, através das quais possam extrair novos conhecimentos e idéias
indispensáveis à sua formação, seguindo o caminho e o ritmo de seu potencial”,
completa.
Turmas Integradas
O contato
dos alunos com o Material Dourado começa cedo. Uma das características
fundamentais do Sistema Educacional das escolas montessorianas são as
classes agrupadas, nas quais estudantes de séries diferentes dividem a
mesma sala de aula. O modelo é fundamentado na observação científica de
Maria Montessori sobre as crianças que, em grupos, brincavam e trocavam
entre si diferentes formas de aprendizagem, e sobre os núcleos familiares,
nos quais os mais velhos ensinavam aos mais novos o que sabiam.
No Colégio Ágora, cerca de 200 alunos estão distribuídos em cinco classes
agrupadas, além do Nido (escola de bebês, com idade entre 4 meses e 2
anos). Cada agrupada abriga duas séries. A número III, por exemplo, é
formada pelos alunos do terceiro período e da Classe de Alfabetização,
a IV é constituída pelos estudantes de 1.ª e 2.ª séries, e assim por diante.
“As classes agrupadas estão baseadas no conceito da livre opção, da responsabilidade,
do movimento e do trabalho criativo, favorecendo uma aprendizagem que
resulta da interação com o grupo. Outra vantagem é que a competição desaparece,
pois todos estão num ambiente que permite o relacionamento das atividades
específicas de cada série com o conjunto de atividades globais destinadas
ao grupo”, defende Fátima.
Desde a agrupada II, que inclui parte do segundo e terceiro períodos da
Educação Infantil, as crianças já começam a trabalhar com o Material Dourado.
Nessa fase, é feita a apresentação do que é um, dez, 100 e 1000. Eles
têm uma visão linear das quantidades, conforme define Fátima. Para esse
trabalho inicial, os professores recorrem à serpente de contas (material
original montessoriano, que se assemelha a um colar de contas amarelas).
E, assim, pouco a pouco, a Matemática vai revelando, aos alunos, o seu
lado dourado.
Colégio Ágora
Tel.: (21) 2620-4011
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