Alunos da Escola Professor Paulino Filho homenageiam Carlos Drummond de Andrade

E agora, José? Como homenagear um dos maiores ícones da literatura brasileira cujo verso era a sua cachaça? Essa foi uma das difíceis tarefas enfrentadas pelos alunos de 3.ª e 4.ª séries da Escola Municipal Professor Paulino Filho, localizada no Méier, durante a culminância do projeto político-pedagógico “Construindo Conhecimentos Através das Histórias”.

De acordo com a professora da sala de leitura, Elizabeth Brígido, o objetivo do projeto, que envolveu as turmas da Educação Infantil à 4.ª série, foi mostrar a função social da leitura e da escrita, a fim de incentivar o hábito de ler entre os alunos e reinaugurar a biblioteca da escola, que estava desativada há mais de três anos.

“Nós tivemos um grande empenho em colocar a Biblioteca Monteiro Lobato novamente em funcionamento, porque, dentro do nosso projeto político-pedagógico, a leitura se faz presente em todos os pontos da nossa história”, justifica.

A Coordenadora Pedagógica Mônica Diniz explica que, ao longo do ano, os professores trabalharam diversos títulos literários com suas turmas, e, a partir das histórias lidas e ouvidas, os pequenos escritores criaram suas próprias fábulas, dando asas às suas fantasias. Nesse período, eles tiveram a oportunidade de conhecer melhor os personagens e as obras de autores consagrados como Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato, Ziraldo, Fátima Miguez e muitos outros.

Desde a Educação Infantil até a 4.ª série, cada turma ficouincumbida de produzir, em grupo ou individualmente, suas próprias histórias, cuja única exigência era soltar a imaginação. E eles não decepcionaram. Com imagens recortadas de jornais e revistas, gliter, fitas e muito material alternativo, os grupos produziram livros de panos, livretos, cartões e cartazes.

A equipe da turma 1104 (1.ª série) – formada pelos alunos Igor, Lucas, Flávia e Raquel – criou uma paródia sobre a bola, lembrando os momentos inesquecíveis do pentacampeonato brasileiro. Já uma das turmas da Educação Infantil confeccionou um book com desenhos e mensagens falando sobre a importância da Páscoa e do nascimento de Jesus.

A pequena Maria de Fátima, também da Educação Infantil, recortou a figura de várias crianças e escreveu: “Jesus é bom porque fez a gente nascer”. Um aluno do Jardim de Infância fez a seguinte poesia: “Quero deixar pra você a verdadeira mensagem que pode mudar seu viver / Aprendi que Jesus cristo é a páscoa de verdade, crendo nele encontrarás a desejada felicidade.”

Apresentação dos Trabalhos

Biscoitos, chás, livros, mesa de leitura, bolos, mensagens, bolachas e muita emoção. Num primeiro momento, a combinação parece um pouco estranha. Mas não é. Para apresentar aos pais e à comunidade os trabalhos realizados pelos alunos, os professores organizaram um Chá Literário, cujo objetivo principal era mostrar a todos os presentes a capacidade produtiva e literária de cada criança.

No hall da escola, uma grande mesa de exposição foi montada com todos os trabalhos, desde a Educação Infantil à 4.ª série. Além de expor contos e fábulas, criados a partir da leitura dos grandes mestres da literatura, os alunos homenagearam o escritor Carlos Drummond de Andrade, pela comemoração do seu centenário, no dia 31 de outubro, e a autora Fátima Miguez, que esteve presente à solenidade contando um pouco de sua história como professora, mãe e escritora.

Homenagens ao Ilustres Escritores

As homenagens tiveram início com o coral de músicos da Organização Não-Governamental Sokagakkai Internacional. Os músicos abriram o evento tocando canções de Vinícius de Moraes, Tom Jobim e Pixinguinha. Em seguida, a professora Fátima Miguez, como gosta de ser chamada, fez uma pequena oratória sobre a sua trajetória de vida.


Ao falar de sua infância, a professora emocionou-se ao relembrar o dia em que ganhou de presente a sua primeira coleção de livros. “Eu tinha 9 anos, quando ganhei a coleção de 17 livros de Monteiro Lobato. Esse, com certeza, foi o presente que mais marcou a minha vida. Independente da idade, todas as pessoas deveriam ler Monteiro Lobato”, argumentou.

Antes de finalizar a palestra, a aluna Tamires, da turma 301, perguntou à escritora Fátima Miguez qual era a missão do professor. Fátima respondeu que a tarefa do professor é levar a luz do conhecimento àqueles que estão buscando o aperfeiçoamento do saber. “O desconhecimento é uma treva e nós, professores, temos obrigação de trazermos a luz”, advertiu.
As alunas Natália e Tamires, das turmas 301 e 401, respectivamente, homenagearam o poeta Carlos Drummond de Andrade com a apresentação de um sarau de poesias e a encenação do Diálogo de Todo Dia, um dos mais consagrados poemas do autor. Ao telefone, simulando dois ambientes diferentes, as alunas iniciaram o diálogo.

 

- ALÔ, quem fala?
- Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.
- Mas eu preciso saber com quem estou falando.
- E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.
- Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?
- Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.
- Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está no aparelho.
- Ah, sim. No aparelho não está ninguém.
- Como não está, se você está me respondendo?
- Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.
- Engraçadinho. Então, quem está fora do aparelho?
- Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo.
- Não parece. Se fosse para me servir já teria dito quem está falando.
- Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.
- Se eu conhecesse não estava perguntando.
- Você é muito perguntador. Pois se fui eu que telefonei.
- Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas.
- Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.
- Estou respondendo.
- Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?
- Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar esta informação a um desconhecido?
- Bolas!
- Bolas digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar?
Silêncio.
- Vamos, diga: com quem deseja falar?
- Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Chau.

Ao final, aplaudidas de pé pela platéia, as alunas disseram que, de todos os trabalhos realizados, aquele havia sido o mais difícil. “Homenagear uma pessoa tão ilustre, tão importante em nossas vidas, como o poeta Carlos Drummond de Andrade, não foi uma das tarefas mais fáceis, mas nós estamos felizes por termos dado a nossa contribuição na homenagem ao seu centenário, desabafaram as meninas.

Os alunos também apresentaram um esquete baseado no livro Com o Coração na Mão, de Fátima Miguez, retratando várias cenas nas quais as mãos são os pontos de equilíbrio dos trabalhos. Em uma das cenas, as crianças simularam a trajetória do pintor Cândido Portinari, mostrando que, ao pintar seus quadros, Portinari, com o coração na mão, foi capaz de sentir a alma do povo brasileiro.

Encerradas as apresentações, reunidos no hall da escola, professores, pais e alunos se confraternizaram e desfrutaram não mais dos poemas e canções dos nossos poetas, mas sim das delícias da gastronomia nossa de cada dia, consolidando assim o 1.º Chá Literário da Escola Municipal Professor Paulino Filho.

 

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Paulino Filho
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