Projeto de Língua Portuguesa trabalha produção textual e estimula espírito crítico dos alunos

“Eu gostaria de falar sobre os negros. Em primeiro lugar, eu não acho certo a exclusão dos negros, porque por fora cada um tem uma cor, mas por dentro todo mundo é igual...”

Esse é um trecho do texto A Vida de Rejeição, escrito por André Luís Carvalho, aluno da 5.ª série. A história foi lida por ele durante a abertura do Chá Literário, ponto culminante do projeto político Um Olhar Sobre a Exclusão Social, da Escola Estadual Comendador Soares, que fica localizada em Nova Iguaçu.

Lançado durante o evento, o livro Incluir os Excluídos: Um Grande Desafio Para Nossa Sociedade, editado pela professora de Língua Portuguesa Alziene Dias Lana, reúne redações e imagens produzidas pelos alunos da 5.ª série. São histórias contadas por eles, mostrando que a exclusão social está presente em diversos segmentos da nossa sociedade, mas atinge, com maior incidência, pessoas da raça negra, pobres, deficientes e todos aqueles que, segundo o julgamento social, fogem do padrão.

A dura realidade com que esses jovens convivem é refletida em seus contos e crônicas. Cada aluno recebeu um exemplar do livro, e algumas cópias foram oferecidas para os professores e pessoal de apoio da escola.

Há três anos, Alziene desenvolve esse projeto com os alunos de 5.ª a 8.ª série. Ela já publicou, em 2000, um livro com o tema Ecologia e, em 2001, confeccionou livretos sobre o destino do Lixo. O Chá Literário, culminância do projeto político-pedagógico da escola, é uma maneira de reunir a comunidade e mostrar o que os jovens têm realizado no colégio. Entre um chá e um pedaço de bolo, os convidados saboreiam as histórias produzidas em sala de aula.

A primeira etapa do trabalho foi a palestra informal em sala de aula, na qual foram discutidas questões sociais. Alziene estimulou um debate no qual os alunos definiram o que era exclusão e de que maneira ela se caracteriza na nossa sociedade. Durante este processo, a professora observou aspectos como conhecimentos lingüísticos, expressão oral e senso crítico.

Elaborada com base nas experiências pessoais de cada aluno, a produção textual foi rigorosamente corrigida por Alziene, que aproveitou os erros para tirar dúvidas ou lançar conteúdos de Língua Portuguesa. “Não mexemos nas estruturas da narrativa, apenas corrigimos, para deixar mais livre a forma de expressão”, relata.

Segundo a coordenadora, os objetivos do projeto ultrapassaram o esperado: “O retorno é muito concreto. Todos os textos e grafismos foram produzidos em sala de aula. Então, ao terminar, eu lia os escritos e me espantava: “você escreveu isso, agora, aqui na minha frente?!” O André Luís é um exemplo de adolescente que passou a ser mais interessado e integrado a partir do projeto”, garantiu. Trabalhando Não Só a Língua Portuguesa

Além de trabalhar os conteúdos de Língua Portuguesa, como Técnicas de Narração, Ortografia e Pontuação, os alunos também desenvolveram suas habilidades artísticas e motoras através de grafismos e desenhos, mostrando que o projeto não teve somente o objetivo de desenvolver habilidades cognitivas dentro da sua disciplina.

O que mais surpreendeu a equipe docente foi a revelação de que o tema mobilizou muito o emocional do aluno. “Descobri que estava trabalhando com sentimentos muito fortes.” Alziene ressaltou, ainda, o fato de resgatar a auto-estima da clientela da escola, em geral bastante carente: “Resgatamos esses jovens para a sala de aula. Os alunos se sentem produtivos ao verem um livro escrito por eles, no qual puderam manifestar suas idéias e sugestões. E nós, educadores, estamos falando não só de exclusão, mas de conscientização e solidariedade”, lembrou.

Para a coordenadora pedagógica do colégio, Raquel Portela, os projetos da escola ajudam a cumprir o grande desafio da instituição, que é formar alunos cada vez mais críticos e capazes: “Não deixamos de dar o conteúdo programático, que é fundamental, mas sempre utilizamos essas atividades de maneira experimental, a fim de que eles possam realmente desenvolver seus talentos.

Nosso objetivo é devolver os alunos para a sociedade em nível de competição, para que encontrem um espaço no mercado de trabalho. Agora, sim, estamos dando um passo para melhorar a qualidade da Educação”.

Escola Estadual Comendador Soares
Tel.: (21) 2667-7018