Por
Lídia Freire
Quanto Isaac Newton formulou a lei da Gravitação Universal, a qual decifra
por que os objetos caem no chão quando largados, não imaginou, por certo,
que sua descoberta científica pudesse ser explicada de forma divertida,
tal como uma brincadeira. Pois é o que acontece até 4 de agosto, na exposição
Força e Movimento, na Casa de Ciência – Centro Cultural de Ciência e Tecnologia
da UFRJ, localizado em Botafogo. Lá foram colocados à disposição do público
36 experimentos interativos, apresentando fenômenos físicos associados
à mecânica. Os equipamentos vieram do parque temático Tecnorama, localizado
na cidade de Águas de Lindóia, no interior paulista.
E não há criança ou adulto que não se sinta fascinado pelas engenhocas
educativas. Marina Cotrim Guimarães Martins Bohrer, de 11 anos, mora perto
da Casa da Ciência e, atraída pelo cartaz afixado na entrada, resolveu
assistir à exposição na companhia do amigo Gabriel Pereira Kaizer Júnior,
de 9 anos. Foram absolutamente sozinhos. “Gosto de exposições, principalmente
quando se pode mexer em tudo. Mas também não adianta sair mexendo se não
se entende nada.” Com o comentário, a pequena e esperta Marina, aluna
da 5.ª série do Colégio de Aplicação da UFRJ, na Lagoa, fazia referência
às explicações dos mediadores – estudantes universitários da UFRJ das
mais diferentes áreas: Pedagogia, Ciências Políticas, Artes Plásticas,
Geografia –, selecionados para “apresentar” os brinquedos aos visitantes.
Usando um linguajar adequado às várias faixas etárias, eles ajudaram a
desenvolver o raciocínio dos alunos. Andressa de Almeida Barroso, 21 anos,
atualmente cursando o 7.º período de Pedagogia, tem vivido a experiência
de maneira empolgante. “No início, foi um desafio. Uma pedagoga falar
sobre Física? Mas o grande barato é aproveitar situações do dia-a-dia
em que a Física está presente e ensinar às crianças” – diz.
Entre os
vários experimentos, alguns chamaram mais a atenção dos alunos. Foi o
caso do Gyrotec, um simulador antigravidade que deixa a pessoa de cabeça
para baixo. O outro foi um conjunto de malas de metal de tamanhos diferentes,
que, surpreendentemente, apresentavam o mesmo peso. Os jovens tiveram
a oportunidade de levantá-las e apontar qual era a mais leve e a mais
pesada. Duas, porém – a maior e a menor –, continham produto de peso idêntico,
mas alguns alunos disseram que a menor era a mais pesada. Depois de verificar
esse experimento, ficou mais fácil entender que, num espaço menor, a concentração
de determinado produto será maior. Por isso é que uma parcela dos estudantes
teve a impressão de que a mala menor era a mais pesada.
A mediadora Andressa foi muito feliz ao dar a orientação aos curiosos
adolescentes. Pediu que o grupo desse as mãos, formando uma grande roda.
Em seguida, solicitou que os alunos “se encolhessem”, ficando o mais próximo
possível, e questionou sobre o número de pessoas, se havia diminuído,
ou não, quando o círculo encolheu. Na realidade, o número – como também
o peso dos alunos – não foi alterado. Mexeu-se, sim, com o volume, que,
quando em ambiente maior, tem possibilidade de se espalhar.
 “O
importante é mostrar que a Física está muito mais presente na realidade
dos alunos do que eles podem imaginar”, afirma o professor de Ciências
Robson Porto, 37 anos e 13 de experiência, que acompanhava as turmas.
Os alunos da 8.ª série mostraram-se muito impressionados em ver, na prática,
as questões teóricas aplicadas em sala de aula, como sistema de forças,
roldanas e máquinas simples. Dessa forma, aprenderam os princípios da
Física através do raciocínio lógico e sem a ajuda de fórmulas ou teorias
mirabolantes.
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Como
pode, por exemplo, uma menina franzina suspender um colega de massa corpórea
superior? Na exposição Força e Movimento, os estudantes entenderam como
isso é possível quando pararam diante de uma cadeira, presa a uma corda
bastante comprida, que passava por várias roldanas. Pronto, aí está a
resposta: “roldanas” que multiplicam a força aplicada pelo homem, ou seja,
que diminuem a potência requerida para fazer subir uma carga. A mediadora
Andressa fez questão de lembrar que a roldana mais elementar que existe
é a do poço artesiano, que serve para fazer subir e descer o balde.
Numa exposição como essa, fica fácil arrumar voluntários, até mesmo quando
a missão não é das mais confortáveis, como, por exemplo, sentar-se numa
cama de pregos. Mas houve cobaias mirins que enfrentaram o desafio e saíram
com uma grata surpresa: a de que a experiência não era tão dolorosa assim.
A Física explica: se você calcar apenas o dedo, desde que jogando todo
o peso do corço, a pressão exercida será muito maior do que ao sentar-se,
momento em que haverá uma distribuição dessa pressão, ou seja, numa superfície
maior, a pressão diminui, e vice-versa.
 Os
alunos do Centro Educacional Mallet que visitaram a exposição talvez ainda
não tivessem se dado conta de que, ao abrir uma simples porta, entram
no maravilhoso mundo das alavancas. Um dos experimentos da exposição caiu
como uma luva para explicar esse princípio da Física. Eram três alavancas
de tamanhos diferentes, sustentadas por um ponto de apoio, nas quais foram
colocadas bolas de ferro numa das extremidades. Quando questionados sobre
qual das bolas era a mais pesada, houve unanimidade na resposta: aquela
sustentada pelo travessão mais curto. Que engano! Na verdade, todas as
bolas possuíam o mesmo peso.
A mediadora Maria Blasquez, estudante de Artes Plásticas, esclareceu a
pequena confusão, explicando que, quanto mais perto do eixo, maior é a
força despendida para provocar o deslocamento, daí a impressão de que
a bola colocada na alavanca menor era a mais pesada. Agora, experimente
fechar uma porta empurrando-a com as mãos junto à dobradiça. Sentiu a
dificuldade? É por isso que as maçanetas da porta são posicionadas no
lado contrário à dobradiça, para facilitar a nossa vida. E, felizmente,
a Física está presente em todos os momentos. Até nos mais simples, como
num simples abrir e fechar de portas.
Casa da Ciência da UFRJ
Tel.: (0xx21) 2542-7494
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