Mostrar que a fala é diferente da escrita pode acabar com alguns dos erros mais comuns


“Professora, casa é com s ou com z?” Se você leciona Língua Portuguesa para as séries iniciais do Ensino Fundamental, certamente já ouviu muitas vezes perguntas desse tipo. As dúvidas de ortografia nessa fase são comuns e o grande dilema é justamente como solucioná-las. Por muito tempo, as escolas adotaram o repeteco: o aluno escrevia a palavra dez vezes. Torcia-se para que ele tivesse uma memória de elefante, capaz de decorar as grafias corretas. Dispostos a encontrar uma forma melhor de solucionar o problema, os professores da Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Embaixador Assis Chateaubrind, em Osasco (SP), desenvolveram um novo método que vem dando bons resultados.

“O aluno pensa em várias possibilidades para representar um mesmo som”, explica a coordenadora da 2.ª série, Silvia Regina Juhas. “Quando mostramos que a escrita não é a transcrição pura e simples da fala, conseguimos eliminar muitos erros”. Para fazer essa demonstração, os professores de Osasco resolveram primeiramente descobrir quais eram os problemas mais recorrentes entre os alunos. Começaram listando as categorias de erros ortográficos em um grande mural (leia o quadro abaixo).

Em seguida, propuseram aos alunos a reprodução de uma fábula. Isso permitiu categorizar os erros mais comuns e, a partir daí, desenvolver atividades. “O quadro-mural é um diagnóstico para o professor planejar suas aulas”, diz Virgínia Balau, psicopedagoga e assessora pedagógica de várias escolas públicas e privadas. “É recomendável, inclusive, que a sondagem seja freqüente, para acompanhar a evolução dos alunos”.

O trabalho em sala de aula foi desenvolvido a partir da descoberta dos acertos. Os professores discutiam as regras ortográficas com os alunos, ajudando-os a entender o que escreviam. Dessa forma, o espaço da memória foi reservado para os casos em que havia irregularidades. Depois disso, era preciso fixar as descobertas nos exercícios e finalmente fazer com que os alunos as aplicassem nos próprios textos.

Em todas as atividades, a coordenadora Silvia orienta os professores a mostrar a diferença entre escrita e fala. “Temos sempre o cuidado de explicar que não existe um jeito certo ou errado de se expressar, mas destacamos que a escrita é uma convenção, com regras definidas”. Segundo Maria José Nóbrega, consultora da escola, o trabalho segue a recomendação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que defendem que as crianças não sejam discriminadas pelo falar. “Além disso, as atividades permitem que o aluno reflita sobre a língua e aja pensando”, conclui.

Varal de Regras

Pendure as descobertas da turma na sala de aula. A partir de exemplos propostos por você, as crianças deduzem as regras ortográficas e as escrevem em papéis, que vão para o varal. Aos poucos, você classifica os assuntos por categorias. O varal sempre cresce, pois as palavras novas são acrescentadas. A atividade só faz sentido se houver uma discussão com as crianças. “É importante pensar sobre as regras e escrevê-las”, explica Virgínia Balau. “O trabalho em grupo funciona bem porque, ao discutir com os colegas, o aluno toma consciência das normas ortográficas”.

Ouvidos Atentos

Música e ortografia podem ser uma ótima combinação. Escolha a regra que pretende trabalhar e proponha que as crianças transcrevam os versos ou completem lacunas enquanto ouvem o cantor. “Assim é possível direcionar a discussão em torno da regra que se quer reforçar”, explica Virgínia Balau. Ouvindo Leãozinho, de Caetano Veloso, os alunos aprenderam o uso do verbo no infinitivo e perceberam que a escrita é diferente da fala. Essa atividade pode ser feita ainda com outros gêneros de textos, como histórias e receitas.

Radiografia dos Erros Mais Comuns

Esta categorização de erros orto-gráficos foi elaborada pela consultora Maria José Nogueira e adaptada para a escola Assis Chateaubriand. Avalie as principais dificuldades de seus alunos. Em seguida, desenhe um quadro grande em cartolina ou papel sulfite, escrevendo os nomes dos alunos nas linhas e as categorias de erros nas colunas. Elas devem ser subdivididas em:

Transcrição da fala – Ocorre quando o aluno escreve como fala. Aqui entram os erros como redução de gerúndios, ditongos, troca de e por i etc. Exemplos: pexe/peixe, cantano/cantando.

Regularidades contextuais – O aluno não conhece as regras ligadas à posição ou à vizinhança da letra na palavra. Inclui as deficiências na representação de r, s, z etc. Exemplos: cachoro/cachorro.

Regularidades morfológicas – O aluno não conhece as regras de formação de palavras, como sufixos, plural e masculino. Exemplos: riquesa /riqueza, compramo/compramos.

Sílabas não-canônicas – São as que fogem do modelo consoante seguida de vogal, como dígrafos e grupos consonantais. Exemplos: seta/esta, secola/escola.

Segmentação de palavras – São os casos de hipossegmentação (quando não há separação da palavra onde deveria) e hipersegmentação (quando o aluno usa a separação em excesso). Exemplos: amenina, o com vidado.

Etmologia – São palavras que têm de ser memorizadas, pois o aluno desconhece sua origem. Exemplos: oje/hoje, cassador/caçador.

Nasalização – Erros na repre-sentação do som nasal. Exemplos: pano/pão, banãna/banana.

 

* Matéria cedida pela Revista Nova Escola