As perdas auditivas podem prejudicar as crianças que estão sendo alfabetizadas. A dificuldade de ouvir impede o bom aprendizado e deixa os pequenos irritados

Crianças que Ouvem Mal Não Conseguem Aprender

Estudos realizados em escolas do Rio pelos especialistas Cláudio Coelho, membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e professor do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos e pela fonoaudióloga Viviane Fontes, em crianças na faixa etária entre quatro e 11 anos, mostraram que 4,8% apresentaram perdas auditivas. O esperado seria que todas as crianças estivessem dentro dos padrões de normalidade, ou seja, ouvindo entre 25db (sons fracos).

O nível de intensidade de uma conversa entre duas ou mais pessoas está em torno de 70db, e uma criança que apresenta uma perda leve ou moderada escutará perfeitamente esta conversa, nesta intensidade. “A dificuldade maior desta criança é para a discriminação de sons de menor intensidade, em torno de 30 db, algo bem baixinho”, explica Viviane.

O Exame É Fundamental

Para o otorrino Cláudio Coelho, a criança deveria fazer o exame antes mesmo de iniciar o período de alfabetização (do Jardim III à 1.ª série), evitando assim problemas futuros. “Esse exame deve ser feito no início do ano letivo ou no momento em que os pais ou professor notem alguma mudança em relação ao aprendizado da criança”, diz o médico. E vai mais longe, afirmando que muitos pais e professores não percebem quando a criança tem uma pequena perda auditiva, identificando apenas quando a criança já apresenta uma grande perda.

As crianças, quando ingressam na escola, passam a receber diversos estímulos, os quais vãoatuar diretamente sobre o desenvol-vimento cognitivo, social e emocional. Para que isto ocorra de forma natural e correta, é necessário que haja integridade funcional de di-versos sistemas como, por exemplo, o visual, o neurológico e o auditivo. Quando algo não está funcionando adequadamente, esta criança poderá apresentar déficit em sua aprendizagem.

Trocar Letras Não É Engraçado

Para a fonoaudióloga Viviane Fontes, é na escola que os professores lidam com as dificuldades da criança em escrever e, principalmente, com as trocas de fonemas. As crianças, na fase de aquisição da linguagem, devem possuir boa audição, para que consigam realizar discriminação auditiva e assim fazer a distinção sonora adequada em determinados fonemas tais como: /t/ com /d/ (dinossauro por tinos-sauro), /f/ com /v/ (fermelho por vermelho), /g/ com /c/ (gato por cato ou guaraná por caraná), /p/ com /b/ (biscoito por piscoito ou banana por panama) entre outros. “Muitas vezes, essas trocas ocorrem em decorrência de perda auditiva, mesmo que mínima. Quanto mais cedo a criança for estimulada auditivamente, mais cedo se dará início ao processo de comunicação”, alerta a fonoaudióloga.

Respiração É Fundamental

Para Cláudio Coelho, outro fator que merece atenção na criança em idade escolar é a sua respiração (se ela não consegue respirar pelo nariz ou o faz com dificuldade). A respiração bucal é causada por diversos fatores, como: hipertrofia de adenóides e amídalas palatinas, rinite alérgica e sinusite. A obstrução nasal pode levar também à obstrução da tuba auditiva, que liga o nariz à cavidade timpânica. Quando isso acontece, é desenvolvido um tipo de otite média secretora que leva a criança a ter uma perda de grau leve a moderado.

Os especialistas alertam que o cuidado dos pais e professores deve ser redobrado. O professor deve ser um grande observador em sala de aula, pois este é o profissional que mais possuiu contato diário com a criança. Ele deve estar atento para perceber se alguma criança apresenta respiração bucal, como está o rendimento escolar, se apresenta troca de fonemas e qual o grau de dificuldade da criança em compreender o que o professor diz.

Consultoria: Dr. Cláudio Coelho, otorrino, e Viviane Fontes, fonoaudióloga
* Matéria cedida pela Minha Revista