Teleconferência discute a formação de leitores e o papel do livro no Ensino Médio

A formação de bons leitores não é só função da escola, mas um compromisso de toda a sociedade. Essa foi a principal conclusão da teleconferência A Leitura no Ensino Médio, que teve a participação de autoridades da Educação e de especialistas no assunto. Promovido pelo Ministério da Educação, o encontro, transmitido pela televisão via Embratel, teve como proposta a discussão do papel do livro nos projetos educacionais.
Mediado pela Jornalista Leda Nagle, o debate contou com a presença do Ministro da Educação, Paulo Renato Souza; do Secretário de Educação Média e Tecnológica, Ruy Berger; da Secretária Executiva do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Mônica Messemberg; do professor Carlos Emílio Faraco; do Físico e Educador Luís Carlos Menezes, do escritor Affonso Romano de Sant’anna e da escritora Marisa Lajolo. O Ministro da Educação Paulo Renato abriu a teleconferência afirmando que o estímulo à leitura está na lista das prioridades do projeto de Educação.

Literatura e Cidadania

O Secretário Ruy Berger defendeu a idéia de que um bom projeto educacional deve estar comprometido com o papel social, e para isso a leitura precisa ser contemplada: “Ela dá elementos para facilitar a compreensão do mundo e nos torna preparados para participar em sociedade. A Literatura vinha perdendo espaço no Ensino Médio por causa do tratamento que recebia nas escolas. O aluno era obrigado a ler e responder mecanicamente as perguntas. Ele simplesmente não lia, e o método assassinava um possível leitor, já que a disciplina era completamente dissociada das demais áreas do conhecimento”.
Com os Parâmetros Curriculares, o Secretário acredita em melhores destinos para a leitura: “A Literatura está presente em todas as disciplinas e os parâmetros criam condições para o aluno exercitar o ato de ler o mundo através de qualquer disciplina”.

Para o professor Carlos Emílio Faraco, um projeto educacional não pode ter sucesso sem o livro. No entanto, esse trabalho deve incluir os professores de todas as áreas, a comunidade, a mídia e as editoras. “A escola sozinha não pode dar conta disso. O professor de Física tem que ler poesia, sim, e vice-versa”, defende. “Deve-se procurar saber se os pais se preocupam em formar leitores e se estão fazendo isso de maneira correta. Acabou-se o tempo de jogar nas costas do professor de Português essa responsabilidade”.

O Físico Luís Carlos Menezes lembrou que os jornais diários estão cheios de números, que também são lidos e interpretados, e que o ato de ler vai além do texto impresso: “Chegou uma época em que as Ciências da Natureza, a Matemática e a História caminham junto com a literatura. Precisamos formar cidadãos capazes de ler não só as letras, mas também outras linguagens, como números, imagens, figuras, vídeos, pessoas”, disse o educador, que citou o personagem do filme Mentes que Brilham, o matemático esquizofrênico John Nash, que lia o mundo através dos números.

Na visão do escritor Affonso Romano de Sant’anna, a política educacional do MEC não pode salvar o país sozinha. “A questão do livro não é problema da cultura, mas da Presidência da República”, disse o escritor entusiasmado. Para ele, as autoridades deveriam colocar livros nos transportes urbanos, nos hospitais etc. O Governo deveria distribuir livros nas casas das pessoas, estimular os pais a ler para os filhos e incentivar projetos com agentes comunitários.

Affonso Romano aproveitou a oportuni-dade para fazer uma crítica aos PCNs, que não contêm a palavra Literatura, substituída pela palavra Arte: “Não é retirando a palavra Literatura que você vai incentivar a leitura. Isso só constata que as pessoas afastaram com-pletamente os olhos das letras. Algumas pessoas lêem e não conseguem assimilar as idéias do texto, apenas decifram os códigos. Ler é muito mais do que decodificar letras”, ressaltou.
Segundo a escritora Marisa Lajolo, a escola está defasada e precisa incorporar as novas mídias: “Os parâmetros prevêem a articulação da Literatura com outras disciplinas e linguagens e ampliam o conceito de leitura”, salientou.

A escritora lembrou que a escola precisa levar os diferentes elementos da vida para o cotidiano da sala de aula, como revistas, vídeos, best sellers, mas também os romances clássicos. “Estes alunos devem ter contato também com as obras do escritor José de Alencar, por exemplo, já que estão acos-tumados com linguagens muito óbvias como as novelas, em que está tudo muito explícito e não se dá margem às diversas interpretações e entendimentos. A Literatura é um instrumento para pensar a vida e é a mídia mais rica, porque permite que o leitor construa várias interpretações. Um cineasta faz um filme baseado em um determinado romance segundo seu entendimento, e um dramaturgo o constrói de outra maneira”. Todos os participantes do encontro defenderam a reciclagem do professor, que, na maioria das vezes, não está preparado para a nova realidade: “É preciso capacitar esse profis-sional, já que muitos trabalham contra a leitura por falta de preparo”.

O Ministro da Educação terminou o debate reconhecendo que muito ainda está por fazer para estimular a leitura no país. “Está chegando ao Ensino Médio uma população de setores sociais menos favorecidos. É na cultura popular que o escritor busca inspiração para construir seu texto”, afirmou o Ministro, apontando para a necessidade de reformulação do Ensino Médio no país. Afinal, o livro é o maior aliado do processo de ensino- aprendizagem.

Teleconferência com o Ministro Paulo Renato Souza
Auditório Embratel-RJ