Todas as sextas-feiras, Paulinho, do Jardim I, leva um livro para casa. Dessa vez sua mãe vai ler a história dos Três Porquinhos para ele. Na semana seguin-te, ele e todas as crianças das turmas levarão seus livros de volta e se reunirão para contar o que leram em casa para os amigos. Esse ritual faz parte do projeto Ciranda da Leitura, desenvolvido com alunos da Educação Infantil e da Classe de Alfabetização, na Escola Ciranda Cirandinha, localizada na Gávea.

“O Ciranda começa na sala de aula, passa pela família do aluno e volta para o colégio. Os livros também circulam de mão em mão”, acrescenta a supervisora pedagógica Helenita Duque, para justificar o nome do trabalho.

O objetivo do projeto é despertar na criança o desejo de aprender a ler, além de mostrar que aLiteratura Infantil pode ser uma forte aliada na introdução de todas as disciplinas. Interdisciplinar, ela prevê o ensino dos conteú-dos através dos elementos dos textos. Para se ter uma idéia, a história dos Três Porquinhos, por exemplo, pode se tornar uma aula de Matemática, a partir do número três; com o vocabulário trabalha-se Língua Portuguesa; ao recontar a história em sala de aula, a criança exercita a expressão oral; com o tipo de casas dos porquinhos trabalha-se Estudos Sociais.

A expressão gráfica também é estimulada, porque os alunos desenham a partir dos textos e imagens. “É uma forma muito rica e divertida de aprender, que dá muitas possibi-lidades de passar informações. A literatura deixa de ter um fim em si mesma, ela é um meio”, justifica a supervisora.

A primeira etapa do trabalho é separar as obras literárias de acordo com a faixa etária das turmas. Segundo a coordenadora da escola, Renata Queroga, os livros selecionados ajudam a prender a atenção da criança por serem boni-tos, coloridos e por conterem várias ilus-trações.

As crianças são levadas ao Espaço Lite-rário, onde ficam à vontade para manusear os livros, mas, antes, as professoras devem orientá-los no sentido de que o livro precisa ser conservado: “Conver-samos muito, principalmente com os menores, e pedimos para que eles tomem cuidado, não rasguem e não rabisquem, porque o livro é um amigo. Outra questão é a postura. Eles devem estar sentados de coluna ereta, precisamos adaptá-los desde cedo”, disse a coordenadora.

Nesse contexto, o aluno escolhe um livro, que será levado para casa em uma pasta com um caderno de anotações, no qual os responsáveis, que vão ler a história para o aluno, devem anotar as reações e emoções vividas pelo pequeno ouvinte. Anexo ao caderno, há um roteiro com sugestões para que os narradores possam aproveitar ao máximo o momento da leitura. Para isso, os narradores devem ler o livro antes de contar a história, além de explicar aos pequenos os vocabulários mais com-plexos ou os termos desconhe-cidos por eles.

O contador também pode drama-tizar o texto para prender a atenção do ouvinte e depois es-timular a criança a reproduzir a história ou fazer questionamentos sobre a personagem da qual ele mais gostou ou sobre a moral da história.

Além disso, o projeto também possibilita às turminhas exercita-rem suas veias artísticas. O caderno de anotações tem um espaço destinado ao grafismo e à colagem. “Os responsáveis podem perguntar o que o aluno quer desenhar para ilustrar as idéias. Essa experiência é inte-ressante, já que, às vezes, os que não verbalizam bem conseguem sintetizar as idéias do texto através das artes plásticas”, lembrou Helenita.

O roteiro também sugere que os pais criem em suas casas o cantinho da leitura, em uma parte baixa de uma estante, a fim de que os pequenos possam ter acesso ao material e, desde já, construir a sua biblioteca. No final do ano, o projeto prevê a distribuição dos livros utilizados no ano letivo aos alunos. Dessa forma, ele leva mais uma obra para engrossar o seu acervo e as professoras evitam a repetição.

As Rodas de Leitura

De segunda a quinta-feira acontecem as culminâncias do projeto na escola. Todos os dias os alunos se sentam em círculo para dar início às atividades do dia. É nessa hora que a pro-fessora pergunta quem já trouxe a pasta de casa e pede para que ele conte a fábula para os amigos. Segundo Helenita, mui-tas crianças já pedem para contar as histórias. No entanto, a educadora orienta os pais a não força-rem a criança a ouvir a história caso ela não queira, pois é fundamental que essa experiência seja prazerosa para ela, ou seja, é neces-sário que ela queira participar.


Assim que um aluno se manifesta, a professora per-gunta quem leu o livro – se foi o pai, a mãe, a avó – e pede para que a criança reconte. Nesse momento, os alunos exercitam a parte de expressão verbal e corpo-ral, já que há dramatização. As crianças sempre chegam às discussões dos hábitos, atitudes e valores éticos, que são os temas transversais. Em segundo lugar, trabalham a socialização, uma vez que os alunos estão interagindo uns com os outros naquele momento.



O projeto também contempla o relacionamento familiar e a afetividade, já que o pai, a mãe ou um outro parente leu para eles. Segundo Renata, o apro-veitamento da Literatura Infantil para transmissão de conteúdos vai depender muito da criatividade do profes-sor, pois cada educador tem uma maneira singular de uti-lizar o projeto. Afinal, são muitas as possibilidades, desde uma simples leitura à elaboração de trabalhos com sucata a partir dos
textos literários.

Os pais dos alunos da escola reconhecem a importância da família na formação de um leitor e apóiam a Ciranda do Livro. Sandra, que é mãe de Paulinho, considera o trabalho muito enrique-cedor, até porque ultrapassa os muros da escola, envolvendo a família no processo de ensino-aprendizagem: “Participamos porque sabemos que quem lê aprende melhor. O projeto já é conhecido como um dever de casa dos pais”, brinca ela.

A experiência, que é pautada nos Parâmetros Curriculares Nacionais, aposta na participaçãoda família para a construção de uma nova geração de brasi-leiros leitores, mas, para isso, é preciso que os responsáveis entendam que o brinquedo, ainda que educativo, não é a única forma de entreter a garotada, afinal os livros são muito construtivos, abrem o universo do ser humano e contribuem muito para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças.

Escola Ciranda Cirandinha
Tel.: (0xx21) 2274-3846