Sociólogos, músicos, cientistas, sanitaristas, alunos, professores..., sonhar é preciso

Por Tony Carvalho

Da fantasia à realidade. O que seria do mundo se não fossem os sonhadores? Graças a eles, a humanidade conquistou novos horizontes, desbravou fronteiras e criou uma série de invenções que outrora eram apenas sonhos, mas sem as quais, hoje, ninguém conseguiria viver.

Sob o tema “Só o Sonhador Constrói um Mundo Melhor”, o Centro Educacional Santa Mônica – Unidade Bento Ribeiro – realizou, no dia 9 de novembro de 2001, sua IV Mostra Pedagógica, envolvendo cerca de 700 alunos da Classe de Alfabetização à 4.ª série do Ensino Fundamental.

De acordo com a professora Maria Júlia Parente, supervisora pedagógica, o evento teve como objetivo despertar no alunado valores como cooperação, fraternidade, respeito, integração e socialização, incentivando-os a serem os futuros sonhadores de um mundo melhor.

Para que as crianças pudessem compreender a fundo o conteúdo das mensagens, a ferramenta mais utilizada nos trabalhos foi a dramatização. Desta forma, foram construídos vários esquetes e, em cada um deles, todo o processo do sonho – do seu início até hoje – ganhou vida. Os alunos da 1.ª série, por exemplo, retrataram o sonho de o homem ganhar asas. A obstinação de Santos Dumont e suas várias tentativas foram recriadas e, do seu sonho, outros sonhos surgiram como o desejo de conquistar o espaço sideral. Porém, até chegar à produção das cenas teatrais, foram necessárias muitas horas de pesquisa para conhecer a vida do Pai da Aviação, além de uma visita ao Centro Aeroespacial.

A mostra começou a ser desenvolvida em agosto, quando os alunos iniciaram a coleta de informações sobre a vida e a obra de cada um dos sonhadores escolhidos. Além de Santos Dumont, outros sonhadores também foram lembrados na mostra, como Tom Jobim, no projeto realizado pelos alunos da 2.ª série, que destacou os grandes cantores e compositores do século XX; Charles Chaplin, no projeto “Sonhando Através da Tela de Cinema...”; e Oswaldo Cruz, o grande médico e sanitarista brasileiro que, não obstante todas as dificuldades enfrentadas, levou seu sonho adiante.

Para incorporar seus personagens, os alunos não dispensaram uma boa caracterização e a escola ficou repleta de astronautas, cientistas, músicos e astros do cinema. No entanto, de todos os trabalhos apresentados, o que despertou maior emoção entre pais e alunos foi mesmo o esquete que retratou o sonho do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e a campanha de Ação e Cidadania Contra a Fome e a Miséria. Sob o título “O Grande Sonhador Betinho – Ajudando a Continuar seu Sonho”, os alunos da 4.ª série reproduziram no pátio da escola fragmentos do contraste social que faz parte do cotidiano das grandes cidades: de um lado, os alunos montaram um barraco, com moradores sem esperança e panelas vazias, e do outro, uma mansão com sua mesa farta.

Paralelamente à apresentação, um grupo de alunos recepcionava pais e membros da comunidade que, ao chegarem, entregavam mantimentos. A professora Maria Júlia explica que, ao criar os convites para a mostra, os alunos incluíram uma solicitação, pedindo que todos trouxessem a sua contribuição para os mais necessitados.

Ainda no período de coleta de subsídios para a montagem do esquete, os alunos visitaram orfanatos e vivenciaram o drama de muitos brasileiros. Com os pais, eles foram à Central do Brasil conhecer o restaurante popular, idealizado por Betinho. Na mostra, representaram o restaurante por meio de maquete e, até mesmo, improvisando um mini-restaurante em pleno pátio da escola. Para eles, o sonho de Betinho em acabar com as desigualdades sociais não pode parar. “Alguns pais choraram ao ver seus filhos representando o dia-a-dia dos excluídos da sociedade”, lembra a supervisora.

Segundo ela, a mostra foi uma semente que já começou a dar frutos. Por iniciativa própria, um grupo de alunos continua visitando orfanatos e distribuindo brinquedos que eles mesmos arrecadaram, ou seja, a vivência do evento foi tão forte que já ultrapassou os muros da escola. “A mostra contribuiu para despertar em todos nós o senso de responsabilidade, reflexão e ação para os problemas que nos cercam”, ressalta.